E depois do adeus?

O brexit venceu com 51,9%. Mais de um milhão de votos de diferença. Quais serão as consequências para a União Europeia do resultado do referendo britânico? Quão perigoso poderá ser o efeito dominó? Pode o Reino Unido correr risco de desagregação? E David Cameron, até quando será primeiro-ministro?

"O que está feito está feito", diz Lady Macbeth, na peça de Shakespeare, depois de o marido matar o rei Duncan. E sim, agora sim, está feito. Os britânicos votaram para abandonar a UE. Deram uma facada na Europa. Resta saber quais serão as consequências dos ferimentos para a união e para o próprio Reino Unido.

Nos últimos dias de campanha as sondagens apontavam para uma vitória do bremain, as que foram divulgadas logo após o fecho das urnas indicavam o mesmo caminho, mas tudo começou a inverter-se durante a contagem. Passava pouco das 04:30 quando as principais estações televisivas britânicas baixaram as armas e assumiram que o brexit sairia vencedor da longa contagem de votos.

Assim foi: 51,9% dos britânicos votaram a favor da saída. Só a Escócia (61,9% contra 38,1%) e a Irlanda do Norte (55,7% contra 44,2%) votaram pela permanência.

E agora, David Cameron? Durante a campanha, o primeiro-ministro britânico garantiu que se o brexit vencesse ele invocaria imediatamente o artigo 50 do Tratado de Lisboa. A partir desse momento começa a contagem decrescente de dois anos para o Reino Unido abandonar completa e definitivamente a União Europeia.

Manterá David Cameron a promessa? Foi por cumprir promessas que o Reino Unido chegou até aqui. Pressionado pela ala mais eurocética do Partido Conservador e perante o crescimento nas sondagens dos independentistas do Ukip, Cameron garantiu que se fosse reeleito nas legislativas de 2015 convocaria um referendo sobre a permanência na UE. Sim, cumpriu a promessa. O Reino Unido está fora da Europa.

Quando invocará David Cameron o artigo 50? Os partidários do brexit tentarão adiar esse momento para ganhar tempo de negociação. A UE poderá fazer pressão no sentido contrário, para mostrar aos outros estados-membros que "o que está feito está feito" e assim tentar travar um possível efeito dominó.

David Cameron apresentou a demissão. O líder do Partido Conservador sempre disse que não o faria mesmo perdendo o referendo, mas esta sexta-feira admitiu que o Reino Unido precisa de outra liderança para negociar a saída da UE. Quem será o senhor (ou a senhora) que se segue? Os analistas avançam dois nomes para a sucessão: Boris Johnson, ex-presidente da câmara de Londres e o principal rosto da campanha pelo Brexit, e Theresa May, a atual ministra da Administração Interna. Michael Gove, ministro da Justiça e outro defensor da saída, também poderá entrar na corrida.

E agora, Europa? O referendo no Reino Unido, ainda antes de o resultado ser conhecido, mostrou-se uma fonte de inspiração para os políticos eurocéticos europeus. Em Itália, Beppe Grillo, líder do Movimento 5 Estrelas - que nas eleições municipais conquistou as autarquias de Roma e Turim -, já disse que quer um referendo sobre o euro e outro sobre a UE. Em França, Marine Le Pen da Frente Nacional, que lidera as sondagens para a primeira volta das presidenciais do próximo ano, já garantiu que se for eleita chamará os franceses a referendar a Europa. Em Holanda e na Dinamarca também há movimentações no mesmo sentido. E agora, Europa? Será possível travar o contágio? Será a União Europeia capaz de estancar o sangue, de fechar a ferida aberta pela facada desferida pelo Reino Unido?

E agora, Reino Unido? Há dois anos, 55,3% dos escoceses votaram contra a independência. Em grande parte o resultado justificou-se pela vontade de continuar na União Europeia. Agora tudo indica que poderá voltar a haver um referendo na Escócia, que ontem votou 62% a favor do bremain. Também a Irlanda do Norte sentir-se-á tentada a fazer o mesmo. Durante a madrugada de contagem dos votos, Declan Kearney, membro do Sinn Féin, diz que o partido poderá promover um referendo sobre a permanência no Reino Unido ou uma eventual união com a República da Irlanda.

Sim, o que está feito está feito. Nigel Farage, do Ukip, diz que hoje é "o dia da independência". E agora? O que irá acontecer a seguir? O que fará um Reino Unido independente da Europa? O que será uma UE sem o Reino Unido?

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