Xanana Gusmão lamenta desordem mundial
"A esperança numa nova ordem mundial transformou-se na constatação de uma verdadeira desordem mundial", afirmou Xanana Gusmão, referindo-se às expetativas de que, após o fim da Guerra Fria, o mundo entraria num período de paz.
Num discurso proferido na Universidade de Hunan, Gusmão condenou as intervenções militares, "onde em nome da democracia e dos direitos humanos, foram iniciadas guerras que nunca chegaram a terminar".
O antigo líder da guerrilha timorense, que combateu a ocupação indonésia de Timor-Leste, culpou as grandes potências.
"Estes países, autoproclamados campeões da democracia, também têm as suas próprias instituições frágeis e corruptas, incapazes de se adaptarem às mudanças, que visam o equilíbrio do sistema internacional", disse.
O atual ministro do Planeamento e Investimento Estratégico de Timor-Leste falou também da chegada de refugiados à Europa, oriundos de zonas de conflitos no Médio Oriente e norte de África.
"É preciso coragem para assumir que o problema dos refugiados não é um problema europeu, mas sim um problema mundial", disse.
"Os conflitos no Corno de África e no Médio Oriente não são resolvidos porque as potências internacionais querem perpetuar o seu poderio, indiferentes ao êxodo de milhões de pessoas para a Europa", acrescentou.
O ex-Presidente de Timor-Leste lembrou que tem vindo a apelar "para que os decisores mundiais deixem de financiar guerras fora dos seus países".
"O custo da guerra é tremendo em todos os aspetos", disse, lembrando que os refugiados "só necessitam de paz para regressar".
"Alguns países tiveram que construir muros eletrificados... para barrar os milhões que, afinal, estão apenas a fugir dos palcos de guerra, na sua própria terra, onde têm terreno para lavrar e viver", disse.
Xanana Gusmão falou ainda de "um duro golpe de desconfiança" que atingiu os povos europeus, que já não sabem "exatamente no que acreditar, pondo em questão a validade ou não da própria União Europeia".
"As eleições em toda a Europa, que se mostra incapaz de pensar o seu próprio futuro, demonstram que o povo europeu tende a não confiar no sistema e nas retóricas, colocando-se à mercê das manobras de manipulação e dos exercícios de diversão, potenciando os sentimentos xenófobos", notou.
Xanana Gusmão, que celebra esta segunda-feira, em Pequim, o 15.º aniversário do estabelecimento de relações diplomáticas entre Timor-Leste e a China, enalteceu o "grande apoio e cooperação" do gigante asiático para o desenvolvimento do país.
"A China é uma grande potência que tem muito para ensinar a países como o meu sobre o seu milagre económico e desenvolvimento", disse.
Mas defendeu a independência "face à ajuda externa, financeira e mesmo institucional e em termos de recursos humanos".
"Na verdade, quem depende de outros, nunca será livre", garantiu.
"Nem sempre as ajudas internacionais são orientadas para as verdadeiras necessidades dos países recetores, já que os países doadores, os tais que despejam princípios e valores, também despejam os seus próprios superiores interesses", concluiu.