Diplomata revela que Trump fez pressão para que Ucrânia investigasse Biden

Atual embaixador na Ucrânia, William Taylor, testemunhou na audiência de <em>impeachment </em>que elemento da sua equipa escutou uma conversa telefónica em que Trump perguntava sobre as investigações a Joe Biden.
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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pediu diretamente uma investigação na Ucrânia sobre o seu rival democrata Joe Biden, revelou um diplomata dos EUA, durante as audiências públicas do impeachment que se iniciaram no Congresso. William Taylor, atual embaixador interino na Ucrânia, disse que um membro de sua equipa foi informado de que Trump estava determinado a pressionar para que a investigação avançasse de forma a obter benefícios eleitorais.

Durante uma declaração pormenorizada, William Taylor disse que um elemento da sua equipa ouviu uma conversa telefónica na qual o presidente Trump perguntou sobre como estavam "as investigações" a Biden.

A chamada foi com Gordon Sondland, embaixador dos EUA na União Europeia, que teria dito ao presidente nessa conversa telefónica a partir de um restaurante em Kiev que "os ucranianos estavam prontos para avançar". Após a ligação telefónica, o funcionário "perguntou ao embaixador Sondland o que Trump pensava sobre a Ucrânia", disse Taylor.

Na declaração, William Taylor disse: "O embaixador Sondland respondeu que o presidente Trump preocupa-se mais com as investigações a Biden do que com a Ucrânia". A conversa aconteceu no dia 26 de julho, no dia seguinte ao telefonema entre o presidente norte-americano e o novo líder ucraniano, Volodymyr Zelensky.

Quando questionado sobre Sondland, no início deste mês, o presidente Trump disse: "Mal conheço o cavalheiro". Respondendo às perguntas dos jornalistas, Trump disse: "Não sei nada sobre isso, é a primeira vez que ouço falar nisso." Acrescentou que se lembra do depoimento de Sondland, no qual o diplomata afirmou que conversou com o presidente "por um breve momento" e que Trump "não disse nada sobre o assunto, em nenhuma circunstância". Argumentou ainda Trump que não se lembra do telefonema que Taylor descreveu. "De qualquer forma são mais informações em segunda mão", disse.

A investigação de impeachment já dura há mais de um mês mas todas as audiências anteriores foram privadas, com relatos baseados em fontes que falavam à imprensa. As audiências públicas de quarta-feira foram a primeira vez em que foi possível ouvir diretamente as testemunhas.

O telefonema que William Taylor descreveu pode ser importante no processo. No meio da audiência de quarta-feira, o Comité de Inteligência da Câmara dos Representantes anunciou uma nova testemunha, agendada para fazer um depoimento à porta fechada na sexta-feira. Trata-se de um assessor chamado David Holmes e é supostamente o homem que Taylor mencionou na conversa com Gordon Sondland.

Na próxima semana, o próprio Sondland irá testemunhar durante audiência pública. Se um destes dois homens confirmar a versão de Taylor, isso poderá minar os defensores do presidente, que garantiam que Trump não estava envolvido de perto nas atividades de um canal político paralelo e "não oficial" para a Ucrânia, como Taylor definiu.

As audiências públicas do processo de 'impeachment' têm sido transmitidas em direto por vários canais televisivos norte-americanos, mas a Casa Branca já informou que o Presidente não assistiu aos trabalhos no Congresso, porque "está a trabalhar".

William Taylor e George Kent, funcionário sénior do Departamento de Estado foram as duas primeiras testemunhas nas audições públicas do inquérito para destituição, em que o Partido Democrata procura demonstrar a sua tese de que Trump abusou do exercício de poder no exercício do cargo.

Nos trabalhos, William Taylor apresentou factos que estão na base da argumentação para o inquérito para a destituição: a retenção de cerca de 400 milhões de dólares (quase 400 milhões de euros) de ajuda militar à Ucrânia, até que o Presidente desse país da Europa de Leste aceitasse investigar a investigar a atividade da família de Joe Biden, ex-vice-Presidente e atual rival político do Presidente norte-americano.

Na sua declaração inicial, o presidente do comité de inteligência da Câmara de Representantes, Adam Schiff, mencionou o papel relevante de Rudolph Giuliani, advogado do Presidente, na pressão sobre o Presidente ucraniano para que investigasse um alegado caso de corrupção envolvendo um filho de Joe Biden, criando um canal diplomático paralelo e ilegal nas relações com outros países.

Schiff criticou ainda Trump por se ter recusado a cooperar com o inquérito para a destituição, dizendo que o Congresso considerará se houve obstrução de justiça por parte da Casa Branca, o que poderá constituir novo terreno para o processo de 'impeachment'.

Sobre o caso ucraniano, William Taylor disse que Donald Trump tinha uma política para com a Ucrânia mais competente do que aquela conduzida pelo seu antecessor, Barack Obama, mas que o atual Governo deitou por terra essa estratégia, por razões políticas domésticas, referindo-se ao pedido de investigação a Joe Biden.

Taylor disse que ficou surpreendido por Trump ter ordenado uma suspensão ao apoio financeiro à Ucrânia, que poderia ser por tempo indeterminado, para garantir que o Governo ucraniano investigaria o caso de corrupção envolvendo Hunter Biden, filho de Joe Biden, atual candidato nas eleições primárias do Partido Democrata.

O principal diplomata norte-americano na Ucrânia explicou que vários membros da administração tentaram convencer Trump a levantar a suspensão da ajuda financeira à Ucrânia, mas que o Presidente demorou muito a autorizar a transferência de dinheiro (que apenas ocorreria um mês depois do telefonema ao Presidente ucraniano).

Donald Trump tem negado sempre qualquer irregularidade, falando em caça às bruxas. Joe Biden, ex-vice-presidente de Barack Obama, espera concorrer contra Trump nas eleições presidenciais do próximo ano. É ilegal pedir ajuda a entidades estrangeiras de forma ser beneficiado para vencer uma eleição. O atual presidente é acusado de reter ajuda militar dos EUA à Ucrânia, com o fim de pressionar o novo presidente do país europeu a anunciar publicamente um inquérito a Biden sobre corrupção.

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