Detenções, críticas e caos após proibirem entrada de muçulmanos
"O meu pai tem 71 anos e preparava-se para embarcar no Qatar num avião com destino a Los Angeles para me vir visitar quando o mandaram se volta para o Iraque. Os responsáveis americanos disseram-lhe que Trump cancelou todos os vistos", escreveu no Facebook Mohammed Al Rawi, antigo jornalista do Los Angeles Times, formado na Universidade da Califórnia. A mensagem nesta rede social surgia poucas horas depois de Donald Trump assinar um decreto presidencial a suspender durante 90 dias as entradas nos EUA de cidadãos oriundos de sete países de maioria muçulmana - Iraque, Síria, Irão, Líbia, Somália, Sudão e Iémen.
E o pai de Al Rawi não foi o único afetados pela decisão de Trump. Segundo o New York Times, não era ontem ainda possível estabelecer um número de pessoas impedidas de entrar nos EUA, mas dava os exemplos de dois iraquianos detidos no aeroporto John F. Kennedy à chegada a Nova Iorque. Um dos homens, identificado como Hameed Khalid Darweesh, trabalhou durante dez anos para o governo americano no Iraque. O outro, Haider Sameer Abdulkhaleq Alshawi, regressava a Nova Iorque onde vivem a mulher, funcionária de uma empresa de segurança privada americana, e o filho pequeno.
Quando os advogados dos dois homens (contratados por grupos de defesa dos direitos civis e grupos de apoio aos refugiados), que chegaram em voos separados à América, perguntaram com quem tinham de falar para saber do destino dos seus clientes, a resposta dos guardas fronteiriços terá sido esta: "Liguem ao senhor Trump!"
A ordem executiva assinada pelo presidente faz parte de um plano para vetar imigrantes e refugiados de forma a manter os "terroristas islâmicos radicais" longe dos Estados Unidos. Além de suspender as entradas de nacionais destes sete países - mesmo os que têm autorização de residência nos EUA -, o decreto prevê a proibição de entrada de refugiados sírios de forma indefinida e a suspensão por 120 dias do programa de admissão de refugiados na América. Trump abre exceções para portadores de vistos diplomáticos e funcionários das Nações Unidas, bem como para minorias religiosas, como os cristãos, perseguidos naqueles países muçulmanos. O novo inquilino da Casa Branca baixou ainda de 110 mil para 50 mil o limite de refugiados que os EUA prevêm receber este ano.
"Não os queremos cá", disse Trump sobre os terroristas islâmicos durante a assinatura do decreto presidencial no Pentágono. O presidente americano explicou que "queremos garantir que não estamos a aceitar no nosso país a mesma ameaça que os nossos soldados enfrentam lá fora". Para justificar a sua decisão de banir pessoas oriundas de países de maioria muçulmana, Trump recordou os piratas do ar do 11 de Setembro. Mas curiosamente estes eram sobretudo naturais da Arábia Saudita, mas também dos Emirados Árabes Unidos, do Egito e do Líbano. Todos eles países que ficam agora de fora da lista dos que estão proibidos de entrar nos Estados Unidos.
Dos grupos de defesa dos direitos cívicos às Nações Unidas, de governos de países europeus como a França ou a Alemanha, passando por grandes empresas como a Google ou pela Nobel da Paz Malala Yousafzai, a decisão de Trump atraiu todo o tipo de críticas.
Enquanto pessoas com passaportes dos países afetados estão a ser aconselhadas a não viajar para os Estados Unidos, o grande problema eram todos aqueles que já se encontravam a caminho quando o decreto foi assinado, multiplicando-se casos de pessoas impedidas de entrar - no avião ou no país. E dando origem á detenção de um número ainda indeterminado de refugiados pelas autoridades americanas.