Destino da Europa está em jogo
Para a chanceler alemã joga-se o tudo ou nada na questão migratória na "mãe de todas as cimeiras"
"A Europa tem muitos desafios, mas o que se relaciona com a questão da migração pode decidir o destino da União Europeia." A frase, da chanceler Angela Merkel, proferida aos deputados alemães, marca o tom do Conselho Europeu que hoje começa em Bruxelas. A dirigente alemã quer soluções multilaterais, mas o pessimismo domina e ninguém espera a chegada a um consenso.
Merkel advoga a criação de uma "coligação de voluntários" entre os países da UE para concluir acordos que permitam a distribuição dos migrantes do primeiro país onde foram registados.
Já se sabe que os países de Visegrado (Hungria, Polónia, República Checa e Eslováquia) opõem-se à entrada de migrantes nos seus Estados.
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"Ou encontramos uma solução para que, em África e não só, as pessoas sintam que somos guiados por valores, e que defendemos o multilateralismo e não o unilateralismo, ou ninguém acreditará nos valores que nos tornaram tão fortes", disse Merkel.
A política migratória do novo governo italiano, ao recusar a entrada de navios de organizações não governamentais, e ao ameaçar deportar meio milhão de migrantes em situação irregular, desencadeou uma série de tensões diplomáticas, à vista no caso do navio Aquarius, ou na cimeira inconclusiva do fim de semana, em que participaram líderes de 16 países.
Quando Merkel afirma que "muitas coisas estão em jogo", não se refere apenas ao futuro das relações europeias. O governo de coligação a que preside está em crise. O ministro do Interior e líder da CSU, Horst Seehofer, quer aprovar uma nova política migratória mais restritiva, mas a governante opõe-se. Seehofer deu um prazo até ao fim do mês para se chegar a um acordo.
O presidente do Conselho, Donald Tusk, alertou na véspera que o tempo está a esgotar-se para os chefes de governo e de Estado garantam aos cidadãos que podem controlar a migração antes que os populistas ganhem o debate.
"Há cada vez mais pessoas a acreditar que apenas uma autoridade forte, antieuropeia e antiliberal, com uma tendência autoritária, é capaz de deter a onda de migração ilegal", escreveu o polaco aos líderes. "A parada está muito alta e o tempo é curto", conclui.
Mãe de todas as cimeiras
Um alto funcionário de Bruxelas disse à AFP que o Conselho que decorre até amanhã é a "mãe de todas as cimeiras" devido ao número de temas relevantes na agenda.
Além da migração, há propostas de reforma dos mecanismos da moeda única, tendo em vista o restabelecimento da confiança no euro e que se evitem novas crises da dívida. O plano de se criar um orçamento para a zona euro, do francês Emmanuel Macron, foi para já posto de lado.
O brexit, e em especial a falta de progressos quanto à questão da fronteira irlandesa e os planos britânicos para as relações posteriores à saída do Reino Undo da UE, vão merecer também a atenção dos líderes europeus.