A União Europeia lançou ontem as bases de um debate sobre o futuro da Europa enquanto dona do "seu próprio destino". Numa cimeira em La Valletta, Malta, os líderes europeus insistiram na ideia de uma "Europa unida", como forma de definir o seu papel no mundo..O primeiro-ministro português, António Costa, disse que durante esta cimeira dos líderes dos 28 se falou "bastante" da relação entre a Europa e os EUA e "foi bom ver" que há unidade no bloco europeu e uma "vontade comum de prosseguir uma excelente relação de amizade com os Estados Unidos, com o povo americano, mas também uma atitude de firmeza clara relativamente à administração [de Donald] Trump"..Nos próximos meses os líderes europeus prometem refletir sobre o futuro da UE depois da saída do Reino Unido. A esta agenda juntou-se agora a gestão do relacionamento europeu com a nova administração norte-americana. As conclusões deste trabalho deverão ser apresentadas no encontro marcado para 25 de março, no aniversário do Tratado de Roma, que, em 1957, instituiu a Comunidade Económica Europeia (CEE)..Passados 60 anos, "a Europa tem hoje o seu destino na sua própria mão", afirmou a chanceler alemã, Angela Merkel, reagindo à nova retórica dos EUA, depois da eleição de Trump. Para Merkel é essencial que, no futuro, a UE possa "fomentar as relações transatlânticas". Por agora, a chanceler defende que "quanto mais clareza houver, na definição do papel da Europa no mundo, melhor"..De acordo com fontes diplomáticas, ouvidas pelo DN em Bruxelas, alguns Estados chegaram a esta cimeira "muito cautelosos" em relação ao posicionamento da UE, para "não melindrar [os EUA]", deixando mais ambíguos os contornos de uma posição comum em relação à administração Trump..Por seu lado, o presidente francês, François Hollande, considerou "normal que os países da UE falem com os EUA", mas "esses (...) devem entender que não há futuro com Trump se não for decidido em conjunto e em solidariedade com os parceiros europeus"..Diplomatas europeus acreditam que o governo britânico tentará ser uma ponte para o diálogo com Trump, procurando conseguir compromissos dos EUA, para fortalecer a sua posição durante as negociações para o brexit..Num recado a Trump, a chefe da diplomacia europeia, Federica, Mogherini, disse acreditar que a Europa será capaz de mostrar que "o caminho é a cooperação e a parceria", já que na UE "não acreditamos em muros e em proibições"..Os líderes europeus comprometeram-se ainda com um "ambicioso" plano de apoio às autoridades da Líbia, para quebrar a rota do Mediterrâneo central, onde foram detetadas "181 mil chegadas de imigrantes ilegais" em 2016. "Sem demora", a UE comprometeu-se a fornecer "equipamento, formação e apoio para a guarda costeira e para outras agência relevantes", na Líbia..As novas medidas são um "complemento" para o Plano de Ação de La Valletta, de 2016, que conta com um fundo de 1800 milhões de euros de dinheiro europeu e 152 milhões dos Estados membros. Bruxelas vai mobilizar "200 milhões de euros" para o arranque imediato do plano.