Corbyn sugere pedido de desculpas de Isabel II sobre bens offshore

Porta-voz da rainha refere que esta paga impostos dos seus rendimentos. Investimento de 8,4 milhões feito em 2005
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"Bem, qualquer pessoa que esteja a colocar dinheiro em paraísos fiscais para evitar impostos na Grã-Bretanha - e obviamente têm de ser feitas investigações - deve fazer duas coisas: não apenas pedir desculpas por isso, mas também reconhecer o que isso faz à nossa sociedade". Esta foi a resposta dada ontem por Jeremy Corbyn, o líder dos trabalhistas, quando questionado se Isabel II deveria pedir desculpas por ter colocado dinheiro numa offshore.

Mais tarde um porta-voz do líder trabalhista tentou emendar as declarações de Corbyn, dizendo que este não defendeu um pedido de desculpas da rainha, mas que os seus comentários tinham um tom mais geral. "Ele disse que quem põe dinheiro num paraíso fiscal para evitar pagar impostos deve fazê-lo e que essas pessoas deveriam reconhecer o dano causado pela evasão à sociedade".

Os paradise papers revelaram o Ducado de Lancaster - propriedade privada da rainha que, no final de março, tinha bens no valor de 519 milhões de libras - investiu em 2005 7,5 milhões de libras (cerca de 8,4 milhões de euros) num fundo sedeado nas ilhas Caimão, que por sua vez colocou parte deste dinheiro em vários negócios, como no retalhista britânico BrightHouse, criticado por explorar milhares famílias pobres. Pelo menos entre 2004 e 2010, o ducado também investiu num fundo das Bermudas, referem ainda os documentos.

Uma porta-voz de Isabel II disse ao The Guardian - um dos parceiros do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação, que está a divulgar estes documentos, ressalvando que a maioria dos factos descritos não é ilegal - que o ducado tem um investimento no fundo das ilhas Caimão, mas não estava a par do investimento na BrightHouse. Esta fonte acrescentou que a rainha paga voluntariamente impostos dos seus rendimentos provenientes do ducado e dos seus investimentos. "Não estamos cientes de quaisquer vantagens fiscais para o ducado em investir em fundos offshore. A política de investimento do ducado é baseada em conselhos e recomendações dos nossos consultores de investimentos e alocação de ativos, em vez de estratégia fiscal", afirmou ao The Guardian o diretor financeiro do ducado, Chris Addock.

Na opinião do especialista da BBC assuntos reais, Nicholas Witchell, esta revelação sobre os investimentos de Isabel II "não pode ser útil em termos da reputação geral de alguém que tem sido tão escrupulosa, que é conhecida há tantos anos por ter ser um exemplo impecável em todos os aspetos da sua vida".

Entre os nomes com investimentos offshore já divulgados por estes paradise papers estão figuras como os secretários do Comércio, Wilbur Ross, e de Estado, Rex Tillerson, dos Estados Unidos, a rainha Noor da Jordânia, as estrelas pop Bono e Madonna, o cofundador da Microsoft, Paul Allen, e o fundador do eBay, Pierre Omidyar. Na lista está também a empresa mais rentável norte-americana, a Apple.

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