Confirmada sexta vítima mortal. "Foi como Chernobyl. Estava tudo coberto de cinzas"
Estavam 47 pessoas na ilha quando, na segunda-feira, o vulcão White Island, na Nova Zelândia, entrou em erupção. A maioria são turistas australianos, mas estavam também chineses, britânicos, norte-americanos, alemães, neozelandeses e um cidadão da Malásia. Há seis mortos confirmados e oito pessoas estão desaparecidas, mas é pouco provável que sejam encontradas com vida. "Não encontramos sobreviventes", afirmou um socorrista depois de ter estado no local. Encontrou um cenário de "devastação" que jamais vai esquecer.
"Foi como Chernobyl. Eu vi a minissérie. Estava tudo coberto de cinzas", afirmou à TVNZ Russel Clark, um dos paramédicos que foi enviado de helicóptero para a zona do vulcão. "Só posso imaginar o que terá sido - as pessoas não tinham por onde fugir", considerou o socorrista, "chocado" com o que encontrou.
A primeira-ministra neozelandesa destacou o heroísmo dos elementos que fizeram parte das equipas dos quatro helicópteros que aterraram na ilha logo após a erupção. "Tomaram uma decisão incrivelmente corajosa, em circunstâncias extraordinariamente perigosas, na tentativa de resgatar pessoas", enalteceu Jacinda Arden.
Muitos dos turistas entraram em pânico e fugiram em direção ao mar, como contou Geoff Hopkins, que, na altura em que tudo aconteceu estava a sair da ilha num barco de turismo neozelandês.
Apesar da enorme nuvem de cinzas que estava a ser expelida pelo vulcão, o barco aproximou-se da costa quando se aperceberam que muitos turistas estavam a atirar-se à água. "Não acredito que alguém que tenha conseguido sair não tenha ficado gravemente ferido", afirmou Hopkins ao New Zealand Herald.
Foi uma das pessoas que ajudou a resgatar turistas, a maioria com queimaduras bastante graves. A viagem à ilha tinha sido uma prenda da filha. Os dois têm formação em primeiros socorros, conhecimentos que colocaram em prática à medida que o barco se enchia de sobreviventes.
Explicou que os únicos que conseguiram sair ilesos foram os que se encontravam no grupo do helicóptero, que ficou danificado e totalmente coberto de cinzas. "Estavam todos horrivelmente queimados. As pessoas estavam de calções e t-shirts, havia muita pele exposta que estava bastante queimada", lembra Hopkins. "Também havia grandes queimaduras por baixo da roupa das pessoas. As roupas pareciam bem, mas quando as cortávamos... nunca vi bolhas assim". Ouviam-se muitos gritos de dor, recorda.
Para tentar aliviar o sofrimento, deitaram água fresca que havia no barco sobre os corpos queimados. Resgataram 23 pessoas, cinco das quais estavam em estado crítico. No caminho até ao continente, paramédicos de um barco da Guarda Costeira ajudaram depois os feridos que tinha sido resgatados pela embarcação de turismo.
Ao longo da viagem até à costa, alguns sobreviventes entraram em "choque e estavam com frio" por estarem molhados com a água fresca que foi usada nas queimaduras. Nessa altura, Hopkins viu pessoas a despirem as suas roupas para manter os feridos aquecidos.
Chegados a terra, os sobreviventes foram encaminhados para os hospitais, Hopkins ligou para a mulher a informá-la que ele e a filha estavam bem. "O mais difícil é que sei que perdemos pessoas. Será que havia algo que poderia ter feito de diferente para salvar alguém?, questiona-se, em declarações ao jornal neozelandês.
"Muitos sofreram lesões por inalação, danos nos pulmões", referiu Pete Watson, porta-voz do Ministério da Saúde.
"Para todos aqueles que perderam ou não sabem do paradeiro de amigos e familiares, partilhamos da vossa dor e tristeza", afirmou a primeira-ministra da Nova Zelândia. "A escala desta tragédia é devastadora", disse Jacinda Arden no parlamento.
O chefe do governo da Austrália, Scott Morrison, afirmou que entre as vítimas mortais poderão estar três australianos e que mais oito cidadãos estarão desaparecidos. "É um dia muito difícil para muitas famílias australianas, cujos entes queridos foram apanhados nesta terrível tragédia", afirmou o governante aos jornalistas.
O australiano Brian Dallow, de Adelaide, faz parte de uma dessas famílias. Não tinha notícias do filho, Gavin, da nora, Lisa, e da filha de ambos. "Tudo o que sabemos é que eles estavam na ilha e foram dados como desaparecidos. Até quanto sabemos, eles não regressaram ao navio", disse à agência France Press.
As autoridades indicaram que 31 pessoas estão hospitalizadas, devido às feridas e queimaduras causadas na sequência da erupção, que lançou rochas e uma grande quantidade de cinzas. Três dos feridos já tiveram alta, acrescentaram. 21 pessoas estão em estado grave.
"É possível que nem todos os pacientes sobrevivam", disse o porta-voz do Ministério da Saúde, Pete Watson, onde observou que 27 dos internados sofrem queimaduras em mais de 30% do corpo.
As autoridades estão a concentrar todos os esforços, em conjunto com especialistas em geologia, a estudar como entrar novamente na ilha para recuperar os corpos das oito pessoas que continuam desaparecidas.
"Não podemos dizer a 100% que todos estão mortos, mas há fortes indícios de que não resta ninguém vivo na ilha", disse John Tims, vice-comissário de polícia da Nova Zelândia, em conferência de imprensa.
A erupção, ocorrida às 14:11 de segunda-feira (01:11 em Lisboa), libertou uma espessa nuvem de fumo branco, a uma altura de 3,6 quilómetros.
Imagens captadas por uma câmara no local mostraram um grupo de meia dúzia de pessoas a andar pela cratera, alguns segundos antes da erupção do Whakaari.
A 3 de dezembro, o grupo de controlo de atividades geológicas da GeoNet alertou que o vulcão "entrou num período de atividade eruptiva", embora tenha apontado que a situação não representava "um perigo direto para os visitantes". De referir que as excursões diárias levam à ilha mais de 10 mil visitantes todos os anos.
A polícia fez saber esta terça-feira que estão a ser investigadas as mortes decorrentes da erupção do vulcão, mas esclareceu, mais tarde, que não se tratava de uma investigação criminal.
* Com Lusa