Comic-Con da política junta democratas e republicanos em Los Angeles

A terceira edição da Politicon começa hoje com debates incendiários que incluem o novo diretor de comunicações da Casa Branca, a provocadora Ann Coulter e a polémica Chelsea Handler. Entre muitos outros.
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Anthony Scaramucci ainda mal aqueceu a cadeira do novo gabinete em Washington D.C. e já vai pôr-se a caminho de Los Angeles, para enfrentar uma audiência belicosa na convenção política menos convencional dos Estados Unidos. Scaramucci, o novo diretor de comunicações da Casa Branca, é uma das maiores atrações da Politicon, a convenção que acontece neste fim de semana em Pasadena, Los Angeles. A sua nomeação provocou a demissão do anterior porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, e o seu estilo nova-iorquino dará um toque combativo aos debates. Esta é a terceira edição da conferência e espera-se que seja a mais crispada e incendiária de sempre.

Chelsea Handler, a comediante e apresentadora tornada ativista com a eleição de Donald Trump, terá um frente-a-frente com Tomi Lahren, a jovem loira republicana que ganha a vida a chamar "flocos de neve" aos opositores de Trump e "ratos" aos jornalistas da CNN. Também por lá andará Ann Coulter, a enfant terrible dos conservadores que se tornou famosa por declarações como "o interesse crescente em futebol só pode ser um sinal de decadência moral" (o futebol como o conhecemos não é muito forte nos EUA) e, "se tirássemos às mulheres o direito de voto, nunca mais teríamos de nos preocupar com um presidente democrata".

Todas são grandes influências nos seus milhões de seguidores e encostaram-se mais aos extremos desde a tomada de posse de Donald Trump como presidente, há seis meses. O ambiente social e político no país está a ferro e fogo. Os republicanos controlam as duas câmaras do Congresso e a presidência, mas ainda não conseguiram passar nenhuma legislação relevante. Os democratas estão em minoria e sem perspetivas de conseguirem obstruir a agenda do presidente, desde o desmantelamento do Obamacare ao muro com o México. A investigação à interferência da Rússia nas eleições e possíveis ligações dos russos à campanha de Trump enche as páginas dos jornais, os podcasts de política e os noticiários televisivos. A nação está dividida e amarga, trocando acusações nas redes sociais e organizando marchas de protesto e contraprotesto.

O que torna a Politicon diferente é que é uma convenção não partidária, financiada por um investidor privado, que se apresenta como um cruzamento entre a Comic-Con e o South by Southwest da política. Tem analistas, apresentadores de televisão, comentadores, estrelas de Hollywood, criadores de podcasts, políticos de carreira e uma audiência mista, que abrange todos os campos das posições políticas no país. Nos dois primeiros anos, teve mais de oito mil participantes. Os bilhetes custam 50 dólares por dia ou 80 dólares pelo passe de dois dias - um preço muito razoável para a parada de nomes que vai passar pelo centro de convenções de Pasadena. Desde Jake Tapper da CNN à atriz da série Betty Feia America Ferrera, da comentadora republicana anti-Trump Ana Navarro ao antigo conselheiro de Bill Clinton, Paul Begala. Até o fundador da empresa de antivírus McAfee, John McAfee, vai passar por lá para dar a sua opinião, e haverá um debate com o elenco da série Veep, uma comédia da HBO com Julia Louis-Dreyfus a fazer de presidente dos Estados Unidos.

Os nomes dos painéis revelam o quanto este evento é não convencional e potencialmente incendiário. "Da Rússia com Trump", "Trump: génio ou lunático?", "Sexo, presidentes e empregadas", "WTF: o painel da Hillary", "Ninguém está acima da lei", "George Washington está furioso", "Nação da erva" ou "A lixeira Trump" são alguns dos mais sugestivos. Há também discussões mais abrangentes, como um debate sobre a causa LGBTQ, a epidemia de viciados em opioides que grassa na América e a estratégia de comunicação da Casa Branca.

A Politicon demonstra quanto da atual política norte-americana é tratada como um espetáculo de entretenimento. As grandes cadeias televisivas, não interessa qual o seu posicionamento, vão buscar os analistas mais agressivos e controversos para comentarem a atualidade. Os segmentos são montados com textos dramáticos e banda sonora à filme de Hollywood. Existe um ciclo de polémica que se autoalimenta e é, em grande parte, derivado da conduta do próprio presidente, que, antes de se tornar ainda mais famoso pelo reality show The Apprentice, já aparecia em capas de revistas nos anos 80 com declarações inflamatórias e uma relação de amor-ódio com a imprensa.

Esta convenção, fundada pelo promotor de concertos Simon Sidi, procura ao mesmo tempo refletir e desmontar essa tendência para misturar a política com o entretenimento, numa era de clips virais e guerras para ver quem diz a coisa mais controversa. Numa altura em que está tudo tão polarizado, o mix de posições e personalidades tem uma grande vantagem: pôr os dois lados a conversar.

Los Angeles

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