Cocaine Cowboy. Comparsa de Pablo Escobar começa nova vida na Alemanha
Um dos mais conhecidos "cocaine cowboys", ex-braço direito de Pablo Escobar no cartel de droga de Medellín, chegou ontem à Alemanha depois de ter sido libertado de uma prisão norte-americana.
Carlos Lehder chegou a Frankfurt num voo regular de passageiros, escoltado por dois delegados e entregue a funcionários alemães.
Com ascendência alemã, o colombiano Carlos Lehder tinha visto a sentença de prisão de perpétua mais 135 anos ser comutada depois de ter começado a cooperar com as autoridades.
Aos 70 anos, e depois de ter passado 33 anos numa prisão dos EUA, Lehder foi extraditado e não poderá voltar a ser acusado pelos crimes de que foi condenado.
Com 15 anos Lehder foi viver para Nova Iorque. Aos 23, tendo enveredado pelo crime, foi preso pelo furto de um automóvel.
Uma vez na prisão conheceu George Jung, com quem formou uma sociedade criminosa para contrabandear cocaína da Colômbia para os EUA.
A atividade era tão lucrativa que, ainda nos anos 70, estabeleceu com Pablo Escobar uma base para aviões que transportavam a droga na ilha privada de Norman's Cay, nas Bahamas, a 340 quilómetros da costa da Florida.
Conhecido como Crazy Charly, Lehder não era doido, segundo Jung: "Ele não era louco... no entanto, tinha delírios. Ele adorava John Lennon e Adolf Hitler ao mesmo tempo. Isso devia ter sido um sinal para mim", disse em entrevista à revista High Times. O mal de Lehder, explica, foi a ganância e a ambição.
Lehder chegou a pensar tomar Belize (o país da América Central) e, ao mesmo tempo, passou a contratar pilotos de avião mais baratos. "E no final foi um piloto que ele contratou que denunciou toda a gente", disse Jung, que foi imortalizado no cinema por Johnny Depp no filme Blow.
Uma operação das autoridades norte-americanas em 1980 em Norman's Cay força Lehder a regressar à Colômbia, tendo terminado as operações com Jung.
Lehder foi capturado em 1987 pela polícia colombiana numa quinta, alegadamente após uma denúncia de Escobar, e extraditado para os EUA, que estava então a liderar uma campanha contra os traficantes de droga sediados na Colômbia.
Uma vez nos EUA foi condenado a prisão perpétua mais 135 anos de prisão. A sua pena de prisão foi reduzida depois de ter testemunhado contra o antigo líder panamiano Manuel Noriega, que tinha relações com o cartel de Medellín e permitiu que este expedisse cocaína através do Panamá. Lehder foi então colocado num programa de proteção de testemunhas na Florida.
A filha de Lehder, Mónica, disse à revista colombiana Semana que lhe tinha sido diagnosticado cancro e que seria tratado por uma instituição de caridade alemã, uma vez que não tinha familiares no país.
O seu advogado, Oscar Arroyave, disse à Associated Press que Lehder não tinha qualquer interesse em regressar à Colômbia e que as autoridades alemãs o ajudaram a permitir a sua instalação em Berlim.
Apesar de ter a cidadania alemã, o antigo traficante nunca esteve na Alemanha.
Crê-se que o cartel de Medellín forneceu cerca de 80% da cocaína contrabandeada para os EUA nas décadas de 70 e 80, tendo construído um império avaliado em 30 mil milhões de dólares.
Escobar - cuja parceria com Lehder foi retratada na série de sucesso Netflix Narcos - foi morto num tiroteio com a polícia em Medellín, em 1993, quando tentava evitar a extradição para os EUA.