Campo de Kamouna atacado um dia após nova trégua
As imagens divulgadas nas redes sociais mostram tendas queimadas no campo de deslocados de Kamouna, na província síria de Idlib, junto à fronteira com a Turquia, depois de o local ter sido alvo de um bombardeamento aéreo. Este terá feito dezenas de mortos, segundo testemunhas locais e responsáveis do campo. A dúvida ao final do dia residia em saber quem fora o responsável pelo ataque - que surge um dia após a extensão do cessar-fogo -, com algumas fontes a culparem a aviação do regime sírio ou os aviões russos que as apoiam.
Desde fevereiro que vigora na Síria um cessar-fogo, violado inúmeras vezes. Mas na quarta-feira o exército do presidente Bashar al-Assad e os grupos rebeldes não ligados ao Estado Islâmico chegaram a um acordo para a extensão da trégua em torno da cidade de Aleppo, após terem sido pressionados pela Rússia e pelos EUA. As Nações Unidas já alertaram que se o cessar-fogo nacional continuar a ser violado, será uma "catástrofe" que irá empurrar mais 400 mil pessoas para a fronteira com a Turquia.
O campo de Kamouna fica a dez quilómetros da fronteira turca e terá sido atingido duas vezes durante o bombardeamento. "Houve dois ataques contra o campo que acolhe refugiados de Aleppo e Palmyra. Dizem-me que há várias tendas em chamas", afirmou à Reuters o ativista Abu Ibrahim al-Sarmadi. Quanto ao número de vítimas, os Comités de Coordenação Locais, uma rede de militantes da oposição, fala em 30, enquanto o Obseratório Sírio dos Direitos Humanos, sediado no Reino Unido, aponta para 28.
Desde o início da guerra civil, em 2011, já morreram mais de 250 mil pessoas na Síria. O conflito que começou com o objetivo de derrobar Assad e se tornou numa guerra de todos contra todos, fez ainda 4,8 milhões de refugiados e 6,5 milhões de deslocados internos.
Saída de Davutoglu
Na Turquia, o dia foi marcado pelo afastamento do primeiro-ministro Ahmet Davutoglu. O próprio anunciou ontem que vai deixar a liderança do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP) e, logo, do governo. Davutoglu submete-se assim aos desejos do presidente Recep Tayyip Erdogan de dar mais poderes ao chefe do Estado.
Num discurso em que defendeu o seu currículo, mas reafirmou a lealdade a Erdogan, Davutoglu explicou que não se recandidata à liderança do AKP no congresso extraordinário do partido convocado para 22 de maio. "Digo aos nossos membros: até hoje liderava-vos, a partir de agora estou ao vosso lado".
O afastamento de Davutoglu gerou preocupação nos parceiros da NATO, apreensivos quanto a nova instabilidade política na Turquia, num momento em que a Europa depende da ajuda de Ancara para travar a vaga de refugiados e na luta contra o Estado Islâmico na Síria e Iraque. "É muito cedo para saber que implicações" a saída de Davutoglu terá no acordo entre a Turquia e a União Europeia, admitiu ontem Federica Mogherini, a chefe da diplomacia da UE. Já os EUA garantem que o afastamento do primeiro-ministro turco não afetará a cooperação na luta contra os jihadistas.
A decisão de Davutoglu surge após semanas de tensão com Erdogan. Os analistas estimam que o seu sucessor será mais benevolente com o projeto do presidente para alterar a Constituição de forma a tornar a Turquia num sistema presidencial. Um rumo que os opositores de Erdogan veem como o caminho para o autoritarismo.