Brigada mineira que tenta resgatar Julen corre o risco de extinção
São apenas oito homens, "fortes como touros", e que vivem para enfrentar o perigo. Formam uma brigada de salvamento mineiro que está perto da extinção, devido ao encerramento da quase totalidade das minas de carvão em Espanha, e que por estes dias, tentam salvar Julen, a criança de dois anos que há 11 dias está desaparecida no subsolo, a 70 metros de profundidade, na região de Málaga.
Alguns destes profissionais da brigada de elite originária das Astúrias, no norte de Espanha, viram familiares morrer nas minas e assistem agora à provável morte do da sua atividade mas estão empenhados em procurar encontrar uma criança. São estes homens que irão descer e tentar resgatar o menino. "Vão descer e vão retirá-lo, é claro que vão retirá-lo", diz Santiago Suarez, que chefiou a brigada mineira de resgate entre 2005 e 2009.
Criada em 1912, a brigada pode estar a caminho do fim devido ao encerramento de 99% das minas espanholas, depois de décadas de entrega e sacrifício para ajudar quem trabalhava nas minas, com especial foco nas bacias mineiras asturianas, como conta o jornal El Mundo. Será esta a sua última missão? "Seria triste se tudo isto estivesse perdido", reage Santiago, com voz trémula, ao diário espanhol. Este mineiro de 54 anos resume a situação de forma simples. Num mundo da Internet, dados e inteligência artificial, para chegar a Julen "só vale uma coisa": é o homem contra a pedra.
Estes super-homens, capazes de viver quatro horas quase sem oxigénio, cavando deitados, debaixo de terra, carregando um equipamento de 15 quilos, têm a "arma mais poderosa de todos", afiança Santiago Suarez: "companheirismo, confiança cega no outro, sabendo que aconteça o que acontecer, vão chegar lá." E quase sugere uma memória genética que passa de avós para pais e de pais para filhos, num ciclo aparentemente condenado pelos tempos e pelo carvão polaco, mais barato e mais fácil de extrair do que o espanhol.
"Se o trabalho dos mineiros é muito difícil, o da brigada é capaz de ser mais exigente", aponta o asturiano. O trabalho duro destes homens é bem sucedido quando "formam um núcleo tão fechado quanto uma família". Para respirar levam quase 15 quilos atrás com aparelhos para garantir oxigénio. Nem os aparelhos utilizados na luta contra o fogo têm uma autonomia respiratória tão elevada. Nos incêndios são 30 minutos através dos equipamentos, enquanto os aparelhos usados por esta brigada permitem quatro horas, com um mecanismo complexo. Os mineiros respiram oxigénio "medicinal" das garrafas e devolvem-no, com passagem por um cartucho de cal que remove o dióxido de carbono. Respiram o seu próprio oxigénio durante quatro horas.
Com estes procedimentos, o sucesso só é possível com nervos de aço, diz Celso González, 58 anos, elemento da brigada de 1992 a 2003. "Lá em baixo o que não se pode fazer é ficar nervoso. Tem que estar muito calmo, porque a vida do companheiro pode depender de si", resume.
A brigada, sedeada no que resta da mina Fondón, em Sama de Langreo (Astúrias), tem nesta missão muito trabalho constante com a pá, que ainda é a ferramenta que usam para cavar o mais rápido possível ". Em turnos de 30/45 minutos, trabalhando "de joelhos, deitados ou como podem", os mineiros operam em pares e usam intercomunicadores para falar uns com os outros e com a superfície.
"É tudo um mistério, as pessoas gostam de saber tudo, mas lá em baixo, na terra, você sabe muito pouco. Mas uma vez que começam, não param. A vantagem é que é sempre escuro, para nós não há noite nem dia", relata Santiago Suarez. Neste caso, o ex-chefe da brigada diz, sem ter certeza total, que "quando eles estiverem a menos de um metro de onde o menino deve estar, vão abrir um buraco e colocarão uma pequena câmara, para confirmar se está lá".
O problema mais difícil que enfrentam em Málaga chega então nesse momento, diz Santiago. "Quando eles encontrarem a criança. Essa será a parte mais difícil, não sei como vai ser, mas essa será a coisa mais complicada."