Brexit, Irão, Harry e Meghan, Big Ben, veganismo. Boris fala de tudo mas diz pouco
"Sou uma grande fã da família real. Estou confiante que eles vão resolver isto... mas será mais fácil se eu não fizer comentários", garantiu Boris Johnson, numa espécie de não comentário ao afastamento de Harry e Meghan da família real. A ida dos duques de Sussex para o Canadá e a aceitação por parte da rainha Isabel II de um "período de transição" para que o príncipe de a mulher cumpram o desejo de criar "uma nova vida como uma jovem família" - nas palavras da monarca - foi um dos temas abordados pelo primeiro-ministro britânico na entrevista que deu esta manhã ao programa BBC Breakfast.
E se Boris se mostrou cauteloso em relação ao assunto que tem dominado a imprensa britânica nos últimos dias, também optou pela prudência quando questionado pelo apresentador Dan Walker sobre questões como o Irão, o Brexit ou o NHS, o sistema nacional de saúde britânico.
Admitindo estar de férias quando soube da morte pelos EUA do general Qassem Soleimani, o líder dos Guardas da Revolução iranianos, abatido por um drone em Bagdad no dia 3 de janeiro, Boris Johnson não adiantou se se arrepende de não ter regressado a Londres mais cedo. Mas garantiu ter "trabalhado muito" para que houvesse "uma resposta europeia". Quando a não ter sido informado pelos EUA da intenção de matar Soleimani, o primeiro-ministro britânico afirmou não haver motivo para tal, uma vez que "não era uma operação nossa".
Numa entrevista dada a partir do número 10 de Downing Street, Boris Johnson sublinhou que "o Irão é um país espantoso" que só precisa de "ser orientado para o mercado livre, para a nossa forma de fazer as coisas".
A tensão com o Irão subiu um pouco mais com a queda, no dia 8 de janeiro, de um Boeing da Ukraine International Airlines com 176 pessoas a bordo. O aparelho tinha acabado de descolar do aeroporto de Terrão e levava a bordo 82 iranianos, 63 canadianos, 11 ucranianos, dez suecos, sete afegãos e três britânicos. Ora se as autoridades iranianas começaram por negar qualquer responsabilidade na queda do avião, acabaram por admitir que este foi derrubado por um míssil seu, disparado de forma não intencional.
Para Boris, o derrube do avião da Ukraine International Airlines foi "um erro terrível" e sublinhou a importância de repatriar os corpos das vítimas. "O Irão cometeu um erro terrível, é bom que tenham pedido desculpas". E acrescentou que "o mais importante agora é que a tensão na região baixou". Mas recusou falar em qualquer tipo de retaliação contra o Irão.
Com a data para a saída do Reino Unido da União Europeia a aproximar-se - está marcada para as 23:00 de 31 de janeiro - Boris Johnson mostrou-se "épica e enormemente" convencido que vai haver um acordo comercial entre o Reino Unido e a UE até final do ano. O chefe do Governo de Londres tem insistido que o período de transição, durante o qual o Reino Unido já não está representando nas instituições europeias mas continua a ter de obedecer às regras da UE não deve ser prolongado para além do fim de 2020 - um prazo que Bruxelas considera curto para negociar a relação futura.
"Não se trata de um acordo, trata-se de construir uma nova parceria", afirmou Boris, acrescentando: "A questão essencial é que vamos sair da UE a 31 de janeiro".
Um momento que o primeiro-ministro gostaria de ver assinalado pelo toque do Big Ben - o que custaria 500 mil libras. E garante estar a preparar um plano para que tal aconteça, apesar de admitir que "é caro e estamos a avaliar se temos fundos para isso".
Com vários tópicos na agenda, Boris Johnson garantiu que o NHS, o sistema nacional de saúde britânico, é a sua "principal prioridade", apesar de ter repetido algumas afirmações que têm sido postas em causa pela BBC, como a promessa de construir "40 novos hospitais".
Mas a entrevista de Dan Walker abordou também assuntos menos delicado, com o primeiro-ministro a comentar o veganuary, o compromisso de ser vegan em janeiro, evitando produtos animais durante um mês, uma tendência que tem ganhado adeptos um pouco por todo o mundo. Mas Boris não parece ser um deles. Apesar de se dizer empenhado em perder peso no início do ano, o chefe do governo confessa: "Pensei nisso, mas exige muita concentração. Tiro o chapéu aos vegans". E questiona-se: "Não se pode comer queijo, pois não? Não pode comer queijo se for vegan. Isso é um crime contra os amantes de queijo".
Para o correspondente político da BBC Iain Watson, apesar das declarações entusiastas de Boris Johnson, a verdade é que o primeiro-ministro britânico "não entrou em pormenores. Prudência, portanto, apesar da maioria reforçada com que saiu das eleições de 12 de dezembro.