Holanda é vítima mas também potencial beneficiária do Brexit

Deverá ser dos países europeus mais afetados pelo 'Brexit', mas é também o destino eleito por muitos organismos e empresas que saem do Reino Unido graças às vantagens fiscais e clima comercial, diz a agência EFE.
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Para o diretor da Autoridade Portuária de Roterdão, Allard Castelein, o 'Brexit' não vai trazer "nada de bom" para os empresários holandeses e avisou que uma relação comercial reduzida com o Reino Unido terá "consequências negativas" na economia holandesa.

Já o secretário de Estado para os Assuntos Económicos, Mona Keijzer, enfatizou esta semana que a saída do Reino Unido da União Europeia ('Brexit') "oferece oportunidades" para o país, como a ida para a Holanda da Agência Europeia de Medicamentos e dos seus 900 funcionários, assim como de um grande banco japonês, da empresa Unilever ou de diferentes empresas de serviços financeiros.

O 'Brexit' pode, assim, ser visto de duas perspetivas na Holanda.

As autoridades do país falam de elevados custos na rutura do Reino Unido com a União Europeia (UE), que podem chegar a 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) holandês em 2030, cerca de 10 mil milhões de euros, se a saída britânica não for negociada com condições mais moderadas.

O comércio holandês com o Reino Unido representa mais de 3% do PIB e 8% do seu volume comercial.

Os produtos de exportação mais importantes para o Reino Unido são frutas e legumes, frescos e processados (no valor de cerca de 2.000 milhões de euros), carnes (1.300 milhões de euros), floricultura (1.100 milhões de euros), produtos lácteos (250 milhões), batatas (200 milhões) e açúcar (154 milhões de euros).

O Fundo Monetário Internacional (FMI) também alertou esta semana que a Holanda é um dos países mais afetados pela falta de um acordo comercial entre as duas regiões (um 'Brexit' duro como se costuma designar), já que uma ruptura radical significaria a redução de 0,7% das receitas holandesas nas exportações.

Já um cenário 'suave', com o Reino Unido fora da união aduaneira, mas mantendo o acesso ao mercado único e concordando em cumprir as regras da UE, poderia "implicar um custo quase nulo para a União como um todo", de acordo com o FMI.

A Comissão Europeia tem-se mostrado menos otimista em relação a um acordo e disse, na quinta-feira, que a probabilidade de um "bloqueio" sem acordo aumentou e que empresas e trabalhadores privados devem "preparar-se para qualquer eventualidade".

Para já, enquanto as negociações políticas continuam, os empresários holandeses preferem começar a procurar novos parceiros na Europa Oriental, como na Polónia, Rússia ou Ucrânia, para tentarem minorar as quedas nos negócios após o 'Brexit'.

Contudo, a Holanda pode ser também fonte de atração para empresas que queiram continuar a ter uma relação muito próxima com a União Europeia e que prefiram sediar-se ou transferir parte dos seus escritórios para países da UE.

A Holanda oferece aos empresários acordos tributários favoráveis, 30% de salário isento de impostos, população que fala inglês, clima comercial adequado, bom nível de educação, alta qualidade de vida e localização na região centro da Europa.

A agência de investimento estrangeiro do país tem feito campanha nesse sentido e, em 2017, conseguiu atrair 18 empresas para ali se estabelecerem 'fugindo' ao 'Brexit'. Em 2018 foram seguidas por outras como a Unilever, que deixou de ter sede também em Londres e concentrou a sua atividade em Roterdão.

A esta juntaram-se o grupo financeiro Cboe Global Markets e o banco japonês Mitsubishi UFJ Financial Group, que escolheu a capital holandesa para sede europeia das suas atividades, em detrimento de Londres.

A estas empresas somam-se outras de grande prestígio, como Booking.com, Netflix, Facebook, Uber e Google, que têm os seus escritórios em Amesterdão.

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