Brexit? "Eu teria processado" a UE, insiste Trump, ao lado de May
"É importante respeitar a escolha do povo e sair da UE com um acordo sobre o Brexit. Mas este assunto vai continuar aqui no Reino Unido. O mais importante é sair. O presidente sugeriu processar a UE, não o fizemos, negociámos e conseguimos um bom acordo", disse nesta terça-feira a primeira-ministra britânica Theresa May, em Londres, numa conferência de imprensa conjunta com o presidente dos EUA Donald Trump.
"Eu teria processado. Mas talvez ela seja melhor negociadora do que eu. Eu previ o que ia acontecer. Foi uma previsão muito forte. Achei que ia acontecer por causa da imigração. Mas provavelmente por outras razões também. Achei que ia acontecer. E que vai acontecer. Este país merece a sua independência. Acredito que será bom para o país", afirmou, por sua vez, Trump, que no passado aconselhou May a processar a UE, em vez de negociar com ela. Questionado pelos jornalistas sobre possíveis encontros com Boris Johnson e Michael Gove, candidatos à sucessão de May, o presidente respondeu: "Conheço o Boris, ele tem feito um bom trabalho, mas não conheço Gove."
Questionado sobre se vê necessidade de restringir a troca de informações entre EUA e Reino Unido por causa da Huawei, Trump disse: "Não. Porque vamos ter um acordo sobre a Huawei. Não vejo necessidade de restrições. Este é um grande aliado e nós nunca tivemos problemas com este aliado." Antes da chegada de Trump ao Reino Unido, o seu conselheiro de Segurança Nacional, John Bolton, afirmou, citado pela Reuters, que os britânicos ainda não tomaram a sua decisão final sobre a Huawei e a 5G.
No início de maio, Theresa May, que abandona o n.º 10 de Downing Street a 7 de junho, demitiu o ministro da Defesa, Gavin Williamson, por fuga de informação, sobre o acordo com a Huawei para desenvolver a rede 5G. Em causa, revelou a imprensa, está a informação veiculada pelo jornal Telegraph, que noticiou que a primeira-ministra acordou que a chinesa Huawei ajudasse a desenvolver a rede 5G do Reino Unido, apesar dos vários alertas feitos sobre os riscos de segurança nacional que isso pode vir a representar para o país.
Trump quer que os EUA ganhem a corrida do desenvolvimento da 5G e não admite que o seu país seja ultrapassado neste campo por qualquer outro. Não podemos permitir que qualquer outro país ultrapasse os EUA nesta poderosa indústria do futuro (...) simplesmente não podemos permitir que isso aconteça", disse Donald Trump, em abril, na Casa Branca.
O desenvolvimento da 5G tem sido marcado por polémicas relacionadas com a fabricante chinesa Huawei. Esta é acusada de espionagem industrial e outros 12 crimes pelos Estados Unidos, país que chegou a proibir a compra de produtos da marca em agências governamentais e que tem tentado pressionar outros países a excluírem a empresa no desenvolvimento das redes 5G.
Ainda no âmbito das discussões sobre o pós-Brexit, Trump afirmou nesta terça-feira em Londres: "O Reino Unido é o nosso principal investidor externo. Os EUA estão comprometidos com um acordo fenomenal de comércio com o Reino Unido. Tremendo. Duas ou três vezes superior às trocas que temos agora. Esta é a maior aliança que o mundo alguma vez viu."
O presidente dos EUA considerou "uma honra voltar a Londres nas comemorações dos 75 anos do Dia D" e agradeceu "à rainha, uma mulher fantástica, também à primeira-ministra e ao senhor May pela acolhedora receção. Amanhã iremos participar numa cerimónia em Portsmouth. A nossa relação especial assenta em valores comuns. Como a liberdade. Mas também como o direito à vida e à herança. Agradeço o apoio do Reino Unido para derrotar o califado do Estado Islâmico. Agradeço a participação do Reino Unido para a NATO e eu e a primeira-ministra concordámos que todos os membros da NATO têm de cumprir as suas obrigações e aumentar as suas contribuições para 2% do PIB. Os EUA e o Reino Unido querem garantir que o Irão nunca terá armas nucleares. Também em relação à segurança das fronteiras sabemos que a segurança é nacional".
May, por seu lado, enaltecendo também a relação histórica que existe entre os dois países, arranjou forma de vincar em que é que as lideranças dos dois países diferem. "Nesta semana comemoramos a coragem dos que deram a vida no Dia D há 75 anos. Reino Unido e Estados Unidos são aliados que ficaram lado a lado nessa altura e que continuam lado a lado até hoje. Por isso, estou muito feliz por receber o presidente dos Estados Unidos nesta sua visita ao Reino Unido. Quando a Rússia usou gás nervoso nas ruas de Londres, o presidente expulsou russos. Na Síria, quando as crianças sírias foram vítimas de armas químicas, o Reino Unido e os EUA, a par da França, responderam. Enfatizamos a importância da NATO e conseguiu-se que as contribuições dos países fossem aumentadas. Sempre falei contigo de forma aberta, Donald, sabendo que também sempre fizeste o mesmo comigo. Falámos do potencial desestabilizador do Irão e na necessidade de evitar que o Irão tenha armas nucleares. Apesar de termos abordagens diferentes. O Reino Unido mantém-se fiel ao acordo sobre o nuclear com o Irão. O Reino Unido mantém-se também comprometido com uma abordagem sobre as alterações climáticas e com o Acordo de Paris."
Antes da conferência de imprensa de May e Trump, o líder da oposição trabalhista, Jeremy Corbyn, dirigiu-se aos manifestantes em Whitehall, condenando, entre outras coisas, os ataques do mayor de Londres. Sadiq Khan foi acusado, na véspera, pelo milionário republicano, de ser "um falhado". O autarca trabalhista retorquiu acusando Donald Trump de ser o poster boy da extrema-direita.
Reafirmando a oposição do seu partido contra o racismo, recordando que foi contra a guerra no Iraque em 2003, apesar de ter sido um primeiro-ministro trabalhista, Tony Blair, que levou o Reino Unido a alinhar com os EUA de George W. Bush, Corbyn rejeitou qualquer acordo comercial entre o Reino Unido e os EUA que ponha à venda o NHS. Segundo o líder dos trabalhistas, o Serviço Nacional de Saúde deve manter-se gratuito. "Quando se negoceia um acordo comercial, tudo está em cima da mesa, até o NHS", declarou Trump, na sessão de perguntas e respostas aos jornalistas, na conferência de imprensa conjunta que deu com a primeira-ministra Theresa May.
Corbyn explicou ainda que não foi ao banquete real de segunda-feira à noite mas que não está a boicotar ninguém. E demonstrou-se disponível para se encontrar e para falar com o presidente norte-americano. Apesar disso, Trump disse aos jornalistas não querer reunir-se com Corbyn: "Não conheço Jeremy Corbyn. Ele queria uma reunião. Eu disse que não. Ele é uma força negativa. Decidi não reunir-me. Quanto aos protestos, nós saímos do palácio, só vimos pessoas a comemorar a nossa aliança. Eu só vi um pequeno grupo de pessoas. Por razões políticas. Isso são fake news. Lamento dizer." E sobre Sadiq Khan acrescentou: "Não tem sido um bom mayor, pelo que ouço, o crime tem aumentado. Ele é uma força negativa. Ele magoa as pessoas com o que diz. Ele devia centrar-se no trabalho dele."