Boris vence e Corbyn perde. Mas há mais vencedores e vencidos nas eleições britânicas

Nas eleições dominadas pelo Brexit, o líder conservador conquistou uma grande maioria para avançar com o seu plano para sair da União Europeia, deixando o Labour em crise.

O Partido Conservador de Boris Johnson conquistou uma maioria histórica e abre caminho para um Brexit a 31 de janeiro, deixando o Partido Trabalhista de Jeremy Corbyn com o seu pior resultado desde 1935.

Mas Boris não é o único vencedor da longa madrugada eleitoral britânica, tal como Corbyn não é o único derrotado nas eleições dominadas pelo Brexit.

Quando já só falta conhecer um resultado oficial, os Tories têm 365 deputados (mais 48), o Labour tem 203 (menos 59), o Partido Nacionalista Escocês elegeu 48 (mais 13), os Liberais-Democratas têm 11 (menos 1). Outros partidos têm 23 deputados.

VENCEDORES

Boris Johnson

É o grande vencedor da noite, conseguindo para o Partido Conservador a sua maior vitória desde Margaret Thatcher em 1987 e garantindo luz verde para o Brexit, que diz agora ser "irrefutável e indiscutível".

Os conservadores conquistaram 365 deputados, alguns deles em circunscrições eleitorais que sempre votaram Labour ou eram trabalhistas há várias décadas (mas que tinham optado pelo Brexit no referendo de 2016), ganhando fôlego no discurso dos Tories a ideia de "um partido de uma nação". O novo lema é "o governo do povo" e o primeiro-ministro deverá anunciar na segunda-feira os ministros do novo executivo.

A vitória conservadora deveu-se não só ao Brexit e à mensagem simples -- "get Brexit done", isto é, garantir a saída do Reino Unido da União Europeia -- como à personalidade do próprio Boris Johnson.

O primeiro-ministro agradeceu já na manhã desta sexta-feira aos trabalhistas que votaram nele, dizendo que irá liderar "um governo do povo" e cumprir "a confiança sagrada" que foi depositada nele.

"Podem planear voltar ao Labour na próxima vez e, se for esse o caso, sinto-me honrado por terem depositado a vossa confiança em mim e nunca tomarei o vosso apoio como garantido", afirmou, dizendo que fará da sua missão trabalhar "dia e noite" para "provar que fizeram bem em votar em mim agora e espero conquistar o vosso apoio no futuro".

Nicola Sturgeon

A líder do governo escocês é a outra grande vencedora da noite eleitoral, depois de o seu Partido Nacionalista Escocês (SNP, na sigla em inglês) ter conquistado mais 13 deputados do que nas eleições de 2017.

O SNP estará em Westminster com 48 representantes, num total de 59 que são eleitos pela Escócia, com Sturgeon a falar de um "mandato renovado e fortalecido" para exigir um novo referendo para a independência escocesa, apenas cinco anos depois de os eleitores terem dito "não" a essa possibilidade.

"Não vou fingir que todas as pessoas que votaram no SNP vão necessariamente apoiar a independência, mas houve um forte apoio nesta eleição à Escócia ter uma palavra a dizer sobre o seu futuro. De não ter que aturar um governo conservador no qual não votámos e não ter que aceitar a vida como uma nação fora da União Europeia", disse.

Sturgeon foi filmada a celebrar o facto de o partido ter derrotado a líder dos Liberais-Democratas, Jo Swinson, na circunscrição de East Dunbartonshire, por apenas 149 votos.

VENCIDOS

Jeremy Corbyn

Depois de ter surpreendido nas eleições de 2017 ao tirar a maioria aos conservadores de Theresa May, o líder do Labour é o rosto do pior resultado para os trabalhistas desde 1935. Uma derrota que tem na sua génese a impopularidade do próprio Jeremy Corbyn, o líder da oposição pior posicionado nas sondagens desde os anos 1970.

O Labour conseguiu 203 deputados, menos 59 do que os que tinha, e Corbyn anunciou após ser reeleito por Islington North que não estará à frente do partido nas próximas eleições gerais. Mas não indicou um prazo para a saída, dizendo que continuará na liderança durante um "processo de reflexão" do resultado e que caberá à comissão executiva do partido tomar a decisão quanto a um calendário.

Corbyn tem sido alvo de críticas por causa de ter levado o partido para a esquerda (demasiado para a esquerda, segundo alguns), afastando-o muito do Labour de Tony Blair que conquistou a maioria absoluta há mais de duas décadas.

Na corrida à sucessão de Corbyn, o partido deverá ter uma discussão também ideológica, sobre qual o caminho a seguir no futuro para voltar a conquistar o eleitorado que agora perdeu. Entre os nomes que já se fala para uma eventual sucesso estão John McDonnel, o ministro-sombra das Finanças que já rejeitou ser candidato, Emily Thornberry, a ministra-sombra dos Negócios Estrangeiros, ou Keir Starmer, ministro-sombra para o Brexit.

Jo Swinson

A líder dos Liberais-Democratas começou a campanha a dizer que podia ser a próxima primeira-ministra do Reino Unido, mas acabou por nem conseguir ser reeleita pela sua circunscrição de Dunbartonshire East, perdendo para o Partido Nacionalista Escocês por apenas 149 votos.

Os Lib-Dem conquistaram apenas 11 deputados, menos um do que o que tinham tido em 2017, e muito abaixo dos números com que terminaram a legislatura -- depois de terem absorvido muitos dos deputados que deixaram o Partido Conservador ou o Partido Trabalhista em desacordo com os respetivos líderes.

O partido fez campanha a prometer revogar o Brexit se saísse vencedor, sem sequer avançar para um segundo referendo, procurando distanciar-se do discurso do Labour, acabando contudo por suavizar a sua posição em plena campanha.

Há uns meses, o partido surgia nas sondagens acima de 20% das intenções de voto e falava-se na conquista de pelo menos 80 deputados.

Os Liberais-Democratas terão agora o ex-ministro Ed Davey (derrotado por Swinson na corrida à liderança em julho após a saída de Vince Cable) e a baronesa Sal Brinton, presidente do partido, como líderes interinos até ser eleito um sucessor daquela que foi a mais jovem líder do partido.

Nigel Dodds

O número dois do DUP e líder do partido em Westminster foi o rosto da derrota dos unionistas da Irlanda do Norte, que pela primeira vez na história elegeram menos deputados para o Parlamento britânico do que os partidos nacionalistas.

Nigel Dodds perdeu na sua circunscrição de Belfast North para o Sinn Féin, um partido que elegeu os mesmos sete representantes, sendo que estes nunca assumem o cargo. Foi um de dois lugares que o DUP perdeu.

Os eleitores na Irlanda do Norte puniram o DUP pelo apoio que deu ao Partido Conservador nos últimos dois anos, dando-lhe apenas nove dos 18 a jogo no país. Um apoio que foi crucial para Theresa May, mas que Boris Johnson acabou por desdenhar, negociando um novo acordo com a União Europeia que na prática implica uma "fronteira no Mar da Irlanda" no espaço de um ano.

Os últimos três deputados foram eleitos pelo Partido Social Democrata e Trabalhista (dois) e pelo Partido Aliança da Irlanda do Norte (um).

Nigel Farage

O Partido do Brexit não consegue eleger qualquer deputado, mas Nigel Farage não vê isso como uma derrota, dizendo-se satisfeito pela "influência" que o partido teve para acabar com todas as possibilidades de um segundo referendo.

"Eu matei os Liberais Democratas e feri o Partido Trabalhista", disse Farage à BBC logo após serem conhecidas as projeções, alegando ainda que se o Partido do Brexit não tivesse retirado a candidatura em 317 circunscrições que estavam nas mãos dos conservadores, os Tories não teriam tido uma maioria tão grande.

"Se tivéssemos disputado todos os lugares no país, teria ficado um Parlamento dividido", acrescentou, dizendo que também não será o fim do partido, que irá renascer com outras objetivos, como acabar com o sistema de o mais votado ganhar em cada constituição, independentemente do número de votos.

Questionado sobre os rumores de que irá para o ano para os EUA para participar na campanha de reeleição de Donald Trump, Farage acabou por admitir: "Se me pedirem para ajudar poderei fazê-lo".

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