Bloomberg vs. Giuliani: luta de ex-mayors de Nova Iorque no apoio a Hillary e Trump

Eternos presidenciáveis, os dois antigos presidentes da câmara da maior cidade dos EUA desta vez não avançaram para a Casa Branca. Mas ambos entraram na campanha em apoio de um candidato, tendo discursado nas convenções
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Em junho de 2015, Rudy Giuliani não escondia o entusiasmo com a eventual candidatura presidencial do seu sucessor na Câmara de Nova Iorque. "Faz todo o sentido", dizia o empresário sobre a hipótese de Michael Bloomberg desafiar Hillary Clinton para a nomeação democrata. Ele próprio tentara a sorte como candidato à Casa Branca em 2008, mas perdera a nomeação republicana para John McCain. Mas, se há um ano Bloomberg parecia disposto a entrar na disputa, nesta semana surgiu na convenção democrata a apoiar Hillary. Isto dias depois de Giuliani ter discursado na convenção que confirmou Donald Trump como candidato republicano.

Dois nova-iorquinos em apoio a outros dois nova-iorquinos em campos rivais? Sim. Os homens que governaram a maior cidade dos EUA entre 1994 e 2001 (Giuliani) e de 2002 a 2013 (Bloomberg) são eles próprios eternos presidenciáveis mas 2016 não era o seu momento. Com percursos políticos parecidos - Giuliani foi democrata, depois independente e agora republicano; Bloomberg foi democrata, depois republicano e agora independente -, os antigos autarcas preferiram dar o seu contributo para a guerra entre Hillary e Trump a entrarem eles próprios na arena.

Depois de em abril ter anunciado que apoiava Trump, a 23 de julho Giuliani subiu ao palco na convenção de Cleveland para acusar o presidente Barack Obama de ter falhado na tarefa de "identificar o nosso inimigo". Um inimigo que o ex-mayor explicou ser "o terrorismo extremista islâmico". No seu estilo combativo, o mesmo com que liderou os processos contra a máfia de Nova Iorque nos anos 80, com que lutou contra a criminalidade na cidade ou que lidou com o pós-11 de setembro no fim do mandato como autarca, Giuliani sublinhou que Trump "vai voltar a fazer da América a nação com os melhores valores para liderar o mundo".

Quase da mesma idade - Giuliani tem 72 anos, Trump 70 -, os dois homens conhecem-se há muito. "Rudy é um amigo com quem posso contar. Considero os seus conselhos importantes", garantia há meses Trump. Já durante a campanha ressurgiu mesmo um vídeo de 2000 em que os dois aparecem num jantar de beneficência, com Giuliani vestido de mulher para um sketch.

E basta olhar para umas quantas fotografias antigas para poder ver os dois a segurar em martelos pneumáticos no lançamento das obras do Trump International Hotel, a jogar golfe ou a desfilar numa parada do Steuben Day. Nada de espantar quando falamos do presidente da Câmara de Nova Iorque e do magnata da construção que tem uma torre com o seu nome na Quinta Avenida, a mais famosa da cidade. Ambos nascidos em Nova Iorque - Trump em Queens, Giuliani em Brooklyn, as suas infâncias é que não tiveram muito em comum. Se Trump, descendente de alemães e escoceses, é filho de um construtor civil de sucesso, Giuliani, de ascendência italiana, cresceu numa família de classe média e chegou a pensar ser padre antes de decidir estudar Direito. Enquanto Trump teve a ajuda do pai para começar a carreira, Giuliani foi um advogado bem--sucedido depois de sair da universidade. Mas as diferenças não os impediram de se tornar amigos.

A relação de Hillary Clinton com Michael Bloomberg é menos próxima. Ambos trabalharam juntos quando a ex-primeira-dama era senadora por Nova Iorque e o milionário era mayor, mas o próprio Bloomberg sublinhou as diferenças políticas que os separam no seu discurso de dia 27 na convenção democrata. Apresentando-se como um outsider cujas convicções políticas não encaixam nem no Partido Democrata nem no Republicano, Bloomberg afirmou estar ali para deixar um apelo para que os americanos se unam "em torno da candidata que pode derrotar um perigoso demagogo". Oitavo homem mais rico do mundo - a sua fortuna de 47,5 mil milhões de dólares faz parecer pequena a de Trump, 4,5 mil milhões -, Bloomberg usou a sua experiência de self-made man, que criou um negócio do nada - "e sem um cheque de um milhão passado pelo pai" -para atacar o candidato republicano. Lembrou todas as falências e processos que pesam sobre Trump antes de dizer: "Ele diz que quer gerir o país como gere os negócios. Deus nos acuda!" E rematou: "Sou nova-iorquino, reconheço um vigarista quando o vejo."

Judeu de ascendência russa nascido em Boston mas a viver em Nova Iorque há mais de 40 anos, Bloomberg chegou a ponderar uma candidatura independente à Casa Branca, mas algumas das suas políticas em Nova Iorque foram tudo menos populares: seja a proposta para proibir as bebidas com açúcar ou o maior controlo das armas. Em vez disso, decidiu apoiar Hillary Clinton face a Trump, juntando uma guerra de milionários às muitas razões para seguir os próximos três meses de campanha.

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