Bloomberg decide até março se avança para a Casa Branca
O multimilionário e antigo mayor de Nova Iorque, Michael Bloomberg, considera seriamente a hipótese de uma candidatura independente à Casa Branca. É agora o próprio a admiti-lo em entrevista ao Financial Times (FT), confirmando uma notícia divulgada pelo The New York Times (NYT) em finais de janeiro.
Ainda que não declare taxativamente se é ou não candidato, Bloomberg, de 73 anos, não deixou de afirmar que os americanos merecem "muito melhor" do que aqueles que estão na corrida, sejam republicanos sejam democratas. Embora neste último caso, o presidente da Câmara de Nova Iorque, entre 2002 e 2013, tenha afirmado anteriormente que só consideraria uma candidatura presidencial se a de Hillary Clinton der sinais de "vacilar".
Para entender o sentido desta declaração é necessário ter presente que Bloomberg esteve ligado aos democratas até decidir candidatar-se à Câmara de Nova Iorque, onde concorreu como republicano. Foi ainda reeleito por este partido, mas foi como independente que ganhou o terceiro mandato.
Dado como possível candidato nas presidenciais de 2008 e 2012, esta é a primeira vez que Bloomberg, que fundou e dirige a agência de notícias com o seu nome, parece realmente disposto a arriscar uma candidatura nas eleições de novembro. Como fica claro em vários momentos da entrevista publicada segunda-feira pelo FT.
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Para Bloomberg, "o nível do que é dito e das discussões é assustadoramente banal, uma falta de respeito e um insulto aos eleitores", abrindo a seguir um pouco o seu jogo: "estou a contemplar todas as opções" e a seguir atentamente o que "os candidatos andam a dizer e os eleitores estão a fazer nas primárias".
Com uma fortuna estimada em 38,8 mil milhões de dólares (34,3 mil milhões de euros), o que coloca em oitavo lugar entre as pessoas mais ricas dos Estados Unidos, na listagem da revista Forbes, Bloomberg terá de tomar uma decisão a muito curto prazo e, segundo a Reuters, já deu indicações aos seus colaboradores para iniciarem os preparativos para uma campanha independente. Ainda segundo a Reuters, que cita fonte próxima do multimilionário, Bloomberg tomará uma decisão no "início de março". Segundo o NYT, Bloomberg avançará de certeza se "radicais", como os republicanos Donald Trump ou Ted Cruz, ou como o democrata Bernie Sanders, estiverem a ganhar o terreno. O que está a suceder e irá confirmar-se, ou não, nas primárias da Carolina Sul e do Nevada ainda este mês.
A questão de fundos não é problema, garantiu fonte próxima do multimilionário ao NYT. Este estaria pronto a gastar até mil milhões do seu dinheiro até ao mês de novembro.
O aparecimento de uma candidatura independente com o peso de Bloomberg -pela fortuna, perfil pessoal, experiência política e empresarial - poderá ter consequências imprevisíveis entre democratas e republicanos. Recorde-se o caso de empresário Ross Perot, em 1992. Tendo afirmado tardiamente a candidatura, nem por isso deixou de subir nas sondagens ao ponto de, apesar de uma série de afirmações contraditórias sobre se seria candidato, ter chegado a estar à frente de George Bush (pai) e de Bill Clinton nas intenções de voto. No final, Perot obteve 18,9% (19,7 milhões de votos) e, segundo algumas análises, a sua presença contribuiu para a derrota do então presidente republicano.
Uma recente sondagem Reuters/Ipsos, ontem citada por aquela agência noticiosa, indicava que, em caso de confronto entre Hillary e Trump em novembro, a presença de Bloomberg reduziria a margem de vitória da democrata sobre o republicano. Cenário idêntico se verificaria no caso do confronto final entre Trump e Sanders; o democrata sairia vencedor, novamente com a presença de Bloomberg a reduzir a dimensão da vitória do senador de Vermont. Em todos os cenários, o antigo presidente da Câmara de Nova Iorque não ultrapassa os 10% de intenções de voto.
Até hoje nenhum candidato independente ganhou a presidência dos Estados Unidos.