Banco Mundial avisa: desigualdade alimenta populismo

União Europeia tem sido uma "máquina de convergência", mas um relatório aponta para uma realidade em que as assimetrias crescem
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O relatório do Banco Mundial Growing united: upgrading Europe"s convergence machine, ontem divulgado, conclui que o desenvolvimento tecnológico está a aumentar as divisões dentro da União Europeia. "A menos que sejam tomadas medidas para garantir que as pessoas sejam beneficiadas por igual, a máquina irá parar", alertou a diretora-geral daquela instituição, Kristalina Georgieva, em comunicado.

Quinze é um número essencial no relatório de 158 páginas: no período analisado, de 2000 a 2015, o número de empregos relacionados com a tecnologia aumentou 15%. Em simultâneo, o número de postos de trabalho manuais, em áreas rurais, caiu 15%. Os países mais afetados pela perda de empregos manuais foram a Áustria, Bulgária, Grécia, Hungria, Itália, Letónia, Roménia e Eslovénia.

A preocupação do Banco Mundial concentra-se nos países que têm um PIB per capita abaixo dos 50% da média europeia (um bloco composto por Hungria, Polónia, Bulgária e Roménia) e os países que mais sofreram economicamente na última década (Portugal, Grécia, Espanha e Itália).

Outros problemas destacados no relatório são a produtividade a divergir entre o norte e o sul e a educação, que é um problema com maior incidência no leste. Se em mais de metade da UE, para cima de 20% de estudantes com 15 anos estão abaixo do domínio básico na leitura e na matemática, em países como a Bulgária, a Roménia, a Eslováquia a percentagem ultrapassa os 30%.

"Há o risco de que as pessoas se sintam privadas de direitos, desiludidas e deixadas para trás. Haverá terreno fértil para o populismo. Não necessariamente para se encontrarem soluções, mas para algumas pessoas acertarem na frase certa para diagnosticar qual é o problema", declarou a antiga comissária europeia numa entrevista ao Financial Times.

"O nosso diagnóstico é o de que a máquina de convergência da UE ainda está a funcionar, mas não está a funcionar para todos e há sinais de divisões crescentes", disse ainda a búlgara. "Os europeus com menores rendimentos ficaram para trás no mercado de trabalho em grande parte da UE. Se isto não for enfrentado, haverá uma crescente desigualdade com todas as consequências que daí advirão."

A desigualdade salarial não começou agora. Agravou-se nos anos 90, mas nos últimos 15 anos a situação atingiu níveis inauditos, porque os rendimentos dos 10% de trabalhadores mais pobres baixaram (7%) e neste período os rendimentos dos 10% mais ricos tiveram um crescimento de 66%.

"A UE está a crescer, mas os europeus não estão a crescer unidos. Este relatório destaca a necessidade de se criar um ambiente melhor para que as pessoas e as empresas beneficiem das oportunidades oferecidas pela máquina de convergência da Europa", afirma Arup Banerji, diretor regional dos países da UE do Banco Mundial.

"Muitos países, em especial no norte, têm ambientes com alto potencial de crescimento inclusivo. Temos de concentrar-nos em políticas que criem ambientes similares para os países e regiões que estão atrasados", comenta o economista indiano.

Esta é uma leitura que acompanha os tempos. Basta ver o crescimento político de movimentos políticos antissistema e populistas, da Alemanha à Itália, nos quais os partidos que representavam tradicionalmente as classes trabalhadoras, como o SPD e o Partido Democrático, foram trocados pela AfD ou pelo Movimento 5 Estrelas. Um exemplo dessa agenda mediática encontra-se esta semana na Alemanha. Uma delegação de deputados do partido de extrema-direita foi à Síria com o objetivo de declarar aquele país seguro e em consequência poder recambiar meio milhão de refugiados.

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