Presidente foi recebido pelo "bebé Trump" em Dayton e visitou sobreviventes
O presidente norte-americano, Donald Trump, foi recebido com um balão gigante dele em bebé em Dayton, Ohio, primeira paragem da visita que o levará também a El Paso, no Texas, para mostrar o apoio às autoridades, visitar sobreviventes e aliviar as tensões num país traumatizado por mais dois tiroteios que deixaram 31 mortos.
O Air Force One aterrou em Dayton pouco antes das 11.00 locais (16.00 em Lisboa), com Trump e a primeira-dama, Melania, a seguirem para o Hospital Miami Valley, onde, segundo a porta-voz da Casa Branca, Stephanie Grisham, ambos se encontraram com sobreviventes do tiroteio. "Tinhas Deus a ver. Quero que saibas que estamos contigo neste caminho", terá dito o presidente, de acordo com Grisham. Os jornalistas que foram com Trump na viagem não puderam acompanhar o presidente nem fazer fotografias durante a visita de cerca de uma hora. Eram quase 19.00 horas em Lisboa quando o Air Force One seguiu para El Paso.
Mas o presidente não é bem-vindo em nenhuma destas cidades. Em Dayton, centenas de pessoas juntaram-se perto da Universidade para protestar contra a presença de Trump na cidade. "Deixa de ser um bebé, faz frente à NRA [a associação de armas]", lê-se no peito do "bebé Trump". O balão gigante tem sido presença habitual nas manifestações contra o presidente norte-americano em todo o mundo.
Os manifestantes tinham cartazes onde se lia, por exemplo, "Faz qualquer coisa", "Proíbe as armas de assalto", "Precisamos controlo de armas, não pensamentos e orações" ou "A presença de Trump só piora o nosso trauma", segundo a CNN. Havia também manifestantes junto ao hospital que o presidente visitou.
Apoiantes de Trump, com bonés de "Tornar a América Grande Outra Vez", juntaram-se aos manifestantes e houve discussões entre ambos os grupos. Os manifestantes gritaram para os apoiantes de Trump "32 segundos, nove mortos", o balanço do tiroteio na madrugada de domingo em Dayton.
A presidente da câmara de Dayton, a democrata Nan Whaley, encorajou os residentes a protestarem contra a visita de Trump. "A retórica dele tem sido dolorosa para muitos na nossa comunidade e acho que as pessoas deviam erguer-se e dizer que não estão felizes se não estiverem felizes por ele vir", indicou. Whaley estava na base aérea de Wright-Patterson para receber Trump.
El Paso, no Texas, e Dayton, no Ohio, foram palco de dois tiroteios, com menos de 13 horas de intervalo, no fim de semana, que deixaram 31 mortos (22 no primeiro caso e nove no segundo). No Texas, o objetivo do atirador (que se entregou à polícia) era atingir diretamente a comunidade imigrante e travar a "invasão hispânica" -- publicou um manifesto nesse sentido antes do ataque. No caso do Ohio o atirador foi morto não sendo ainda claros os seus objetivos.
O senador do Ohio, o democrata Sherrod Brown, que também estava na base aérea a receber Trump, disse aos jornalista que lhe pediu para prometer que iria assinar a lei que prevê uma maior pesquisa de antecedentes e de cadastro antes da compra de armas e prometer que iria pressionar o senado para aprovar legislação para proibir as armas de assalto. "Ele só disse que vai fazer as coisas acontecer", contou, alegando que o presidente foi vago em assumir qualquer compromisso para o controlo de armas.
Trump seguiu para El Paso, apesar de milhares de pessoas terem assinado uma carta aberta a pedir que não fosse ao Texas e aproveitasse um momento de "introspeção".
Ao deixar a Casa Branca para a visita a Dayton e El Paso, Trump rejeitou as críticas. "Os meus críticos são políticos que estão a tentar marcar pontos. Não acho que resulte", disse. E negou que a sua retórica contribua para a violência, como os democratas alegam, alegando que esta "junta as pessoas".
No Twitter, o presidente também já tinha citado a One America News (um canal de televisão pago de direita) para dizer que o atirador de Dayton tinha um histórico de apoiar figuras políticas como os democratas Bernie Sanders e Elizabeth Warren, ambos candidatos às primárias, além do movimento anti-fascista Antifa. "Espero que outros media noticiem isto, ao contrário das Fake News", escreveu.
Questionado sobre qualquer alteração à lei das armas, o presidente diz que existe "apetite político" para um maior controlo das pesquisas de antecedentes e de cadastro, mas não para impedir a venda de armas de assalto.
Em relação aos grupos de ódio, Trump disse que está preocupado com "qualquer um". E acrescentou: "Não gosto... quer seja supremacista branco ou outro tipo qualquer de supremacista, quer seja Antifa, qualquer tipo de grupo ou qualquer tipo de ódio... Estou preocupado e vou fazer alguma coisa sobre isso", disse.
O ex-congressista Beto O'Rourke, um dos candidatos às primárias democratas, nasceu em El Paso e foi presidente da câmara da cidade. Logo após o ataque, suspendeu a campanha para voltar à terra natal e apoiar os sobreviventes, tendo criticado as palavras do presidente.
"Beto (nome falso para indicar a herança hispânica) O'Rourke, que está envergonhado pela minha última visita ao grande estado do Texas, na qual o arrasei, e está ainda mais embaraçado por estar nas sondagens com 1% nas primárias democratas, devia respeitar as vítimas e as forças de segurança -- e ficar calado", escreveu Trump no Twitter, ao final da noite de terça-feira.
O ex-congressista do Texas respondeu a Trump pouco depois: "22 pessoas na minha cidade natal estão mortas depois de um ato de terror inspirado pelo seu racismo. El Paso não vai ficar calada e eu também não".
O'Rourke participou num evento paralelo à visita de Trump, num parque da cidade.