A explosão de um carro armadilhado tendo como alvo dois autocarros que transportavam militares turcos, ontem ao início da noite em Ancara, causou, pelo menos, 28 mortos e 61 feridos, segundo fontes oficiais..Testemunhos de residentes em Ancara indicavam ter-se tratado de uma "poderosa explosão", que se ouviu em locais distantes. "Via-se fumo e sentia-se no ar um forte cheiro a queimado, ainda que eu estivesse a vários quarteirões de distância", afirmou à Reuters um habitante que não quis ser identificado..Declarações de responsáveis das forças de segurança apontavam a responsabilidade do atentado quer para grupos curdos, que estão a ser atacados por Ancara em território sírio e turco, quer para o Estado Islâmico (EI). O facto das autoridades turcas admitirem, de forma simultânea, o envolvimento de duas das principais forças protagonistas no conflito sírio, prova até que ponto este se transformou num teste, cada vez mais de dimensões incontroláveis, para a liderança política em Ancara..Para o primeiro-ministro adjunto, Numan Kurtulmus, a Turquia "está a ser alvo de ataques terroristas simultâneos, como se fossem responsabilidade das mesmas pessoas, que tentam intimidar a Turquia"..Desde janeiro de 2015, a intervalos regulares, estão a suceder atentados bombistas em Istambul e Ancara, dos quais o mais mortífero ocorreu na capital, a 10 de outubro de 2015, tendo morrido 101 pessoas. Embora não tenha sido reivindicado, várias pistas apontavam para a responsabilidade do EI. A 20 de julho, uma bomba explodira numa reunião de jovens militantes curdos, na cidade de Suruç, quando se preparavam para partir para a vizinha cidade síria de Kobane, de onde fora recentemente expulso o EI. Morreram 33 pessoas..[artigo:4827117].A 12 de janeiro deste ano, um bombista fez-se explodir no centro histórico de Istambul, matando 12 pessoas, todas estrangeiras..O ataque de ontem sucedeu em pleno centro da capital turca, quando os autocarros tiveram de se imobilizar nuns semáforos, nas imediações da sede do governo, do Parlamento e do quartel-general das forças armadas. Pouco depois do atentado, as autoridades impediram a divulgação de imagens do sucedido, que coincidiu com uma reunião sobre questões de segurança interna e regional a decorrer no palácio presidencial, com a presença de Recep Tayyip Erdogan. Este, que tinha uma deslocação agendada para o Azerbaijão, adiou a visita; outro tanto fez o primeiro-ministro Ahmet Davutoglu, que devia estar hoje em Bruxelas..Múltiplos desafios.A dimensão dos desafios enfrentados pelo governo turco se têm como centro a guerra civil na Síria, apresentam igualmente uma dimensão doméstica, com o reacender do conflito com o PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão, que advoga a independência desta região da Turquia). Um acordo de paz assinado com os independentistas foi suspenso no verão passado, conduzindo a nova intensificação das hostilidades. O palco dos combates tem sido o sudeste do país, onde vigora um recolher obrigatório, levando largos milhares de civis a abandonarem a região..Forças de Ancara estão igualmente a bombardear posições curdas em território sírio, à medida que estes consolidam posições na área da fronteira comum entre os dois países, nomeadamente junto da cidade de Azaz..Ancara esteve envolvida em ataques aéreos da coligação internacional contra o EI na Síria, até novembro passado quando F-16 turcos abateram um Su-24 russo que entrara no espaço aéreo nacional..[artigo:4900586].Recentemente, perante a intensificação dos combates em zonas fronteiriças sírio-turcas e o retomar da iniciativas pelas forças fiéis ao regime de Bashar al-Assad - apoiadas militarmente pela Rússia, Irão e milícias do Hezbollah libanês, e consequente aumento do número de refugiados que procuram entrar na Turquia -, Ancara tem multiplicado os apelos a uma intervenção terrestre na Síria. Apelo a que, até agora, só a Arábia Saudita tem mostrado recetividade. Ainda ontem, o presidente Erdogan e o rei Salman discutiram a crise na Síria pelo telefone, tendo considerado "preocupantes" a ofensiva das forças de Assad sobre Aleppo, que estaria a "deteriorar ainda mais a situação humanitária", disseram ao diário turco Hurriyet, fontes oficiais. Estas não explicaram quem tomou a iniciativa do contacto ou se foi discutida uma intervenção militar terrestre..[artigo:5033135].Perante a dimensão da crise humanitária ampliada pela ofensiva sobre Aleppo, a chanceler Angela Merkel advogou ontem a criação de uma zona de "interdição aérea" entre esta cidade e a fronteira com a Turquia, para garantir alguma segurança para os refugiados. Merkel condenou ainda o aumento de violência por parte das forças de Assad e seus aliados.