Assédio, brexit e duas remodelações: a semana infernal de Theresa May
Primeira-ministra britânica perdeu um ministro acusado de assédio sexual, uma outra devido a encontros secretos com dirigentes israelitas e está a ser pressionada por Bruxelas.
Desde que em julho de 2016 sucedeu a David Cameron à frente do governo britânico - depois de todos os rivais na corrida à liderança do Partido Conservador terem desistido -, Theresa May não tem tido vida fácil. Teve de ativar o artigo 50 e iniciar negociações para sair da União Europeia, convocou eleições antecipadas para reforçar a sua posição mas acabou por perder deputados. E, numa nota caricata, até as letras do cenário em que fez o discurso no congresso dos Tories foram caindo enquanto falava. A última semana foi ela própria um verdadeiro pesadelo, com um ministro a demitir-se acusado de assédio sexual, Bruxelas a exigir "mais clareza" a Londres no brexit e uma segunda ministra a cair devido a encontros secretos com dirigentes israelitas.
A demissão de Priti Patel deixou May diante do dilema de manter ou não os equilíbrios entre ministros pró e anti-brexit. Mas acabou por escolher outra brexiteer para a pasta do Desenvolvimento Internacional. Penny Mordaunt, 44 anos, fora falada para candidata pró-brexit à liderança dos Tories no ano passado. "Confiante exuberante", segundo o perfil do The Guardian, a antiga concorrente do programa Splash!, da ITV, acaba agora por protagonizar a segunda remodelação governamental numa semana, depois de ter sido mencionada também como potencial sucessora de Michael Fallon na Defesa, uma área que conhece bem ou não fosse Mordaunt reservista da marinha.
Fallon foi a primeira baixa no governo de May na sequência de um escândalo sexual que atingiu o Parlamento britânico. O ministro da Defesa deu as "alegações" sobre a sua vida privada como explicação para a sua demissão. Fallon admitiu ter posto a mão no joelho de uma jornalista durante um jantar. Uma confissão que surge depois de várias mulheres terem vindo a público denunciar terem sido vítimas de assédio sexual por parte de políticos britânicos na sequência do escândalo com o produtor americano Harvey Weinstein.
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Como se não bastasse perder um ministro devido a acusações de assédio sexual, numa altura em que o governo luta por encontrar uma estratégia de negociação do brexit que agrade em casa e em Bruxelas, além de tentar atenuar as lutas internas, May ainda viu a sua escolha para substituir Fallon contestada. De facto, em vez de escolher um secretário de estado ou alguma jovem promessa do partido, como lhe exigiam alguns deputados, a primeira-ministra preferiu promover Gavin Williamson, seu braço direito e sem experiência na área.
É neste ambiente de agitação interna que o governo de Theresa May tem negociado a saída da UE. Ontem, Guy Verhofstadt, negociador do Parlamento Europeu para o brexit, sublinhava ainda haver "assuntos essenciais" por resolver, sobretudo quanto aos direitos dos cidadãos da UE no Reino Unido após a saída. No dia em que as negociações retomaram, Michel Barnier, o negociador da UE, recordou que "o tempo urge" e que chegou a hora de o Reino Unido demonstrar "verdadeira clareza" quanto às suas intenções. Além dos direitos dos cidadãos europeus, estão em causa o valor que os britânicos terão de pagar para sair e o estatuto da fronteira com a Irlanda do Norte.
Sem acordo nestas áreas, os líderes europeus não poderão votar, como queriam os britânicos, no Conselho Europeu de 14 e 15 de dezembro a passagem à fase seguinte das negociações: a inclusão do comércio e acordos de transição.