Após violação que chocou o país, Bangladesh aprova a pena de morte para violadores
O vídeo divulgado nas redes sociais chocou o Bangladesh. Nas imagens, veem-se vários homens a atacar uma mulher no distrito de Noakhali. Não era a primeira vez que era violada. No ano passado, um deles tinha-a atacado sob ameaça de uma arma e depois continuou os abusos, ameaçando-a com uma violação em grupo caso resistisse. Foi o que aconteceu no dia 2 de setembro, sendo o ataque gravado para a poderem chantagear. Quando ela recusou pagar ou continuar a ser violada, eles divulgaram o vídeo que se tornou viral.
O caso chocou o país e milhares de pessoas vieram para as ruas em protesto com cartazes onde se lia "enforquem os violadores" ou "sem perdão para os violadores". Em resposta, o governo concordou esta segunda-feira em aprovar a pena de morte para os casos de violação -- a pena máxima era até agora a prisão perpétua.
A alteração à lei foi aprovada por decreto, sem passar pelo Parlamento, que está neste momento de férias. A pena de morte já existe no país para maiores de 16 anos (mas na prática não tem sido aplicada a menores de 18 anos) que cometam crimes de homicício, tentativa de homicídio de crianças ou rapto, assim como motim ou falso testemunho que resulte na morte de alguém inocente.
Os manifestantes que por estes dias saíram às ruas pediam penas mais pesadas para os violadores, julgamentos mais rápidos e o fim da cultura de impunidade, denunciando o facto de apenas uma pequena percentagem de vítimas ver os seus atacantes na justiça. Os ativistas dizem que, só no ano passado, houve pelo menos 5400 violações no país de maioria muçulmana onde vivem 170 milhões de pessoas.
Violações em grupo representam um quinto dos quase mil ataques sexuais registados de abril a setembro -- mas o número de vítimas que não apresenta queixa nem dá a cara é pequeno e o número deverá ser muito maior.
A taxa de condenações por violação no Bangladesh é inferior a 1%. Um estudo de 2013 das Nações Unidas revelou que entre os homens do país que admitiam ter cometido violações, 88% dos que viviam em zonas rurais e 95% dos que viviam em zonas urbanas disseram não ter enfrentado consequências legais.
Oito pessoas já foram detidas em ligação com a violação em grupo da jovem de Noakhali, que foi apenas a última gota de água para os manifestantes. Dias antes, um grupo de estudantes membros da juventude do partido no poder foram detidos e acusados por causa de uma outra violação, de uma mulher em Sylhet, no norte do Bangladesh.
Apesar de as autoridades terem tentado remover o vídeo do ataque da Internet, este continua a circular. "A minha vida já está arruinada", disse a vítima aos media, citada pela Human Rigths Watch. "Agora estou preocupada com os meus filhos, especialmente a minha filha", acrescentou, tendo dito que para ela ir à polícia nunca foi uma opção porque se sentia vulnerável e os agentes nunca acreditam nas vítimas.