Ancara pede extradição imediata de Gülen aos EUA
O governo turco insistiu ontem junto de Washington para que as autoridades americanos detenham e extraditem para a Turquia o dirigente religioso muçulmano Fethullah Gülen, que o poder político de Ancara considera responsável pela tentativa de golpe de Estado da passada sexta-feira.
O primeiro-ministro Binali Yildirim anunciou ontem ter entregado aos Estados Unidos "quatro dossiers" com "mais provas dos que aquelas pedidas" pelas autoridades americanos para poderem considerar o pedido de extradição daquele que o governante turco classificou como "dirigente terrorista". Desde as primeiras horas em que se tornou evidente que o golpe não tinha hipóteses de sucesso, o presidente Recep Tayyip Erdogan e o AKP, partido no poder, apontaram Gülen como inspirador do golpe. Este clérigo e académico muçulmano, de 75 anos, que vive exilado na Pensilvânia desde 1999, foi um dos principais aliados de Erdogan até 2013, quando ambos entraram em choque naquilo que é considerado uma luta pelo poder e influência na sociedade turca.
Segundo o ministro do Interior, Bekir Bozdag, citado pelo diário Hurriyet, a documentação agora entregue não abrange o sucedido a 15 de julho, "porque a investigação ainda decorre", estando relacionada com quatro casos que correm em diferentes tribunais turcos com Gülen a ser acusado "de líder de uma organização terrorista" e de "planear o derrube do governo".
A questão da extradição de Gülen será discutida ainda esta semana em Washington, quando o ministro dos Negócios Estrangeiros Mevlüt Cavusoglu se deslocar aos EUA para participar na reunião dos países membros da coligação internacional que combate o Estado Islâmico.
Gülen é fundador e dirigente da organização cívica Hizmet ("Serviço" em turco) que advoga o altruísmo e o serviço à sociedade. Desde a rutura com Erdogan, o poder político acusa o Hizmet de procurar infiltrar o aparelho de Estado, nomeadamente a Justiça, o setor militar e a Educação, para impor a sua agenda.
Ontem, num desenvolvimento relacionado com este aspeto, o governo suspendeu 15 mil funcionários do Ministério da Educação, professores e pessoal administrativo, além de ter exigido a demissão de 1577 reitores das universidades públicas e privadas. O movimento Hizmet concede importante papel ao setor educativo, operando múltiplos estabelecimentos de ensino, escolas e universidades, na Turquia e noutros países.
Até agora, mais de 35 mil pessoas da Administração Pública foram presas, suspensas ou despedidas. Só no Ministério do Interior, o total de pessoas englobadas nas três situações é superior a nove mil.
Em paralelo, 492 pessoas foram afastadas de funções do órgão máximo do islão no país, o Diretorado para as Questões Religiosas (Diyanet em turco). Este órgão anunciou, por seu lado, que não realizará quaisquer cerimónias fúnebres aos envolvidos na tentativa de golpe, a não ser para "aqueles que foram arrastados" e "não tinham conhecimento do que estava em questão".
Por outro lado, o presidente Erdogan voltou ontem a defender a aplicação da pena de morte para os golpistas, acentuando, deste modo, as tensões com a União Europeia, cujos diferentes dirigentes tinham tornado claro, no dia anterior, que qualquer passo nesse sentido poria fim às negociações para a adesão turca ao bloco europeu.
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