Chomsky foi visitar Lula à prisão e alerta para o "golpe suave" em curso

O intelectual e ativista norte-americano esteve em Curitiba para falar com o "prisioneiro político mais proeminente da atualidade". Além de garantir que o ex-presidente mantém-se otimista e enérgico, Chomsky aproveitou para advertir sobre os perigos de Bolsonaro no poder.
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"Apesar das duras condições e do chocante erro da justiça, Lula permanece enérgico, otimista em relação ao futuro e cheio de ideias sobre como reverter o atual caminho desastroso do Brasil", escreveu Noam Chomsky sobre o ex-presidente brasileiro, "de longe o candidato mais popular e facilmente ganharia umas eleições justas".

O filósofo e linguista Noam Chomsky visitou Lula da Silva na prisão de Curitiba no dia 20 de setembro. Da experiência escreveu um texto, publicado pelo jornal online The Intercept, de Glenn Greenwald.

Nele, o ativista recorda que o "alegado crime" é "quase impercetível para os padrões brasileiros", tendo as acusações sido originadas em delações premiadas de empresários condenados por corrupção. E que a "sentença é tão absolutamente desproporcional ao alegado crime que é importante encontrar as razões".

Para o norte-americano, o antigo sindicalista é "desprezado pelas elites" e sofre o "ódio de classe". "Para a estrutura de poder do Brasil, aprisionar Lula não é suficiente: eles querem garantir que a população, enquanto se prepara para votar, não possa ouvi-lo de nenhuma forma, e estão, aparentemente, dispostos a fazer uso de qualquer medida para alcançar este objetivo", continuou.

Com Lula encarcerado e sem poder ser ouvido, "há uma hipótese forte de que o favorito da extrema-direita, Jair Bolsonaro, vença as presidenciais e intensifique muito as políticas duramente regressivas do presidente Michel Temer". Seria o segundo capítulo do "golpe suave em curso no país mais importante da América Latina".

Para Chomsky, tão grave quanto Jair Bolsonaro, que se considera um "admirador da ditadura militar", é a perspetiva de a pasta da economia vir a ser atribuída a Paulo Gomes, "um produto ultraliberal de Chicago", que tem como objetivo privatizar tudo. "Literalmente tudo, garantindo que o país caia na insignificância como brinquedo das poderosas e muito ricas instituições financeiras".

Chomsky recorda ainda que Gomes trabalhou no Chile durante a ditadura de Pinochet, pelo que aproveita para recordar essa experiência do neoliberalismo. Aproveita também para comparar a corrupção na América Latina com a corrupção das grandes empresas financeiras e tecnológicas do Ocidente, e que a maior delas é legalizada, "por exemplo a busca por paraísos fiscais", ou a compra de eleições para o Congresso norte-americano.

Depois da visita a Lula, Noam Chomsky encontrou-se com os candidatos à presidência Fernando Haddad e Ciro Gomes.

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