Akihito abdicará três anos após pedir para deixar trono japonês
Em agosto de 2016, o imperador japonês Akihito pediu para abdicar numa rara mensagem televisiva sem na realidade usar essa palavra. Alegou então que a idade (tem hoje 83 anos) e a saúde frágil (já foi operado ao coração e teve cancro na próstata) podiam impedi-lo de desempenhar os seus deveres. O seu desejo só será cumprido quase três anos depois. O primeiro-ministro Shinzo Abe anunciou ontem que a abdicação será a 30 de abril de 2019, com o príncipe herdeiro Naruhito a assumir o trono do Crisântemo um dia depois.
“Esta é a primeira abdicação de um imperador em 200 anos e a primeira da Constituição [pós-II Guerra Mundial]”, afirmou Abe. “Sinto uma grande emoção, a decisão do Conselho Imperial foi discutida sem problemas e um grande passo foi dado na sucessão imperial”, acrescentou o primeiro-ministro japonês. “O governo vai garantir os maiores esforços para assegurar que os japoneses podem celebrar a abdicação do imperador e a sucessão do príncipe herdeiro”, explicou. A data terá ainda de ser confirmada pelo governo, algo que deverá ocorrer na próxima semana.
A última vez que um imperador abdicou foi em 1817, sendo que a Constituição aprovada após o final da guerra não tinha previsto a figura da abdicação - o artigo 4.º determina que a sucessão só pode ocorrer por morte do imperador reinante. Foi necessário, por isso, aprovar uma lei, em junho, para permitir que Akihito pudesse afastar-se e passar o trono ao filho mais velho - marcando o fim da era Heisei (alcançar a paz), que começara a 8 de janeiro de 1989, um dia após a morte do pai, Hirohito.
Várias datas estiveram em cima da mesa para a abdicação. Falou-se no final de 2018, quando o imperador assinala 30 anos no trono, mas essa data foi recusada por se temer que pudesse entrar em conflito com outros rituais e deveres por essa altura. Também foi analisada a data de 31 de março de 2019, o final do ano comercial, mas tal iria chocar com as eleições locais do início de abril. Finalmente, foi escolhido o dia 30 de abril.
Akihito nasceu em 1933, num país cada vez mais militarista, e tinha 11 anos quando o Japão saiu derrotado da II Guerra Mundial, travada em nome do seu país. Hirohito foi autorizado a continuar no trono, mas deixou de ter um estatuto de semideus, passando a desempenhar um papel meramente simbólico. Akihito, que lhe sucedeu em 1989, usou o seu reinado para ajudar a cicatrizar as feridas e traumas da guerra. No 70.º aniversário da capitulação do Japão, o imperador expressou o seu “profundo remorso” pelas ações do seu país durante o conflito.
Em 1959, ainda antes de se tornar imperador, Akihito casou com Michiko, filha de um rico magnata, tornando-se no primeiro herdeiro imperial a casar com uma plebeia. O casal teve dois filhos e uma filha, mas atualmente existe preocupação com a sucessão devido à falta de herdeiros masculinos. Naruhito, hoje com 57 anos, só teve uma filha e a linha poderá ser cortada se Hisahito, de 11 anos e filho mais novo do seu irmão Akishino, não tiver filhos do sexo masculino. O problema lançou o debate sobre dar um maior papel às mulheres ou até mesmo permitir que ascendam ao trono do Crisântemo - já o fizeram no passado. A ideia é popular entre os japoneses, mas não entre os mais tradicionalistas.
As mulheres da família imperial são obrigadas a abdicar dos títulos quando casam com plebeus, como vai acontecer com Mako, a filha mais velha de Akishino, que casará no próximo ano com Kei Komuro, ex-colega da universidade.