Acordo nuclear não impede queima de símbolos dos EUA
Com as eleições parlamentares marcadas para dia 26, o presidente do Irão aproveitou ontem o seu discurso do 37.º aniversário da revolução islâmica para apelar a um consenso político depois da desqualificação de milhares de candidatos moderados feita por uma comissão de clérigos. Hassan Rouhani defendeu também o acordo nuclear, que não é consensual dentro do país, como se pode verificar pelas já habituais cenas com bandeiras dos Estados Unidos a arder.
Rouhani, um moderado, chegou a este aniversário da revolução de 1979 - liderada pelo ayatollah Ruhollah Khomeini e que derrubou o regime pró-Ocidente de Reza Pahlavi, transformando o Irão numa república islâmica - depois de conseguir restabelecer os laços com a comunidade internacional com o acordo sobre o programa nuclear iraniano assinado no ano passado e que teve como consequência o levantamento das sanções impostas ao país.
Um acordo histórico que os conservadores criticam e veem como uma cedência às pressões feitas pelos Estados Unidos. E que Rouhani diz proteger os direitos do Irão ao poder nuclear, ao mesmo tempo que fortaleceu a posição da república islâmica tanto a nível regional como internacional.
"Os iranianos nunca cederão a qualquer tipo de pressão. A nossa vitória do nuclear mostrou ao mundo que os iranianos são capazes de vencer qualquer batalha, incluindo as diplomáticas", declarou ontem o presidente iraniano perante a multidão que se juntou na praça Azadi, em Teerão.
Mas tanto na capital como noutras cidades país fora, milhões saíram às ruas para celebrar a revolução, com a televisão estatal a mostrar imagens não muito diferentes dos festejos de outros aniversários, anteriores ao acordo nuclear e da aproximação aos Estados Unidos e ao Ocidente. Ou seja, slogans anti-EUA e Israel e bandeiras destes dois países a serem queimadas.
Nascida 15 anos após a revolução, uma jovem envergando um chador e empunhando um cartaz que diz "Abaixo a América!" explicou ao jornalista do El Mundo os benefícios de uma mudança à qual não assistiu e os motivos pelos quais não gosta dos Estados Unidos. "Com este cartaz quero mostrar a minha repulsa pelo governo norte-americano, não ao seu povo, por tentar há anos sem sucesso separar o nosso país", declarou a jovem ao jornal espanhol.
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Atualizar a linguagem
A atualidade política interna não foi esquecida por Hassan Rouhani no seu discurso, apelando a uma unidade nacional nas vésperas das eleições de dia 26 para o Parlamento e a Assembleia de Peritos, que tem o poder de escolher o líder supremo do país. Mas também a uma atualização da linguagem da revolução.
"Como Estado religioso, podemos preservar o fundamentalismo, mas ao mesmo tempo modificá-lo e atualizá-lo. O país é de todos os iranianos, não de uma parte da população", referiu o presidente, numa mensagem para os mais conservadores, que tentam minar o seu poder.
Exemplo disso é o facto de o Conselho dos Guardiães, um órgão clerical e conservador, ter banido da corrida eleitoral milhares de candidatos moderados, como o neto do fundador da República Islâmica. "As fações políticas devem colocar de parte qualquer tipo de confrontação... agora precisamos de consenso", disse Rouhani à multidão. "Não virem as costas às urnas", acrescentou.
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