Abraço ou fuga. Trump manipulou vídeo de crianças e redes sociais apagaram-no

O momento em que duas crianças, uma de pele negra e outra branca, correm para os braços uma da outra e se abraçam tornou-se num sucesso de visualizações desde o ano passado. O presidente norte-americano publicou uma versão distorcida do original, que resultou na reclamação por parte do pai de uma das crianças envolvidas no vídeo.

É mais um episódio na guerra aberta entre o presidente norte-americano e as redes sociais. Esta sexta-feira, o Facebook e o Twitter viram-se obrigados a retirar das suas plataformas um vídeo publicado por Donald Trump, considerado enganoso, de acordo com a CNN. A publicação foi feita na véspera do dia em que se celebrava o Juneteenth, o feriado mais antigo conhecido em homenagem ao fim da escravidão nos EUA.

Tratava-se de uma versão distorcida de um outro vídeo viral em que duas crianças, uma de pele negra e outra branca, corriam uma para a outra, para se abraçarem, na estrada. Naquele publicado por Trump, por outro lado, fazia parecer que a criança negra fugia da outra. Um dos pais das crianças em causa reclamou os direitos de autor sobre o vídeo e este foi removido.

No entanto, já nada poderia eliminar o peso que entretanto arrecadou na esfera pública, com mais de quatro milhões de visualizações no Facebook e acima de 20 milhões no Twitter.

"Nem o proprietário do vídeo nem a Jukin Media deram permissão ao Presidente para o publicar e, após a nossa análise, acreditamos que o uso não autorizado do conteúdo é um exemplo claro de violação de direitos autorais sem uso justo válido ou outra defesa". Foi assim que a Jukin Media, empresa que representa os criadores de vídeos, incluindo o pai e o dono do vídeo, comunicou à CNN a decisão da exigência sobre a remoção deste vídeo. Pelo menos ao Twitter, pois a empresa não confirmou ter feito este pedido ao Facebook, embora o porta-voz da rede social, Andy Stone, tenha confirmado a receção da reclamação.

"Ele não vai virar este vídeo lindo e amoroso para a sua agenda de ódio!"

Sobre a edição alterada e publicada pelo presidente dos EUA, o pai de uma das crianças, Michael Cisneros, escreveu: "ele não vai virar este vídeo lindo e amoroso para a sua agenda de ódio!". Jim Acosta, correspondente da CNN na Casa Branca, disse parecer que Donald Trump "está a explorar crianças para apresentar algum tipo de argumento político grosseiro".

Já a porta-voz da Casa Branca, Kayleigh McEnany, minimizou o problema e admitiu ter considerado a publicação engraçada. "Acho que o presidente estava a fazer uma observação satírica, que era bem engraçada se assistirmos ao vídeo", disse em conferência de imprensa. O presidente está "a argumentar especificamente sobre a CNN [cujo logótipo aparecia no vídeo]", que a estação "o tirava regularmente de contexto", concluiu.

Na altura em que a versão original do vídeo se tornou altamente divulgada nas redes sociais, Michael Cisneros disse que a motivação por detrás desta partilha era o facto de ter considerado este um momento bonito e um marco no meio da discussão sobre racismo. "A razão pela qual está a chamar a atenção [é] porque é com um menino preto e um menino branco. Mas se isso pode mudar a mente de alguém ou apenas mudar a sua opinião sobre as coisas, então vale totalmente a pena [partilhar]", disse, segundo a CNN.

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