A quem vão dar o seu voto os indignados do movimento 15-M?
"Foram os cidadãos que começaram a chamada nova política e não os partidos, que vão sempre atrás da sociedade." No quinto aniversário do 15-M, movimento social que ficou também conhecido com a designação de "os indignados", reivindica um protagonismo que alguns partidos, nomeadamente o Podemos de Pablo Iglesias, parecem querer assumir para si num momento de mudança política como o que se vive agora em Espanha.
A 15 de maio de 2011, uma semana antes das eleições autonómicas e municipais, tiveram lugar manifestações em toda a Espanha. Era evidente o descontentamento social e o descrédito das instituições públicas e dos políticos. "Não nos representam" foi um dos lemas do movimento surgido à volta da Puerta del Sol, em Madrid, onde muitos dos manifestantes decidiram passar a noite desse domingo e ficaram até ao dia 12 de junho. Nessa altura governava o socialista José Luís Rodríguez Zapatero e o ministro do Interior era Alfredo Pérez Rubalcaba.
Ao longo dos últimos cinco anos, foram muitas as coisas que mudaram na política espanhola. Saiu do poder o PSOE, chegou o PP, cresceu o número de "indignados" e "descontentes" e apareceram dois novos partidos nacionais que canalizaram, de forma muito diferente, esses protestos: o Podemos e o Ciudadanos de Albert Rivera. Existe o debate aberto sobre qual foi o legado do 15-M e parece claro que o Podemos nasceu dos seus Círculos, uma assembleia constituída pelos jovens do 15-M. Inclusive o seu líder, Pablo Iglesias, já afirmou "o Podemos não existiria sem o 15-M". Não se pode esquecer, porém, que o 15-M se definiu como um movimento apartidário.
As candidaturas que governam em Madrid, Cádis, Barcelona, Corunha e Saragoça são as que respeitaram mais o espírito do movimento na sua génese. Mas o que é certo é que alguns dos responsáveis da primeira grande manifestação acabaram afastados do movimento. A plataforma Democracia Real Ya foi das que estiveram mais ativas com jovens como Fabio Gándara, Aguirre Such ou Pablo Gallego, mobilizando muitos dos indigna-dos que se juntaram aos protestos. Foram porta-vozes do movimento, trouxeram muitas ideias mas também houve lutas internas e há tempos que os três ficaram de fora. Alguns dos que foram seus colegas - e criticaram o seu desejo de formar um partido político - ocupam agora lugares da Câmara Municipal de Madrid ou na estrutura política do Podemos.
Avisos ao Podemos e à IU
No passado dia 15 de maio não faltaram avisos aos novos partidos, nomeadamente ao Podemos e ao seu novo aliado de coligação, a Esquerda Unida de Alberto Garzón (IU). "Se alguma coisa deviam ter aprendido os partidos com esta nova forma de ver a política que começou com o 15-M era uma nova maneira de se relacionar com os movimentos sociais e com a cidadania: respeito pelo outro, igualdade e colaboração e não uma lógica hegemónica de considerar os partidos como a solução única para os problemas sociais", podia ler-se num comunicado conjunto da PAH (plataforma que junta aos afetados pela crise das hipotecas) e do 15MpaRato. "Pedimos à IU e ao Podemos uma campanha eleitoral respeitosa que não seja confundida com iniciativas e conquistas dos cidadãos e do 15-M, que quer manter a sua independência." E enviavam uma mensagem: "Desejamos poder escolher em quem votar e em quem não votar, pelos factos, não pelas mensagens de marketing eleitoral. Assim é a sociedade que se formou com o 15-M".
Que opções de voto?
Pode um movimento apartidário apoiar um partido político? Que formação política melhor representa este movimento social? Os participantes do 15-M reivindicaram uma maior participação da cidadania na vida do país mas para isso seria preciso chegar ao poder e mudar as regras. O que fazem os "indignados" numas eleições?
Para a politóloga Cristina Monge, autora da primeira tese de doutoramento que estuda os aspetos do 15-M em Espanha, este movimento "defende uma participação que vai mais além do momento eleitoral". Não considera que seja um movimento antissistema ou contra a política: "Querem um sistema mais eficaz para aprofundar a democracia."
Lucía Ramos, de 23 anos, passou várias noites acampada na Puerta del Sol há cinco anos. "Foi uma experiência interessante, lutámos por ideias mas acho difícil que um partido político consiga expressar o que se viveu em Espanha nesses dias", explica ao DN. No seu caso, passou de não votar nas eleições de 2011 a votar no Podemos há seis meses (nas eleições legislativas de 20 de dezembro). "Não gosto do protagonismo do seu líder, que vai contra o espírito do 15-M, mas também sei que para mudar as coisas deve estar-se por dentro do atual sistema político." Agora votará na coligação Unidos Podemos (Podemos+IU) "com a esperança de que exista uma verdadeira revolução na política espanhola". Mas o seu tio, por exemplo, de 55 anos, que também esteve nas manifestações, "não vai votar e nunca apoiou a Podemos. Não acredita nos partidos políticos", explica a jovem.
Pedro Guerra, de 35 anos, assistente social, tem muitos amigos que estiveram envolvidos nas manifestações do 15-M. "Eu acompanhei de perto, mas sem me envolver muito." Os seus amigos "quase todos, dão o seu voto ao Podemos mas nenhum partilha a 100% a forma de atuar do partido". E no seu caso? "Eu sempre votei IU e agora votarei Unidos Podemos", conta. Mas desabafa: "Não me deixaram outra hipótese."
Madrid