A poetisa pirata que ama a revolução e quer governar a Islândia
As mais recentes sondagens dão ao Partido Pirata, de Birgitta Jonsdottir, 43% das intenções de voto.
Nas eleições de 2013 na Islândia, o Partido Pirata não passou dos 5,1% dos votos e apenas elegeu três deputados. Mas se as eleições fossem hoje, a formação que tem feito da luta pela transparência a sua imagem conseguiria 43% dos votos, fazendo da sua líder, Birgitta Jonsdottir, a primeira-ministra do país.
Relacionados
Criado em 2012, com o mesmo nome de outras formações europeias, o Partido Pirata islandês viu os números disparar depois da divulgação dos Papéis do Panamá. A fuga de informação levou à demissão na terça-feira do primeiro-ministro Sigmundur David Gunnlaugsson, cuja mulher era acionista de uma empresa offshore com participação nos bancos islandeses. Esses mesmos bancos que em 2008 tiveram de ser nacionalizados para evitar a falência.
Perante os protestos nas ruas de Reiquejavique (onde vive a maioria dos 300 mil habitantes da ilha), sobretudo frente ao Parlamento, o governo cessante nomeou Sigurdur Ingi Johannsson, o ministro das Pescas, como primeiro-ministro interino. E convocou eleições antecipadas para o outono. O novo chefe do executivo deixou ontem um apelo aos políticos implicados nos Papéis do Panamá para que tirem o dinheiro das empresas offshore e o tragam de volta à Islândia. Mas não deixou de sublinhar que "não há nada de ilegal com quem detenha empresas offshore desde que pague impostos na Islândia".
Subscreva as newsletters Diário de Notícias e receba as informações em primeira mão.
Algo diferente
"A nação decidiu que basta. Mostraram em grande número que querem algo diferente. Por alguma razão, essa coisa diferente parece ser o meu partido", explicou Jonsdottir à Reuters por telefone. Entre as medidas que propõe, o Partido Pirata pretende garantir a cidadania a Edwards Snowden, o ex-analista da NSA que em 2013 divulgou pormenores do programa de vigilância dos EUA. Para Jonsdottir, a sua formação inclui-se no mesmo movimento global para a mudança do que o Syriza do primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, ou que o candidato à nomeação democrata para as presidenciais americanas, o senador Bernie Sanders. "Vivemos uma época em que surgem verdadeiras forças transformadoras [...] Vi isso claramente com o Podemos em Espanha ou o Movimento Cinco Estrelas em Itália", disse ainda a líder dos piratas, que defende tornar menos restritiva a lei dos direitos de autor.
Filha de um armador e de uma cantora folk, Jonsdottir publicou o primeiro livro de poemas aos 22 anos. Foi a crise financeira que a fez entrar na política. Envolveu-se com a WikiLeaks, fundada pelo australiano Julian Assange e responsável pela divulgação em 2010 de milhões de documentos diplomáticos do governo dos EUA.
Deputada desde 2009, Jonsdottir, de 48 anos, tem-se destacado no Parlamento por gostar de pôr pressão sobre os políticos que fazem "coisas inaceitáveis". Confrontada com duas tragédias pessoais - os suicídios do pai e do marido -, a líder do Pirata gosta de dizer que "revolução" é a sua palavra preferida. Quanto à chefia do governo, garante à Reuters: "Não é coisa com a qual sonhe. Na verdade até tive um pesadelo com isso há uns tempos que me inspirou um poema."
Mas o facto de ser a deputada mais antiga da sua formação não garante que Jonsdottir seja a candidata de o Partido Pirata às legislativas antecipadas. Afinal, o partido tem uma liderança rotativa e outro dos nomes que tem surgido como hipótese é o do deputado Helgi Hrafn Gunnarsson.
Apesar do salto nas sondagens, o Partido Pirata começa a ser confrontado com críticas à sua falta de experiência. "As pessoas começam a pensar que eles não têm experiência suficiente e não são de confiança", disse à Reuters Eva Heida Onnudottir, cientista política da Universidade da Islândia.