60 dias para voltar às urnas e repetir as presidenciais

Alegadas irregularidades no voto eletrónico motivaram a decisão dos juízes. Presidente diz que não concorda mas respeita
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O Supremo Tribunal do Quénia declarou nulas as presidenciais realizadas a 8 de agosto, que terminaram com a reeleição de Uhuru Kenyatta, com 55% dos votos.

O candidato derrotado, Raila Odinga, contestou os resultados e viu ontem a mais alta instância judicial queniana dar-lhe razão. Quatro dos sete juízes que compõem o órgão decidiram pela anulação do ato eleitoral. Dois votaram em sentido contrário e um não esteve presente por estar alegadamente doente. As novas eleições deverão ter lugar num prazo de 60 dias.

O Supremo justificou a decisão por irregularidades no processo da votação eletrónica. Para o tribunal, a comissão eleitoral "falhou, foi negligente ou recusou-se a conduzir as eleições de acordo com o que diz a Constituição". Cerca de cinco milhões de boletins não terão sido corretamente verificados. Na votação, Kenyatta obteve mais 1,4 milhões de votos do que Odinga.

O candidato da oposição aplaudiu a decisão dos juízes: "Este é um dia histórico para o Quénia". Kenyatta, por seu turno, disse que irá respeitar o veredicto, mas fez questão de sublinhar o seu desencanto. "Não posso estar de acordo porque milhões de quenianos fizeram a sua escolha e seis pessoas decidiram contrariar a opção do povo. Discordo da decisão, mas irei respeitá-la", afirmou o presidente numa declaração ao país.

No seu discurso, Kenyatta fez ainda um apelo à paz. Depois do anúncio do tribunal, apoiantes e opositores do presidente saíram à rua um pouco por todo o país para contestar ou celebrar a decisão do Supremo. Logo a seguir às eleições, quando Kenyatta foi declarado vencedor, pelo menos 28 pessoas morreram em confrontos. Nas eleições presidenciais de 2007 - que o mesmo Odinga perdeu para Mwai Kibaki - os dias seguintes foram ainda mais sangrentos, saldando-se na morte de 1200 pessoas.

Apesar das críticas do Supremo, o presidente da comissão eleitoral garante que não irá pedir a demissão. Ainda assim, Wafula Chebukati garantiu que procederá a alterações na equipa e nos processos ainda antes do próximo escrutínio.

Uma semana antes das eleições do passado dia 8 de agosto, Chris Msando, o homem responsável pelo sistema tecnológico de votação eletrónica, foi encontrado morto numa floresta nos arredores da capital Nairobi, com sinais de ter sido torturado.

Uhuru Kenyatta, de centro-direita, foi eleito presidente pela primeira vez em 2013, derrotando também Raila Odinga. Nessa ocasião, ficou-se pelos 50,5% dos votos. A política faz parte da sua história familiar. O seu pai, Jomo Kenyatta, foi o primeiro presidente do país a seguir à independência do império britânico e permaneceu no cargo entre 1964 e 1978. Curiosamente o seu primeiro vice-presidente, até 1966, foi Jaramogi Oginga Odinga, pai do atual adversário político do filho.

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