Metaverso será o grande aliado das empresas no caminho para a sustentabilidade
"O metaverso está prestes a tornar-se real", antecipa Peter Koerte, CTO (chief technology officer) e responsável estratégico da Siemens, que marcou presença na Web Summit para levantar o véu sobre o que aí vem. Um futuro que parece saído de uma narrativa de ficção científica está hoje cada vez mais próximo da realidade, um cenário em que tudo é possível graças ao poder do metaverso aplicado às necessidades das empresas - da produtividade à eficiência, as possibilidades são, virtualmente, "infinitas".
Esse admirável mundo novo só é concretizável à boleia dos avanços da inovação tecnológica em campos como a realidade virtual, realidade aumentada e a capacidade de gerar modelos 3D fotorrealísticos. Esta última é uma das principais ferramentas para fazer do universo virtual uma réplica exata de tudo o que existe no espaço físico, mas sobretudo para garantir uma "verdadeira imersão" dos utilizadores. "O fotorrealismo é uma das grandes e principais novidades. O fotorrealismo que conhecemos do desenvolvimento de videojogos está a chegar ao metaverso industrial", esclarece Peter Koerte.
As aplicações práticas da tecnologia são vastas e muitas, assegura o especialista, ainda estão por descobrir à medida que as empresas testam e implementam diferentes soluções. Do ponto de vista da produção industrial, a Siemens criou uma fábrica totalmente digital - e funcional - para medir o potencial transformador que pode ser sentido por todos os setores. O segredo é simular, de forma exata, todo o tipo de operações no metaverso antes mesmo de pensar na construção de protótipos, sendo possível, por via do desenho de modelos 3D e do simulador multifísica, testar "aspetos térmicos, acústicos ou mecânicos".
Durante uma sessão conjunta de Peter Koerte e Jean-Marc Ollagnier, CEO da Accenture Europe, o francês defendeu que "quanto mais pudermos desenhar no mundo virtual, melhores produtos e serviços podemos criar", acelerando o processo e, sobretudo, reduzindo custos.
Koerte destaca ainda outro aspeto disruptivo: a capacidade de treinar soluções de inteligência artificial com aquilo a que chama "a geração sintética de dados" com origem nas simulações do metaverso. "Com isto, uma fábrica pode alcançar uma operação 20% mais produtiva", destaca. Por outro lado, a formação necessária para os colegas de carne e osso das máquinas industriais pode, igualmente, beneficiar do treino em ambiente virtual. Para mostrar que é possível, o líder da Accenture revelou que, durante a pandemia, os 150 mil trabalhadores recrutados pela consultora no mundo foram formados e acolhidos exclusivamente através do metaverso.
Uma quinta subaquática
Mais do que a teoria, é a prática que permite compreender o alcance e o poder desta combinação de tecnologias aplicadas ao mundo real. Este ano, a Siemens levou à Web Summit a startup italiana Nemo"s Garden, um projeto que está a criar uma quinta subaquática para a produção de vegetais a partir das ferramentas criadas pela tecnológica alemã.
A empresa, que está a aproveitar a abundância de oxigénio e proteção natural contra pragas oferecidas pelo fundo do mar, é um exemplo de como as soluções mais inovadoras estão acessíveis às organizações de todas as dimensões.
"[Estas ferramentas] são também para empresas mais pequenas e é por isso que estamos a construir estes produtos numa lógica de software-as-a-service para que sejam mais fáceis de obter, de implementar e, claro, para permitir custos de operação muito previsíveis", garante Peter Koerte ao Dinheiro Vivo.
Acelerar o percurso da inovação é o grande objetivo do Siemens Xcelerator, um ecossistema tecnológico aberto onde os empreendedores podem encontrar a tecnologia de que precisam para fazer da digitalização uma oportunidade para crescer e aumentar a sua competitividade. "Não há nenhuma empresa que o consiga fazer sozinha", reforça.
Chave para descarbonizar
O potencial do metaverso industrial vai muito além dos aumentos da produtividade e da redução de custos. Utilizando gémeos digitais, as empresas ganham capacidade de desenhar toda a cadeia de produção da forma mais sustentável possível. "Com os gémeos digitais podemos simular tudo, o que significa que também é possível simular a pegada de carbono", explica Peter Koerte.
O CTO da Siemens concretiza exemplificando com o processo de desenvolvimento de um smartphone que, com apoio do simulador multifísica em ambiente virtual, "permite que o designer possa tomar decisões conscientes sobre usabilidade, design ou funcionalidade", mas também calcular, de antemão, a pegada carbónica de cada componente.
No chão de fábrica, o limite da tecnologia é apenas a imaginação. "As fábricas são responsáveis por 28% de todos os gases com efeito de estufa e, por isso, temos de as tornar mais eficientes", afirma. As réplicas digitais da infraestrutura conseguem, em tempo real, medir os ciclos de funcionamento das diferentes máquinas, os seus gastos energéticos e encontrar caminhos para aumentar a sua eficiência. "Os gémeos digitais são, na verdade, um pilar essencial para reduzir as emissões de carbono e aumentar a eficiência dos recursos", remata Koerte.