RTP entre o "humanamente possível" e a "maior cobertura em sinal aberto"
O Europeu de Futebol, a Volta a Portugal em bicicleta e, agora, os Jogos Olímpicos. A RTP promete a "maior cobertura de sempre em canal aberto", com 14 a 16 horas diárias de programação, divididas entre os dois principais canais televisivos do operador público. "Nunca se fez nada assim no nosso país em sinal aberto", avisa ao DN o diretor adjunto de informação, Hugo Gilberto. "Vamos ter um acompanhamento diário e permanente de todas as incidências dos Jogos e de todos os atletas portugueses que estarão no Brasil", explica o responsável.
A RTP preparou quatro blocos específicos de programação: entre as 13.00 e as 16.00 na RTP2, entre as 15.00 e as 18.00 na RTP1, entre as 18.00 e as 21.00 de novo no segundo canal e, finalmente, entre as 22.00 e as três da manhã no primeiro canal. Quanto à RTP3, desta vez fica de fora da operação, uma vez que os direitos de transmissão dos Olímpicos no cabo são um exclusivo da Sport TV.
"Vamos ter três equipas de enviados ao Brasil. Uma com o João Pedro Mendonça, que coordena toda a operação no Rio de Janeiro, e outras duas, uma com o Gonçalo Ventura e outra com a Inês Gonçalves e respetivos repórteres de imagem", conta Hugo Gilberto. Aos três repórteres junta-se o correspondente da RTP no Brasil, Luís Baila, "que anda há semanas a trabalhar de perto no terreno", assegura o diretor adjunto de Informação.
No Rio de Janeiro, cidade onde os Jogos decorrem de 5 a 21 do próximo mês, "a ansiedade é muita", constata Luís Baila, o jornalista que em março deste ano trocou Portugal pelo Brasil, para aquilo que considera ser "uma aventura única e irrepetível" (ver Perguntas). "Há muitos brasileiros orgulhosos com a realização dos Jogos por cá, mas há também quem veja este megaevento como prejudicial para o país", explica o correspondente da RTP. Baila concretiza: "Em geral, os brasileiros veem os Jogos com grande apreensão por causa das enormes dificuldades financeiras do país. Veem como um dinheiro mal gasto. Além disso, com todos os casos de corrupção, alguns relacionados com a construção dos estádios do Mundial há dois anos, a opinião pública olha com grande desconfiança para estes investimentos." Ainda assim, ressalva, "os ingressos estão a vender-se a grande velocidade".
João Pedro Mendonça começa na próxima semana os seus quartos Jogos Olímpicos. Depois de Sidney em 2000, Pequim em 2008 e Londres em 2012, é a vez do Rio de Janeiro em 2016. "Já vi muita coisa", reconhece. Mas nunca nada como no Brasil. "Nós em Portugal costumamos dizer que as obras são feitas à portuguesa, tudo à última hora. Mas tomara eles fazerem as obras à portuguesa. No Brasil é mesmo à brasileira", aponta, criticando a desorganização reinante a poucos dias do início do evento. "Há uma série de profissionais portugueses na organização destes Jogos, porque há um grande respeito pela forma como Portugal trabalha estes grandes eventos. E, de facto, apesar de todos os pessimismos iniciais, nunca nada falhou na Expo"98 ou no Euro 2004", constata.
Mendonça volta a ser neste ano o team leader da RTP no terreno. "Para lá da reportagem e de todo o trabalho jornalístico, vou ser o representante da empresa nos briefings e nos momentos oficiais da organização", conta ao DN. Nada que lhe tire o sono, embora reconheça que quatro repórteres para acompanhar os Jogos é "manifestamente pouco". Culpa das "contingências financeiras". "A comitiva portuguesa é constituída por 92 atletas. Ninguém acredita que seja humanamente possível que quatro repórteres possam acompanhar o dia-a-dia e a competição de todos os atletas." Por isso, o que a RTP promete é que "transmitirá em diretos as provas de todos os portugueses", mas do ponto de vista editorial "o desafio é estar onde se justificar", explica.
Para estar no Rio de Janeiro durante o mês inteiro, João Pedro Mendonça foi obrigado a falhar a cobertura da Volta a Portugal em bicicleta, que já é um clássico na sua carreira jornalística, e a deixar o comentador Marco Chagas aos "cuidados" de Pedro Martins e Alexandre Santos. "Foi uma triste coincidência de datas e desta vez não foi possível reajustar", conta, recordando que há quatro anos a Volta só começou a 15 de agosto. "Lembro-me de que eu e o Alexandre Santos lavámos em Londres a roupa toda de um mês de Jogos Olímpicos, aterrámos em Lisboa no dia 14 e à noite já estávamos em Castelo Branco, onde a Volta começava no dia seguinte". Desta vez, porém, será diferente. "Vou ter de ver pela RTP Play. Vai ser estranho, mas vou ter de me habituar", confidencia.
Três perguntas a...
Luís Baila (Correspondente da RTP no Brasil)
"Têm sido meses de loucura"
Mudou-se em março para o Brasil, para ser correspondente da RTP. Assuntos não têm faltado...
É verdade, têm sido meses de grande loucura. Durante os primeiros tempos nem consegui desfazer as malas. A questão política, com a crise Dilma, ocupou grande parte da agenda informativa e eu cheguei em pleno furacão.
Como tem sido a adaptação ao Rio de Janeiro?
Tem sido boa, mas difícil ao mesmo tempo. Há uma grande quantidade e complexidade de assuntos para tratar. O Brasil e o Rio de Janeiro são ótimos para passar férias mas difíceis para viver. Além disso, sou emigrante pela primeira vez. Não é fácil estar longe da família e dos amigos. Mas é uma oportunidade de carreira única e irrepetível.
Há apreensão dos brasileiros em relação aos Jogos, mas também da própria imprensa internacional sobre a capacidade do país para ter tudo pronto a tempo.
Sim, é verdade, mas é preciso perceber que, provavelmente, os Jogos nunca foram organizados numa cidade com tantos problemas. São as dificuldades financeiras, é a poluição, é a corrupção, é a situação política, é a finalização das infraestruturas desportivas. Tem sido feita uma grande tempestade em copo de água, como o caso das condições vila olímpica, mas o que é certo é que houve apenas uma uma comitiva que se queixou. É uma comitiva importante, a australiana, mas foi só uma. E as coisas já foram corrigidas e a delegação australiana já veio dizer que, entretanto, tinha ficado tudo bem. Mas há pormenores que só vão ficar acabados à última hora.