Quando o Facebook se transforma no diabo. Ativistas acusam rede social de incentivar genocídio

A plataforma criada por Zuckerberg foi acusada de ser uma ferramenta de incentivo ao ódio e ao genocídio contra os Rohingyas, uma minoria muçulmana. O CEO respondeu: vai reforçar as ferramentas de controlo de conteúdos no Myanmar

Na Birmânia a internet é o Facebook. E é nesta rede social que tudo acontece. Isso mesmo se lê numa reportagem publicada no El País, esta sexta-feira, onde se fala sobre o uso da plataforma criada por Mark Zuckerberg como uma ferramenta de incentivo ao ódio e ao genocídio da população de minoria muçulmana, os Rohingyas.

Desde agosto de 2017 que os militares da Birmânia, em colaboração com grupos budistas incentivados por monges xenófobos através do Facebook, têm agido com extrema violência na perseguição a essa minoria, que começou na década de setenta.

As forças armadas são suspeitas da pratica de crimes como assassinatos e violações. Mais de 650 mil pessoas fugiram para o Bangladesh para escapar a esta perseguição, que tem na sua génese a intolerância religiosa.

Com a chegada da internet e dos telemóveis à Birmânia houve um ganho de liberdade de expressão para uma sociedade budista pouco democratizada.

Temo que o Facebook tenha-se tornado uma fera, o que não era a intenção original

O Facebook transformou-se no meio de comunicação de massas mais eficaz do país. E a pouca vigilância dos conteúdos publicados fez dele uma poderosa arma na transmissão de mensagens radicais extremistas.

"Temo que o Facebook tenha-se tornado uma fera, o que não era a intenção original", disse Yanghee Lee, pesquisador da ONU em Myanmar, em Genebra, em março. Especialistas no país concordam que a rede social tem sido o grande baluarte de transmissão do ódio.

Nesta ocasião, o Facebook foi acusado pela ONU de contribuir "substantivamente" para o "nível de violência" contra os muçulmanos Rohingya em Myanmar.

Marzuki Darusman, presidente de uma investigação das Nações Unidas sobre direitos humanos, disse à CNN que "o discurso de ódio e incitação à violência nas redes sociais é desenfreado, particularmente no Facebook" e em grande parte "não é controlado".

A resposta do Facebook

Na sequência do escândalo da Cambridge Analytica, Mark Zuckerberg afirmou em entrevista à Vox que o Facebook era eficaz em detetar e eliminar o discurso de ódio naquele país asiático.

"O discurso de ódio é um problema real, e queremos ter certeza de que estamos a usar todas as ferramentas disponíveis para eliminar conteúdos que incitem a violência. Basicamente queremos proteger a integridade das discussões civis. Exemplo disso mesmo é o que estamos a fazer em lugares como a Birmânia, ou em alguns lugares dos EUA."

Após estas declarações um grupo de representantes da sociedade civil birmanês e alguns empresários escreveram uma carta aberta ao CEO da rede social. Os signatários insistem para que ele "invista em mais moderação" nos discursos usados, especialmente em lugares como Myanmar, "onde o risco do conteúdo do Facebook desencadear a violência aberta é agora maior do que em qualquer outro lugar".

Zuckerberg já pediu desculpa e anunciou, durante a sua ida ao Congresso dos EUA, que irá "redobrar dramaticamente" os mecanismos contra as publicações xenófobas no país, prometendo rever todas as mensagens de ódio que encontre na rede social.

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