"Há anos que Vaz Marques não vem à TSF". Conselho de redação reage a queixas do jornalista
Não há qualquer evidência de "bullying profissional ou qualquer situação atentatória da dignidade profissional do jornalista Carlos Vaz Marques"; qualquer jornalista da TSF, "inclusive jornalistas com décadas de casa", fazem contactos simples e chamadas telefónicas rápidas relacionadas com notícias do dia a dia", no âmbito do "principal produto da TSF, os seus noticiários", que são responsabilidade das equipas de turno.
E desde que as novas instalações foram inauguradas, em 2016, "por razões que nunca foram explicadas à redação da TSF", a ausência de Vaz Marques "foi particularmente evidente. Existem colegas com vários anos de casa que nunca o viram, exceto na televisão. A ausência tornou-se, a determinada altura, fisicamente evidente através de um monte de livros que lhe eram enviados por editoras e que se iam acumulando, num caixote, ao lado das impressoras".
Duro e incisivo, é assim que o Conselho de Redação da TSF, rádio do GMG, reage ao texto publicado por Carlos Vaz Marques na sua página de Facebook, anunciando a sua saída da TSF e a instauração de um processo em tribunal contra o Global Media Group por alegado "bullying profissional". Em comunicado a que o DN teve acesso, o Conselho de Redação sublinha que, "dentro da limitação do teletrabalho" que Carlos Vaz Marques pediu para manter por "razões de saúde", "as tarefas propostas ao jornalista eram semelhantes às de qualquer outro colega e não existia nenhuma indicação da direção para tratar este jornalista de forma diferente".
No texto publicado naquela rede social, Vaz Marques declarava ter passado meses numa "situação atentatória" da sua dignidade profissional por ter sido "colocado numa equipa de turno" e pelo facto de a sua atividade se ter limitado, "nos dias em que houve alguma coisa para fazer", a tarefas como "telefonemas de circunstância e à recolha de curtas declarações telefónicas gravadas a respeito de temas correntes, frequentemente sem qualquer relevância noticiosa".
Os membros do Conselho de Redação da TSF vincam agora que "Carlos Vaz Marques assumia, no essencial, uma postura passiva de fazer aquilo que lhe era pedido, notando-se algum desconforto. CVM chegou a pedir a um editor que lhe indicasse as perguntas que devia fazer, numa atitude pouco comum para um jornalista com tanta experiência. Para além da reunião inicial, praticamente todas as comunicações de Carlos Vaz Marques com as equipas eram feitas por e-mail, situação que desde o início causou estranheza a vários colegas, habituados a ter o diálogo constante como uma das marcas do trabalho na redação da TSF", lê-se no dito comunicado.
"O jornalista Carlos Vaz Marques (CVM) publicou um texto no Facebook onde anunciou a sua saída da TSF e a instauração de um processo em tribunal contra o grupo detentor da TSF - o Global Media Group - por alegado "bullying profissional". Acontece que no texto CVM considera que, nos últimos meses, passou por uma "situação atentatória" da sua dignidade profissional por ter sido "colocado numa equipa de turno" e pelo facto de a sua atividade se ter limitado, "nos dias em que houve alguma coisa para fazer", a tarefas como "telefonemas de circunstância e à recolha de curtas declarações telefónicas gravadas a respeito de temas correntes, frequentemente sem qualquer relevância noticiosa".
No seguimento destas afirmações públicas, os membros eleitos do Conselho de Redação (CR) da TSF foram contactados por vários jornalistas da redação que solicitaram que o CR tomasse uma posição e respondesse às críticas consideradas injustas que visavam a redação da TSF. Após contactos com diversos colegas que trabalharam no último meio ano com Carlos Vaz Marques e depois de obterem alguns esclarecimentos do diretor e de antigos membros de direções da TSF, os membros eleitos do CR tornam públicos os seguintes esclarecimentos.
1 - Sobre a acusação de "bullying profissional"
A acusação feita por Carlos Vaz Marques é especialmente grave ao associá-la diretamente ao trabalho na equipa em que foi integrado: "Vi-me durante meses sob uma situação que só posso descrever como uma forma de bullying profissional". A acusação não exclui os jornalistas que editaram a referida equipa, vários deles com mais de 20 anos de TSF e cujo contributo para a afirmação da rádio é notório. Os membros eleitos do CR contactaram os jornalistas que trabalharam regularmente com Carlos Vaz Marques no referido horário entre março e julho de 2021 e nenhum afirma ter visto ou notado alguma evidência de "bullying profissional" ou qualquer "situação atentatória" da dignidade profissional do jornalista Carlos Vaz Marques.
A utilização daquelas expressões só pode ser entendida à luz do facto de estar em curso um litígio com a administração do GMG. Mas os membros eleitos do CR não podem deixar de lamentar que sendo CVM um profissional com décadas de experiência e conhecedor do peso das palavras, não tenha demonstrado a menor intenção de separar as águas, acabando por envolver outros jornalistas nesta acusação.
2 - Sobre as tarefas que CVM desempenhou nos derradeiros meses na TSF
Afirma o jornalista: "Fui colocado numa equipa de turno e ao longo dos últimos meses a minha atividade profissional limitou-se (nos dias em que houve alguma coisa para fazer, pois na maior parte deles em nada pude contribuir para a antena da TSF, embora sujeito a cumprir horário), a uns telefonemas de circunstância e à recolha de curtas declarações telefónicas gravadas a respeito de temas correntes, frequentemente sem qualquer relevância noticiosa." Na TSF a direção não tem, na grande maioria dos temas, qualquer intervenção direta nos assuntos que chegam aos noticiários da rádio, sendo essa seleção feita, sobretudo, pelos editores. Numa rádio como esta, as equipas de turno são responsáveis pelo principal produto da TSF, os seus noticiários. E isto pode implicar contactos simples e chamadas telefónicas rápidas relacionadas com notícias do dia a dia, algo que, de resto, é desempenhado pela generalidade dos jornalistas da TSF, inclusive jornalistas com décadas de casa.
Acresce que CVM, alegando razões de saúde que derivam do quadro de pandemia, optou pelo regime de teletrabalho tornando mais restrito o leque de tarefas que lhe podiam ser sugeridas, excluindo, por exemplo, o género nobre da reportagem, tão caro ao antigo jornalista da TSF. Todos os jornalistas ouvidos pelos membros eleitos do CR dizem que, dentro da limitação do teletrabalho, as tarefas propostas a Carlos Vaz Marques eram semelhantes às de qualquer outro colega e não existia nenhuma indicação da direção para tratar este jornalista de forma diferente.
Vários colegas que trabalharam com Carlos Vaz Marques relatam que este estava presente, por videochamada, na reunião inicial do turno, mas raramente ou nunca lhe ouviram qualquer crítica positiva ou negativa sobre o trabalho que lhe era atribuído e, sobretudo, qualquer proposta ou ideia para abordar ou desenvolver qualquer trabalho ou tema diferente. Podia tê-lo feito, já que CVM sabe, melhor do que ninguém, que a apresentação de propostas e ideias é comum neste tipo de reuniões. Carlos Vaz Marques assumia, no essencial, uma postura passiva de fazer aquilo que lhe era pedido, notando-se algum desconforto. CVM chegou a pedir a um editor que lhe indicasse as perguntas que devia fazer, numa atitude pouco comum para um jornalista com tanta experiência.
Para além da reunião inicial, praticamente todas as comunicações de Carlos Vaz Marques com as equipas eram feitas por e-mail, situação que desde o início causou estranheza a vários colegas, habituados a ter o diálogo constante como uma das marcas do trabalho na redação da TSF.
3 - Uma ausência prolongada
Por razões que nunca foram explicadas à redação da TSF, há anos que Carlos Vaz Marques deixou de frequentar as instalações da rádio. Desde que as novas instalações foram inauguradas em 2016 e até ao final de 2020, quando foi convocado para uma reunião pelo novo diretor da TSF, a sua ausência foi particularmente evidente. Existem colegas com vários anos de casa que nunca viram CVM, excepto na televisão. A ausência tornou-se, a determinada altura, fisicamente evidente através de um monte de livros que lhe eram enviados por editoras e que se iam acumulando, num caixote, ao lado das impressoras.
Por outro lado, com o fim da rubrica "O Livro do Dia", a meio de 2019, um programa diário de 3 minutos em que o próprio apresentava e comentava um livro, Carlos Vaz Marques ficou somente com a função de apresentar e moderar o programa "Governo Sombra". Contactado pelo novo diretor no final de 2020, que na altura recusou a proposta feita por Carlos Vaz Marques do regresso à antena da rubrica "O Livro do Dia", a nova direção da TSF estimou que o "Governo Sombra" ocuparia 40 por cento do tempo de trabalho de CVM, pelo que no restante tempo - três dias por semana - o jornalista seria integrado, a partir de 1 de março, numa equipa dos noticiários, nomeadamente aquela que está ao serviço das 9 às 16 horas, de segunda a quarta-feira.
Como tem sido público por posições recentes deste e de antigos Conselhos de Redação da TSF com críticas aos caminhos seguidos por várias administrações do Global Media Group, a redação da TSF vive uma situação de escassez de recursos humanos que se tem agravado.
A ausência de Carlos Vaz Marques da redação e o facto de apenas fazer o "Governo Sombra" - um excelente programa, algo que não se contesta - foram causando cada vez maior incompreensão junto de vários jornalistas.
4 - Indignação
Perante todo o historial antes descrito, é perfeitamente justificada a indignação sentida por muitos jornalistas da TSF depois de lerem o texto de Carlos Vaz Marques. O jornalista colocou publicamente em causa a dignidade e competência profissional dos seus pares e em alguns casos até o seu caráter.
Os membros eleitos do Conselho de Redação da TSF lamentam ter de debater em público problemas internos. Os conflitos entre funcionários e empresas são comuns e é legítimo que cada parte tente defender os seus interesses. O texto de despedida divulgado por Carlos Vaz Marques faz, no entanto, um ataque totalmente injustificado a uma redação que não pode nem deve ser envolvida no meio de um processo que objetivamente é, apenas, laboral.