Forrest Gump inglês: a nova estrela do Discovery

"Todas as noites dormia em campos selvagens", contou ao DN o protagonista de "Running Britain"
Publicado a
Atualizado a

Em 2008 fez a volta à Grã-Bretanha em bicicleta. Em 2013 repetiu o percurso, mas a nado. "Quando cheguei a casa, sentei-me no sofá, estava a falar com amigos e eles disseram-me: "Já fizeste a volta em bicicleta e a nado, porque não terminar no triatlo?".Sean Conway confessa que nunca foi bom corredor. Não costuma correr, sequer. Foi precisamente isso que o levou a aceitar o desafio. "Queria aprender uma nova modalidade e achei que seria espetacular fazê-lo desta forma", contou ao DN.

O Discovery Channel não quis perder pitada. Ligaram as câmaras e acompanharam o fotógrafo de 34 anos numa corrida de mais de 1600 quilómetros pelo Reino Unido, que durou seis semanas. Um feito que lhe valeu a alcunha de "Forrest Gump" inglês (embora tenha nascido no Zimbabwe), em homenagem à personagem popularizada por Tom Hanks no filme de 1994 com o mesmo nome. O resultado está à vista em Running Britain, um documentário de dois episódios que foi para o ar nesta terça-feira, 24 de novembro, às 23.50, no canal por cabo.

O tiro de partida foi dado em Londres. O que se seguiu foi tudo menos fácil. "Fiz a corrida totalmente sozinho, sem equipa e sem médicos, com uma tenda, uma muda de roupa e uns ténis", contou Conway. "Todas as noites dormia em campos selvagens, em propriedades abandonadas e sempre na minha tenda. Queria viver uma verdadeira aventura pela Grã-Bretanha, não queria que fosse planeado. Foi muito mais emocionante assim", explicou.

Pelo caminho, sofreu uma lesão no joelho. Levantou-se, recompôs-se, continuou e até deixou crescer a barba, que serviu para prevenir picadas de insetos. Nas terras por onde foi passando, apoio não lhe faltou. "Eu sou parecido com o "Forrest Gump" e as pessoas, de repente, decidiam vir correr comigo! Houve quem viajasse de carro durante cinco horas para me ver passar, o que é espetacular! E lembro-me de uma família que apareceu mascarada. O pai estava vestido de crocodilo e a mãe de fada. Acompanharam-me durante a corrida ao longo do rio, com os filhos de 4 ou 5 anos, muito novos", contou o atleta. Em momentos como esse, disse, sentiu que estava a passar a sua mensagem. "Qualquer pessoa consegue fazer o que quiser e quando quiser. Somos todos mais fortes a nível físico e mental do que julgamos. Eu próprio não era um bom corredor e consegui completar uma corrida de 1600 quilómetros sem ajuda."

Será que alguma vez pensou desistir? "Todos os dias!", assegurou Sean. "Correr é muito, muito difícil. Senti isso nos joelhos, nos tornozelos, na anca, nas costas e principalmente nos rins. Todas as manhãs acordava com o corpo dorido. É nestes momentos que nos questionamos: "Porque estou a fazer isto?, porque estou a expor-me a estas dores?"."

Finalmente, um duche

Em março, o fotógrafo encontrava-se passar pela Escócia, um dos trajetos mais difíceis de toda a prova. "Estava tudo gelado! Foi especialmente difícil porque é uma das zonas mais inabitadas da Europa e não havia locais para comer e beber. Em Inglaterra, o difícil era correr nas grandes cidades, onde não havia sítios para acampar." E à medida que se foi aproximando da meta as dificuldades iam aumentando. "Em 42 dias de corrida, não tive um único dia de descanso. Corri todos os dias. No final, estava física e mentalmente cansado", sublinhou. Quando avistou o final do percurso, o Forrest Gump inglês sentiu "um grande alívio". "Quando cheguei à meta estava bastante emocionado. Algumas pessoas acompanharam-me na reta final, o que foi fantástico. Os meus pés estavam péssimos e as minhas pernas e joelhos num estado lastimável. Chegar ao fim foi um alívio, para poder tomar um duche como deve ser", brincou.

Para o futuro, Sean Conway já tem alguns desafios em vista. "Tenho em mente correr o comprimento do continente africano. Começar no Cairo [Egito] e correr até à Cidade do Cabo [África do Sul]. Mas essa será mesmo difícil, é uma corrida de quase 13 mil quilómetros."

Quanto a Running Britain, que será repetido pelo Discovery Channel a 1 e 2 de dezembro, o atleta não podia estar mais satisfeito. "O documentário mostra exatamente que as pessoas conseguem fazer muito mais do que pensam ser capazes. Não é preciso ser-se milionário nem um atleta olímpico ou pertencer ao exército para conseguir fazer o que eu fiz. Qualquer pessoa comum, como eu, que apenas decidiu que queria correr a volta à Grã-Bretanha e ter uma grande aventura, é capaz de o fazer", concluiu.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt