Trust in News com 94 salários de outubro por pagar e todos os de novembro
FOTO: Leonardo Negrão

Trust in News com 94 salários de outubro por pagar e todos os de novembro

A Trust in News, que detém 17 marcas, entre as quais Visão, Exame, Jornal de Letras e Caras, está em insolvência e tem assembleia de credores marcada para 29 de janeiro.
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O presidente do Sindicato dos Jornalistas (SJ) afirmou esta quarta-feira que estão 94 salários de outubro por pagar na Trust in News (TiN), todos os de novembro e os últimos subsídios de férias e de Natal.

Luís Simões falava na comissão parlamentar de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, no âmbito dos requerimentos dos grupos parlamentares do Livre e do PS sobre a situação em que se encontra a TiN, dona da Visão e de mais 16 marcas, que está em insolvência e tem assembleia de credores marcada para 29 de janeiro.

Atualmente, "estão 94 salários de outubro por pagar, todos os salários de novembro por pagar, os últimos subsídios de férias e de Natal e os últimos seis subsídios de refeição", detalhou o sindicalista.

O grupo conta com 137 trabalhadores neste momento.

Luís Simões apontou os efeitos da crise que a TiN tem na distribuição.

"A certa altura, neste processo, falei com a Vasp porque esta manifestou alguma preocupação com a quebra que será muito grande nas receitas", de "200 mil euros", o que terá impacto na imprensa regional, prosseguiu.

Até porque a Vasp terá dito que "não consegue manter preços sem a TiN", pelo que se aumentar os preços isso vai refletir-se na imprensa regional e local.

"Acho que houve em alguns momentos alguma irresponsabilidade na gestão [da TiN], porque não se pagou à Segurança Social e à Autoridade Tributária", que são os dois maiores credores da dona da Visão e chumbaram o Processo Especial de Revitalização (PER).

A Comissão de Credores tem como membros efetivos o Instituto da Segurança Social, Autoridade Tributária, Impresa Publishing, Novo Banco e Representante dos trabalhadores a indicar pela Comissão de Credores. Os CTT e o BCP são membros suplementes desta Comissão. 

Luís Simões salientou que é preciso "ter algumas soluções" antes de se chegar a 29 de janeiro.

Algumas dessas soluções podem passar pelo levantamento dos penhores por parte da Autoridade Tributária (AT) e da Segurança Social.

"O Estado não pode perdoar dívidas, mas haverá formas de permitir que a Visão seja um título viável", que se levante penhores e que esta "possa ser vendida, ser sustentável", defendeu.

"Acredito que a solução possa passar por aí, tive a garantia que dentro do quadro legal [o Governo] está disposto a tudo fazer para salvar títulos" por estes "serem fundamentais à democracia" e é importante ter "uma imprensa livre e forte", reforçou.

Esse é um caminho para a AT e a Segurança Social encontrarem formas de "não serem carrascos", "temos que ter soluções" antes da assembleia de credores, insistiu.

Luís Simões disse ainda que uma das questões que gostaria de colocar a Luís Delgado, dono da TiN, era porque não apresentou o plano quando estava a decorrer o PER.

"Porque é que o plano não avançou antes de chegarmos aqui", questionou

"Não sabemos se houve má gestão", mas houve "inação", diz Comissão de

No Parlamento, a Comissão de Trabalhadores (CT) da Trust in News (TiN) afirmou que não pode dizer se houve má gestão na dona da Visão e de outros 16 títulos, mas considerou que houve "inação" da parte da administração.

Carolina Almeida, membro da Comissão de Trabalhadores da TiN, foi questionada pelo Bloco de Esquerda (BE) se houve má gestão, mas a CT referiu não poder responder a isso.

"Eu, pelo menos", e o Rui da Rocha Ferreira, membro da CT também presente na audição, "não somos especialistas em gestão, temos a nossa perceção, e a palavra mais ouvida" sobre a situação do grupo "é inação", afirmou.

Ou seja, "não sabemos se houve má gestão", mas houve "uma inação", rematou Carolina Almeida, referindo que ao longo do tempo deveriam ter sido "tomadas algumas ações".

O sentimento é de que "deveria ter sido feito mais alguma coisa para não chegarmos a este ponto, as decisões deveriam ter sido mais duras" para "não colocar os trabalhadores nesta situação", acrescentou.

Já Rui da Rocha Ferreira salientou que a gestão "boa não foi", referindo que quando o PER não foi aprovado havia indicação de que havia dinheiro para pagar algumas dívidas.

"Mas se tinha dinheiro por que não meteu", questionou, afirmando que a essa pergunta nunca houve resposta.

A Trust in News, do grupo liderado por Luís Delgado, detém 17 marcas e conta com 137 trabalhadores.

Rui da Rocha Ferreira salientou que, após a compra do grupo à Impresa, em 2018, a "fase da pandemia foi muito crítica", a que se juntou depois a guerra na Ucrânia, em que "o preço do papel encareceu", somando-se os salários em atraso.

Enquanto CT, "demos sempre o benefício da dúvida", salientou, sublinhando que "Luís Delgado sempre teve abertura tanto com CT" como com os delegados sindicais e outros representantes.

"Sempre houve abertura para falar" com Luís Delgado, "sempre fomos alertando para os problemas que eram óbvios e nunca sentimos da parte da administração o mesmo nível de preocupação", disse.

A CT apelou à intervenção do Governo na mediação junto dos credores, já que há marcas de revistas que foram dadas como garantias à Segurança Social e à Autoridade Tributária -- maiores credores da TiN -- para em caso de haver interessados "essa questão das garantias não vir a ser um entrave".

Já "é altura de os deputados discutirem de forma séria o que querem da comunicação social, tem de ser definido como setor crítico", defendeu Rui da Rocha Ferreira, apontando que em caso de "crise, por exemplo, haver um fundo que possa intervir" e uma "vigilância às contas" das empresas do setor.

Aliás, "pode e deve-se começar a olhar de forma mais estrutural para as empresas de comunicação", defendeu, rematando: "Se é para a TiN cair, que se aprenda alguma coisa" com isso.

Situação da Trust in News teria "exigido medidas mais musculadas"

A Comissão de Trabalhadores da Trust in News (TiN) considerou ainda que a situação do grupo dono da Visão teria "exigido medidas mais musculadas" e que houve duas propostas de compra de publicações que não foram aceites.

"Considerando o estado em que a empresa estava", isso teria "exigido medidas mais musculadas", afirmou Rui da Rocha Ferreira, membro da Comissão de Trabalhadores (CT) da TiN, em resposta a questões do PS.

Questionado sobre se houve tentativa de tomar medidas para estancar a atual situação do grupo, o representante da CT disse que "sim e não", referindo que este é "o sentimento mais generalizado".

Desde 2018, altura em que a TiN comprou as publicações à Impresa, "aconteceu muita coisa, uma pandemia, uma guerra" e as empresas "têm de saber adaptar-se às exigências do mercado", prosseguiu.

"É opinião comum que deveria ter sido feito algo mais", sublinhou o responsável da CT, que entrou em funções em junho.

Este ano, saíram da empresa "55 trabalhadores" e "entraram 11", detalhou.

Relativamente se foi feita uma reestruturação, a CT adiantou que houve corte de despesas, que inclui corte de licenças de software, serviços de fotografia e de agência noticiosa.

"A própria questão, como os salários, iam chegando tarde" levou a que a situação se tornasse "insustentável e provocou um desgaste brutal nas pessoas", levando à saída de trabalhadores que não queriam fazê-lo, mas não tinham outra hipótese.

"Pode-se alegar reestruturação, mas na nossa opinião" esta tem de ter estratégia, ser organizada e ter objetivos.

Já em resposta ao Livre, o membro da CT da TiN referiu que houve "duas propostas oficiais à administração para compras de publicações durante o período de recuperação".

Estas "propostas não foram aceites", porque segundo a administração "não eram vantajosas", referiu.

A dona da Visão, Caras,  Jornal de Letras, Exame, entre outros, está em insolvência e tem assembleia de credores marcada para 29 de janeiro.

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