Quando a publicidade falha ao seu próprio público. Anúncios que deram controvérsia
O recente caso da mudança de imagem da Jaguar e respetivo anúncio de publicade -- que, tal como o DN noticiou, está a dar muito que falar -- não é, de todo, caso único no meio publicitário.
Só nos últimos meses têm ocorrido controvérsias com grandes marcas cujos os criadores das respetivas campanhas -- e, mais importante ainda, quem as aprovou -- seguramente não esperavam.
Uma das mais recentes foi com a gigante mundial Coca-Coca.
IA em demasia é demais
Os anúncios de Natal da centenária bebida gaseificada são de tal forma clássicos que foi em 1931 que o ilustrador Haddon Sundblom criou, por encomenda para a Coca-Cola, a figura do Pai Natal que hoje reconhecemos enquanto tal: o homem barbudo, sorridente e de bochechas rosadas.
De então para cá, variantes do "comboio da Coca-Cola", em camiões ou sobre carris, a levar alegria às famílias em outdoors e, depois, na televisão têm sido uma constante anual.
Este ano o caso não foi diferente, mas a marca decidiu inovar... com Inteligência Artificial. E a artificialidade das imagens soube mal aos espetadores e internautas -- bem pior do que o gosto mais ou menos único do líquido castanho escuro inventado em 1886 pelo farmacêutico norte-americano John Pemberton.
A campanha total compreende três spots, criados por três estúdios de IA (Secret Level, Silverside AI e Wild Card), todos feitos por IA generativa -- ou seja, nada do que ali aparece existe na realidade.
Só que ao mesmo tempo, como escreve a revista Forbes, os spots são demonstrativos das próprias limitações (ainda) desta tecnologia. As distorções faciais nas "pessoas", os movimentos pouco naturais, erros de perspetiva... tudo aquilo parece estranho. Um verdadeiro tiro no pé.
Quando o produto arrepia
Que o ketchup é substituto para sangue nos filmes de (muito) baixo orçamento toda a gente sabe. Que se aprove uma campanha publicitária de uma marca de ketchup a lemrbrar disso mesmo, talvez não seja boa ideia.
Isto apesar de ser por alturas do Halloween e da estreia de um novo filme de Joker. Foi este o racional por trás da série It Ha-Ha-Has to Be Heinz, da Gut Agency, cujo impacto foi tão grande que a marca simplesmente acabou por a retirar "do ar", no início de outubro. Até de racista foi acusada...
Ainda a Heinz...
E por falar em racismo... A Heinz não teve um mês de outubro nada bom. No Reino Unido, foi acusada de usar de esterótipos rácicos com o cartaz Family Portraits (Retratos de Família) - criada pela VML Spain - em que, simplesmente, fez desaparecer o "pai negro" da foto.
A publicidade era a um molho para massa e na foto aparece um casa recém-casado. A noiva delicia-se com uma garfada de esparguete perante o olhar do noivo e dos sogros e da sua mãe. O seu pai não está presente.
"É uma forma de subtilmente perpetuar as ideias acerca dos pais negros", afirmaram imediatamente várias pessoas nas redes sociais.
Ao ponto de a marca multinacional ter feito um pedido de desculpas público e retirado a campanha: “Apresentamos as nossas mais profundas desculpas e continuaremos a ouvir, a aprender e a melhorar para evitar que isto volte a acontecer no futuro”, escreveu em comunicado divulgado pelos media internacionais.
Cruzar uma linha vermelha
No início deste ano, a multinacional sediada na Suécia H&M deu um faux pas que lhe valeu uma grande controvérsia.
Tudo se prende com o significado que institivamente hoje em dia damos à expressão "virar cabeças".
A campanha tinha o slogan "Faça virar as cabeças com estilo no Regresso às aulas da H&M."
A marca foi acusada de sexualizar as menores na foto e de, com isso, até de poder incentivar predadores.
Rapidamente a marca removeu o anúncio. “Lamentamos profundamente a ofensa que isso causou e estamos a analisar como apresentaremos as campanhas daqui para a frente”, disse uma porta-voz, citada pela AFP.
Apesar de se poder dizer que toda a publicidade é boa publicidade -- pelo menos fala-se na marca --, há alguma que, apostamos, quem a aprova pagava para que nunca tivesse acontecido.