FOTO: Carlos Pimentel
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Plano de Ação para os Media marcado pelas críticas de Montenegro aos jornalistas

Fim da publicidade na RTP, apoios à contratação de jornalistas e assinaturas gratuitas para estudantes são algumas das 30 medidas destinadas à comunicação social que integram o pacote anunciado pelo Governo. Discurso do primeiro-ministro gera críticas da oposição.
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O pacote demorou seis meses a ser desenhado e foi discretamente aprovado em Conselho de Ministros, mas sem qualquer divulgação pública. O objetivo era o de oferecer às 30 linhas estratégicas que sustentam o Plano de Ação para os Media a devida pompa e a circunstância na sua divulgação. O documento foi apresentado ontem, numa conferência“O Futuro dos Media”, em Lisboa, organizada pela Plataforma Media Privados (PMP), que integra a Media Capital, a Impresa, a Medialivre, o Público e a Renascença.

As três dezenas de medidas, dirigidas à comunicação social, que que irão custar ao Governo 55,2 milhões de euros, assentam em quatro eixos estratégicos: regulação, serviço público concessionado, incentivos ao setor e combate à desinformação e literacia mediática.

O primeiro-ministro abriu a sessão pouco depois das 09h00 e roubou o protagonismo a Pedro Duarte, ministro dos Assuntos Parlamentares, a quem incumbia a função de deslindar o documento, num discurso que ficou marcado pelas críticas tecidas aos jornalistas.

Luís Montenegro sublinhou a importância de “construir os alicerces da sustentabilidade financeira deste setor para que possa depois ser traduzido num maior grau de liberdade e em prosseguição do interesse público de informar” e rejeitou “qualquer tipo de intromissão no espaço que é o reduto do jornalismo”. Contudo, o líder do Executivo não se coibiu de apontar o dedo aos profissionais da comunicação social. “Vou fazer uma pequena provocação, não é para criticar ninguém em especial. É só para verem como é que me impressionam, seja pela positiva, seja pela negativa”, referiu. Os exemplos à conduta dos jornalistas sucederam-se.

“Uma das coisas que mais me impressiona hoje, quero dizer-vos aqui olhos nos olhos, é estar com seis ou sete câmaras à minha frente e ter os jornalistas a fazerem-me perguntas sobre determinado acontecimento e ver que a maior parte deles tem um auricular no qual lhe estão a soprar a pergunta que devem fazer. E outros à minha frente pegam no telefone e fazem a pergunta que já estava previamente feita”, repudiou.

Montenegro considerou que, desta forma, “os senhores jornalistas não estão a valorizar a sua própria profissão, porque parece que está tudo teleguiado, está tudo predeterminado”. O primeiro-ministro defendeu ainda que a comunicação social deveria ser “mais tranquila na forma como informa e como transmite os acontecimentos e não tão ofegantes”. 
A intervenção do primeiro-ministro não foi bem recebida pelos partidos da oposição, com o PS, o Bloco de Esquerda, a Iniciativa Liberal e o PAN a criticar as palavras de Montenegro. 

Partidos e o "ataque" à RTP

Também as medidas que visam a RTP, e que ditam o corte progressivo da publicidade até 2027, com um impacto de 18 milhões de euros, foram mal acolhidas e vistas como um “ataque” pelo PS, BE e PCP que pediram, neste âmbito, a audição de Pedro Duarte no Parlamento. Já o presidente do conselho de administração da RTP, Nicolau Santos, lamentou que o Governo não tenha concordado com a sua contraproposta, de reduzir a publicidade em vez de a eliminar, e alertou que a estação pública de televisão irá “perder relevância”.

Em resposta, o ministro que tutela a comunicação social garantiu que o travão à publicidade irá reforçar o serviço público da estação. “Temos alguma urgência e queremos transformar o país, [e essa transformação] não se compadece com inércias e apatias. A RTP será melhor sem publicidade comercial. Não encontramos subterfúgios e estamos a dar um prazo que nos parece relevante [para o fim da publicidade, até 2027]. Isso será acomodado sem grande problema por parte da gestão da RTP e estou certo de que o presidente [Nicolau Santos] reconhecerá que a RTP será relevante”, retorquiu. 

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