Caro Adam Mosseri, penso que estamos a sofrer de um problema de comunicação. Este fim-de-semana abri o Instagram para obter a minha dose diária de actualizações visuais das pessoas que sigo e fui acossada por vídeos aos berros em tamanho gigante de influenciadores que desconheço. O redesenho da aplicação agora oferece sobretudo anúncios, vídeos recomendados e influenciadores sugeridos. Talvez um em dez conteúdos seja uma fotografia estática. Talvez um em cada vinte conteúdos seja de alguém que remotamente me lembro de saber quem é. O Instagram transfigurou-se e não foi para melhor..Caro Mosseri, CEO da plataforma que nos viciou em fotos filtradas, se eu quisesse usar o TikTok abria o TikTok..Mas não quero. Eu quero as fotos filtradas e em poses artísticas a que tenho direito. Eu quero ver o que a minha ex-colega de há quinze anos com quem nunca mais falei na vida real anda a fazer. Eu quero um carrossel de fotos do casamento da prima do meu ex-vizinho. Que diabos, eu quero ver qual a fatiota que o cão do meu ex tem esta semana..O novo formato do Instagram, que procura copiar o TikTok porque Mark Zuckerberg anda a dizer há anos que o futuro é o vídeo, pode bem mandar-me de volta para o Facebook. O que talvez seja o propósito: Zuckerberg quer apelar a uma faixa etária o mais baixa possível, ávida consumidora de vídeos, menos paciente para ler legendas longas e ponderadas em imagens estáticas, fundamentalmente conectada de forma diferente. Este é o nosso momento "Ok, millennial." Recambiando utilizadores acima dos 25 anos do Instagram para o Facebook, talvez seja possível que a aproximação ao TikTok atraia os utilizadores muito jovens..Também é possível que esses utilizadores muito jovens prefiram o original, porque esta transfiguração do Instagram é uma espécie de centauro das redes sociais. A Meta (casa-mãe do Facebook e Instagram) sabe que tem o seu crescimento futuro ameaçado. Os utilizadores que tornaram o Instagram num sucesso há dez anos foram segmentados para uma faixa etária que interessa menos aos anunciantes. A rede precisa desesperadamente de aumentar o volume de utilizadores mais jovens, enquanto o Facebook precisa de voltar a crescer..Zuckerberg tem um histórico longo de copiar as melhores funcionalidades da concorrência - talvez a imitação desbragada do Snapchat seja a mais conhecida, mas há outros exemplos. Este é o último. A aproximação do Instagram ao TikTok, que tem vindo a acelerar em 2022, está no seu pico..A questão é se desta vez vai funcionar. A descaracterização de uma app com 1,21 mil milhões de utilizadores é arriscada. Não estamos a falar de pequenas alterações, daquelas que são sempre criticadas por pessoas que detestam a mais pequena mudança. Estamos a falar de uma reviravolta completa, que torna difícil o consumo da app. As pessoas não deviam ter de escolher entre só ver Stories e ser bombardeadas com vídeos em ecrã inteiro de contas que desconhecem..Mesmo para os influenciadores estas mudanças podem ser contraproducentes. Aqueles que fizeram do Instagram o seu maior ponto de contacto com os seguidores poderão registar um decréscimo do envolvimento. E se têm de criar mais vídeos ao estilo TikTok, talvez valha a pena investirem mais no TikTok..Sem saber qual o propósito real desta mudança, é difícil perceber se a cúpula da Meta a considerará um sucesso no longo prazo. Também é possível que haja um passo atrás - não seria a primeira vez que uma revolta dos utilizadores obrigava a rever alterações em redes sociais..Certo é que, de todas as mudanças que andámos a clamar que o Instagram devia fazer, esta não era a que tínhamos em mente.