Marcelo defende extensão das moratórias de crédito por mais três ou quatro anos

O presidente da República, em entrevista ao DN, elogia o papel da banca nesta crise, mas diz que se está a caminhar para "formas de intervenção direta do próprio Estado", não recorrendo à solução bancária.
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Marcelo Rebelo de Sousa defende a extensão das moratórias de crédito às famílias e empresas até a economia recuperar para níveis pré-pandemia. Em entrevista ao Diário de Notícias, afirma que "não era mau pensar, refletir, num prolongamento das moratórias, não pensar em mais seis meses ou mais um ano, mas mais três ou quatro anos, pois se se diz que a economia portuguesa só voltará a estar na situação em que estava em 2019, entre 2023 e 2024, faz sentido que a economia das pessoas não esteja parecida com o que era em 2019 antes, não estará certamente em 2021 e 2022".

O chefe de Estado elogia o papel da banca nesta crise - "o sistema bancário tem revelado uma precaução apreciável em termos de acompanhamento da crise pandémica, económica e social" - mas considera que se está a caminhar para outras formas de intervenção, mais direta. "Penso que se está a caminhar sobretudo para estas medidas urgentíssimas, para formas de intervenção direta do próprio Estado. Ou seja, o Estado ajudar diretamente as empresas e assim ajudar as pessoas diretamente e não recorrendo à solução bancária - que é sempre mais lenta, de arbitragem e julgamento mais sofisticado, mais complicado".

Em causa, sublinha o presidente, estão "situações como a do pequeno comércio, dos pequenos serviços, da pequena ou média restauração que precisam de soluções para ontem", num cenário de novo confinamento. "É evidente, apesar da imaginação notável de tantos setores de micro, pequenas e médias empresas para se reajustarem, com take-away, com formas diversas de exercer a sua atividade, que há prejuízos muito significativos com um fechamento assim. Esses prejuízos têm obrigado, não apenas a linhas de crédito, mas em muitos casos, cada vez mais, a financiamento que depois tem de ser posto no terreno. Aquelas empresas para manterem emprego, os pequenos e médios empresários para sobreviverem precisam de ter condições de sobrevivência".

Questionado sobre se a solidez da banca não o preocupa, Marcelo respondeu: "Se estou preocupado como estava em 2016 e em princípio de 2017, isso não estou. Naquela altura estava porque havia várias situações por definir".

Apesar de Marcelo Rebelo e Sousa não gostar da expressão "bazuca" - "dá a sensação do tiro certeiro que resolve a situação" - fala dela nesta entrevista, para sublinhar que "provavelmente teremos um calendário apertado para usar uma parte significativa do dinheiro. Portanto, tem de ser utilizado de forma relativamente mais rápida do que no caso de outros fundos europeus e, assim, mais atenta à utilização".

E também para defender que o dinheiro europeu também deve ser canalizado para combater o esperado aumento dos problemas sociais que advirão desta crise. "Nós vamos sair desta pandemia com mais desigualdades, com mais pobreza. Não dá para dizer: sim, mas a única maneira de superar as desigualdades é crescendo". Para o Presidente da República, "há de haver medidas que, antes de esperar esse momento em que temos a economia a crescer de tal forma que é possível com isso ir superando alguns problemas sociais, possam superar problemas sociais mais urgentes. Isso há de estar presente na utilização dos fundos possíveis".

"Como é que se conjuga isso com o entendimento europeu quanto aos fundos disponíveis? Não será em muitos casos no Plano - fora a saúde ou aspetos da educação ou qualificação - de Recuperação e Resiliência, será no Mecanismo Financeiro Plurianual", defende o chefe de Estado.

Leia a entrevista na íntegra aqui e aqui.

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