Mais produção e refinação ajudam Galp a atenuar efeito da queda do preço do petróleo
"Angola representa cada vez menos no negócio de produção de petróleo da Galp. Neste momento ela já retira mais crude do Brasil do que de Angola, porque os poços estão em declínio, e isso ajuda a reduzir o impacto da quebra do preço", disse ao Dinheiro Vivo um analista do mercado, que não quis ser identificado.
De facto, segundo os últimos resultados, referentes aos nove meses de 2014 (os anuais são divulgados apenas na segunda-feira), a Galp produziu 18 mil barris no Brasil e 6,9 mil em Angola, ou seja, menos de 30% da produção total e menos 18% do que no mesmo período de 2013.
E a diferença vai ser ainda maior no volume total de 2014 porque a produção de petróleo no Brasil aumentou muito no último trimestre com a entrada em operação de um terceiro navio plataforma petrolífera - o Cidade de Magaratiba - e com a plataforma Cidade de Paraty a atingir a produção máxima. Aliás, segundo os dados provisionais da empresa, publicados no final de janeiro, a produção média líquida (net entitlement), a que tem impacto nas contas da Galp, cresceu 52,5% no quarto trimestre, atingindo 33,4 mil barris diários.
É precisamente por a produção ter aumentado no Brasil que os analistas do mercado consideram que esse impacto será maior no Brasil do que em Angola e ainda que será menos sentido nas contas gerais da empresa. Contudo, mesmo não havendo perdas, haverá menos lucros. Porque, dizem, aumentar a produção é positivo e atenua o impacto da descida, mas a realidade é que produzir mais tem custos que estão a ser remunerados a um valor mais baixo. O preço do barril desceu de 100 dólares no final de 2013 para 76 dólares no final de 2014.
Aliás, é por isso que antecipam uma perda das receitas do quarto trimestre no negócio da exploração e produção de petróleo.
Refinação compensa
A Galp apresenta as contas de 2014 na segunda-feira e a estimativa do mercado aponta para uma descida nos lucros do quarto trimestre. Apesar disso, os analistas antecipam uma subida de 11,1% nos lucros anuais, que deverão ascender a 344,4 milhões de euros.
O aumento da produção de petróleo no Brasil ajuda a chegar a estes valores, mas serão as margens de refinação - a diferença entre o preço a que a Galp compra o petróleo para refinar e o preço a que vende combustíveis - que mais ajudaram a empresa a compensar as inesperadas queda no preço do crude.
"A Galp está protegida porque equilibra bem a repartição dos lucros pelas três áreas de negócio que tem [produção de petróleo; refinação e venda de combustíveis; venda de gás e eletricidade] e no quarto trimestre a refinação teve bons resultados", disse um dos analistas contactados pelo Dinheiro Vivo. Um research do Caixa BI, divulgado esta semana, referia precisamente que o negócio da refinação "deverá ser a estrela do trimestre".
É que, enquanto a descida do preço do barril é má para o negócio de produção de petróleo, ela é boa para o negócio da refinação. Com preços mais baixos, a Galp gasta menos dinheiro a comprar os barris de crude de que precisa para refinar e fazer combustíveis, aumentando assim as suas margens de refinação. mesmo com os preços dos combustíveis a descer. Um efeito que se prolongará porque, atenta a esta realidade, a Galp aproveitou para usar mais as refinarias - nos últimos três meses do ano, aumentou o crude processado de 21,2 mil barris para 24,3 mil barris.