Mais de 56% das pessoas ouvidas não conseguiu revalidar o diploma em Portugal.
Mais de 56% das pessoas ouvidas não conseguiu revalidar o diploma em Portugal.Foto: Unsplash

Mais de 40% dos brasileiros altamente qualificados em Portugal trabalham fora da área de estudo, diz relatório

Dado consta no novo relatório "Mapeamento da Diáspora Científica Brasileira em Portugal" e indica uma relação com a dificuldade de validar os diplomas brasileiros em Portugal.
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Um novo relatório apresenta um raio-x da diáspora acadêmica brasileira que vive em Portugal. Um dos dados apresentados é que 42% destes profissionais com "formação superior avançada", ou seja, acima da especialização, estão trabalhando fora da área de formação em Portugal. O documento faz um cruzamento das informações, indicando que um dos entraves está justamente na dificuldade em validar os diplomas brasileiros no país.

"Analisando a totalidade da pesquisa, observa-se uma forte relação entre a revalidação de diplomas e a inserção profissional na área de formação", consta no relatório. Mais de 56% das pessoas ouvidas não conseguiu revalidar o diploma em Portugal.

Destas, 50% não trabalham na área de formação. Já entre as que conseguiram a validação, 66% estão atuando na área em que estudou. "Esses números revelam que a revalidação do diploma aumenta significativamente as chances de inserção profissional qualificada. A taxa de sucesso na área de formação é mais alta entre quem regularizou sua titulação, enquanto aqueles que não revalidaram enfrentam maior probabilidade de atuar em ocupações distintas de sua formação original".

É recomendado que sejam criadas políticas públicas "voltadas à redução dos custos e da burocracia, ampliação de acordos de reconhecimento automático entre instituições de ensino superior brasileiras e estrangeiras". Outra sugestão é de "oferecimento de apoio específico para profissionais em transição de carreira ou que necessitem de complementação acadêmica para revalidação, especialmente em áreas estratégicas como saúde, educação, engenharia e tecnologia".

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"Cenário preocupante"

As autoras do estudo assinalam que os dados são preocupantes. "A análise da relação entre a titulação acadêmica e a atuação profissional evidencia um cenário preocupante sobre a subutilização de competências entre respondentes altamente qualificados", consta no documento.

A conclusão é que este fator "pode ser interpretado como falta de acesso às redes profissionais no país de destino e modos forçados de readequação de carreira por conta da urgência em gerar renda, levando profissionais especializados a migrarem para ocupações generalistas ou setores sem exigência de titulação".

Na visão das pesquisadoras, trata-se de uma "perda de potencial" destes imigrantes. "Profissionais especializados que atuam fora de suas áreas representam uma perda potencial tanto para os países de origem (por meio do chamado brain drain) quanto para os de destino, que deixam de se beneficiar plenamente da qualificação desses indivíduos", pontuam.

Entre as relações trabalhistas, a maior parte é bolsista, seguido de contrato formal e, em terceiro lugar, autônomos. "O levantamento evidencia que uma parcela significativa de migrantes altamente qualificados está inserida em trabalhos informais ou autônomos, com destaque para o uso dos recibos verdes", explicam. É reforçada a necessidade de "iniciativas que incentivem a integração profissional de migrantes qualificados por meio de programas para melhor absorção dessa mão de obra".

Os valores de salários recebidos por esses profissionais, giram, em média, entre os 1.000 euros e os 1.500 euros, seguido de profissionais que ganham entre 500 e 1.000 euros mensais.

A pesquisa foi desenvolvida entre 2023 e 2025 pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com coordenação da professora doutora Andrea Oltramari. O trabalho contou com apoio da Embaixada do Brasil de Lisboa.

Os dados são conhecidos na altura em que o Governo de Portugal decidiu que vai limitar o visto de procura de trabalho para profissionais com altas qualificações. O objetivo do Governo é mudar o perfil de quem procura Portugal hoje, atraindo mais trabalhadoras e trabalhadores para postos de altas qualificações.

amanda.lima@dn.pt

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