Socialistas das Caldas da Rainha contestam complexo comercial na antiga Secla
Os vereadores socialistas na Câmara das Caldas da Rainha contestaram hoje a instalação de um complexo comercial na antiga cerâmica Secla, uma fábrica histórica cuja demolição consideram ter sido aprovada sem acautelar a preservação da memória daquele património.
O complexo, a construir pela Prime Unit -- Construções Imobiliário, Lda, ainda não tem projeto aprovado, mas, segundo os vereadores socialistas, prevê "a construção de um hotel, um restaurante, um hipermercado de grandes dimensões e um parque de estacionamento a céu aberto" nas instalações da antiga fábrica Secla.
Em conferência de imprensa, Jaime Neto e Luis Patacho afirmaram hoje considerar o projeto "suburbano" e desadequado "a uma zona nobre da cidade", sobretudo atendendo "à grande dimensão e caraterísticas do hipermercado" e ao "gritante impacte" do parque de estacionamento para 156 viaturas.
Apesar de reconhecerem a necessidade de "requalificar" o espaço da antiga fábrica de cerâmicos (fundada em 1947 e encerrada desde 2008), vereadores socialistas sustentaram que "apenas o hotel representa uma mais-valia para o local, aumentando a oferta e criando instalações de três estrelas na cidade".
A unidade, que deverá ter 98 quartos, será a segunda no país [o primeiro é em Setúbal], da rede Campanile, cadeia com mais de duas centenas de hotéis na Europa e em países como a China, Vietname e Marrocos.
Já o hipermercado, com 60 por 60 metros, será "um caixote enorme" no meio da cidade, ladeado de um estacionamento que os socialistas defendem que "deveria ser subterrâneo".
A contestação ao projeto prende-se ainda com o facto de aquele "omitir qualquer tipo de memória coletiva sobre a importância da Secla", já que, após as negociações com a Câmara, o compromisso dos promotores é apenas de "manter um pórtico com parte da fachada da fábrica" numa praça "com vista para o cemitério e para o parque de estacionamento".
Segundo os vereadores, o compromisso da empresa passa ainda por criar no restaurante de comida rápida "uma sala de exposição com artigos da Secla", de preservar um painel existente num dos edifícios e de usar elementos da fábrica na decoração do hotel.
Os socialistas defendem, no entanto, que a autarquia "deveria exigir a preservação do edifício central da fábrica", onde se encontra o pórtico, "a criação de mais zonas verdes" e a minimização do impacto do complexo.
Contactado pela agência Lusa o presidente da Câmara, Fernando Tinta Ferreira (PSD), lembrou que se tratando de "um terreno privado não se pode obrigar o investidor a fazer mais" e considerou, ainda assim, "razoável" o compromisso do promotor.
Para o autarca a "a memória da Secla está assegurada nos vários equipamentos" e o complexo "contribui para a dinamização económica e a criação de emprego", além de "requalificar um espaço que no final ficará muito melhor do que está hoje", concluiu.
A Câmara aprovou no dia 10, com os votos contra dos vereadores socialistas, o projeto de demolição da fábrica.