Seis pirogas e dez canhões alvo de processo de classificação pela DGPC

Seis pirogas monóxilas e dez canhões provenientes de recolhas arqueológicas subaquáticas vão ser alvo de abertura de processos de classificação, sendo a primeira vez que tal acontece, anunciou hoje a Direção-Geral do Património Cultura (DGPC).
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A nota de imprensa da entidade, que anuncia a abertura dos procedimentos de classificação, refere que "esta é a primeira vez que bens arqueológicos provenientes de meio náutico e subaquático são objeto de procedimento de classificação como bens móveis, no quadro da lei de Bases do Património Cultural e demais legislação regulamentar".

A DGPC salienta que esta abertura é justificada pela "proteção e valorização" de peças que "representam valor cultural de significado para a Nação".

A abertura refere-se a um conjunto de seis pirogas monóxilas provenientes de recolha arqueológica subaquática realizada no rio Lima, no norte de Portugal, e de dez canhões provenientes de recolha arqueológica subaquática realizada na Ponta do Altar, no Algarve.

As pirogas foram encontradas nos sítios de Lanheses e Lugar da Passagem, freguesias de Lanheses e Geraz do Lima, concelho de Viana do Castelo, sendo que o achado da primeira piroga do conjunto remonta aos anos 1980 do século XX.

Estes bens arqueológicos encontram-se à guarda da DGPC nas reservas do Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática (CNANS), segundo aquele organismo do Ministério da Cultura.

As pirogas monóxilas são embarcações construídas a partir de um único tronco de árvore, neste caso de carvalho.

"Este conjunto apresenta um interesse arqueológico e patrimonial muito relevante enquanto testemunho notável da navegação em Portugal, e da travessia do Rio Lima em particular, desde a Idade do Ferro até à Baixa Idade Média", justifica a DGPC.

A dimensão do conjunto e de cada exemplar - uma delas com quase sete metros de comprimento -, o seu estado de conservação e a antiguidade de alguns exemplares "não têm paralelo na Península Ibérica, sendo também únicos em Portugal", acrescenta.

Sobre os dez canhões em bronze, com quase três metros de comprimento cada, conjuntamente com outras evidências arqueológicas, nomeadamente um canhão de ferro que permaneceu no local, "permitiram reconhecer um contexto de naufrágio, ainda que disperso, de um navio que terá estado ao serviço da Coroa de Espanha e que se terá perdido numa manobra mal sucedida de entrada ou saída na barra do rio Arade, constituindo, segundo os especialistas, uma das mais significativas coleções de artilharia em bronze dos inícios do século XVII, na dinastia Filipina".

O sítio arqueológico da Ponta do Altar situa-se na freguesia de Ferragudo, concelho de Lagoa. A descoberta do primeiro destes exemplares remonta aos anos 1990 do século XX.

Três dos canhões encontram-se depositados e podem ser vistos no Museu de Portimão, tendo sido temporariamente cedidos àquele município pela DGPC, enquanto as restantes bocas-de-fogo se encontram à guarda da DGPC, nas reservas do CNANS.

Estes procedimentos, de acordo com a entidade, resultam de uma proposta inicial para abertura de processos de classificação de bens móveis provenientes de meio náutico ou subaquático que foi apresentada por um grupo de investigadores do Centro de Humanidades da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, com o qual a DGPC tem um protocolo de colaboração.

A abertura dos procedimentos, "no âmbito da política da DGPC, significa o reconhecimento do inegável valor científico, técnico, estético e material de cada um destes bens arqueológicos para a história de Portugal, remetendo para traços constituintes e distintivos da nossa relação com o mar", conclui a entidade.

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