S. João da Madeira com mostra de Arte Bruta até outubro
A mostra reúne desenhos de vários autores incluídos na Coleção Treger-Saint Silvestre, que é uma referência mundial da Arte Bruta e está cedida ao município em regime de comodato, e intitula-se "As Leis do Número de Ouro", aludindo assim ao ideal da chamada "Proporção Áurea", regra matemática que desde a Antiguidade se diz adotada na construção de edifícios como as Pirâmides do Egito e em representações do corpo humano como as das pinturas de Giotto.
"Castelos, palácios e cabanas saem da mente fértil dos inocentes", anuncia a instituição. "Planos, máquinas e engenhos dão voltas incessantes acionadas pelo espírito criativo de seres que vivem à margem do mundo", acrescenta.
Entre os autores cujo trabalho se pode ver na Oliva Creative Factory incluem-se, por exemplo, o sérvio Zoran Tanasic (1967), arquiteto que afixava os seus desenhos com pioneses nas árvores de jardins públicos, ou o alemão Karl Hans Janke (1909-1988), que, internado num hospital psiquiátrico por 40 anos, desenhou 4.000 planos técnicos e até sistemas de geolocalização idênticos ao atual GPS, sempre empenhado no uso pacífico da energia nuclear e eletromagnética.
O colecionador António Saint Silvestre realça, no entanto, que algumas das obras "mais interessantes" para ver na exposição são as do canadiano John Devlin (1954), que frequentou a Universidade de Cambridge e, após uma grave depressão, "dedicou 10 anos a desenhar os planos de uma cidade utópica chamada Nova Cambriensis". Procurava assim recuperar os dias felizes da sua vida académica e, com isso, encontrar uma cura para o que reconhecia como uma doença mental.
"Outro artista importante é o brasileiro Jesuis Cystiano (1950?-2015), que viveu muito tempo como mendigo nas ruas da Bahia e só tem a sua vida documentada desde 2010, quando o dono de um hotel descobriu os seus murais majestosos e, impressionado com essa obra, o acolheu e ajudou até à morte", explica.
O colecionador destaca ainda o trabalho do autor brasileiro José Teófilo Resende, que nasceu em 1919, faleceu em data desconhecida e "do qual se sabe pouco mais", além de que era "esquizofrénico e foi internado num hospital psiquiátrico em 1958". Utilizava uma caixa de fósforos para desenhar linhas direitas e "passava vários meses em cada desenho", pelo que a sua obra acabou representada em três outras coleções, do Rio de Janeiro e Paris.
Máquinas e dispositivos eletrónicos destinadas ao Vaticano ou à agência aeroespacial NASA, calculadoras de fenómenos elétricos naturais e casas subterrâneas destinadas ao exercício da sexualidade são outras das criações cujos projetos se podem apreciar até 01 de outubro.