"A gente está vivendo um momento muito tenebroso no Brasil, em termos de política, em termos de segurança, em termos de saúde pública", afirmou em declarações à Lusa, em Lisboa, onde procura agora um trabalho que complemente a pensão que recebe do Brasil. .Miriam imigrou para Portugal, como diz, "impulsionada por motivos pessoais", como o divórcio e porque os filhos já são adultos. Mas foi a situação política e económica que o Brasil atravessa, após a eleição de Jair Bolsonaro (extrema-direita) para Presidente da República, que fez pesar na decisão. ."Não tenho filhos pequenos e já sou aposentada, resolvi cuidar de mim, mas não posso tirar esse olhar do Brasil. É muito duro para mim", considerou..Com 55 anos, Miriam chegou a Lisboa em dezembro de 2018, ao abrigo da nova Lei para os estrangeiros aposentados e aguarda agora pela marcação da chamada ao Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), ainda durante o mês de abril. "Aí eu entrego os documentos para o cartão de residência e fico procurando o que fazer". .Escolheu Portugal precisamente pela "história" dos "aposentados poderem vir para cá". Além disso, a filha, que mora fora do Brasil, tem ideia de fazer um mestrado numa universidade portuguesa. \t.A agora imigrante brasileira em Portugal trabalhou como professora de inglês e de português durante 28 anos, no Brasil.."A minha aposentadoria é transferida mensalmente para cá, mas eu preciso e quero uma complementação da minha renda (...) Achei coisas interessantes aqui", contou..Miriam enquadra-se no novo perfil de imigrantes brasileiros em Portugal, os aposentados, que procuram mais qualidade de vida.."Eu sou brasileira e adoraria estar lá no meu canto, na minha terra, se eu tivesse segurança, atendimento hospitalar, onde os filhos e netos tivessem a educação correta. Mas todos esses direitos, que qualquer cidadão tem, não estão acontecendo no Brasil já tem algum tempo", sublinhou..A questão da habitação, apontou, foi a dificuldade que encontrou em Portugal. "Lisboa está muito inflacionada, é tudo muito caro"..Miriam Guimarães está a pagar por um quarto na zona das Laranjeiras, em Lisboa, 300 euros. De resto, conta, Portugal é "um país legal"..Já a realidade de Oney Pereira Mendonça, 48 anos, é bem diferente. Motorista de pesados de profissão, está a começar tudo de novo, pela segunda vez, em Portugal..A legalização e as equivalências profissionais para poder arranjar um emprego são as principais preocupações. .Resolver uma situação económica difícil que já herdou do Brasil é o principal objetivo. .Quando falou com a Lusa tinha chegado há duas semanas a Lisboa e estava na Casa do Brasil à procura "do encaminhamento" para obter as equivalências das certificações e carta de motorista.."Porém, para que eu esteja trabalhando com pesado aqui, tem várias coisas antes. Tenho que tirar toda a documentação, o Certificado de Habilitação de Motorista e assim sucessivamente. Eu tenho no Brasil, mas os de lá não atribuem aqui", explicou Oney, que deixou a restante família no Brasil.."O Brasil encontra-se numa situação muito difícil politicamente", afirmou, justificando desta forma a partida para Portugal. ."No Brasil os políticos querem apenas roubar. As pessoas não têm coragem de dizer, mas a realidade é essa. Então eles não atendem à população, eles pegam nas verbas que são disponibilizadas para os fins públicos e usam para si próprios", relata, reforçando o descontentamento com a "sujeira" que vê no Brasil..Por enquanto vive num pequeno quarto em Negrais, Lisboa, e trabalha numa oficina. Conta que foi o patrão "que conseguiu esse sítio", a 100 metros do trabalho, onde também faz as refeições.."A burocracia é muito complicada", aponta como sendo a grande dificuldade sentida em Portugal..Por agora, vai ficar, como muitos outros imigrantes, a adiar objetivos até conseguir os recursos financeiros para se legalizar. Até lá ganha 30 euros por dia na oficina.."Por enquanto, não é grande coisa. Mas estou me regrando [poupando] para poder pagar essas taxas", concluiu.