Produtividade entre 2006-2015 foi "condicionada" pelas novas e cessantes empresas - BdP
O Boletim Económico de outubro apresenta como tema em destaque a "reafetação de recursos e produtividade total dos fatores em Portugal", que recorrendo ao uso de microdados "quantifica o contributo da reafetação de fatores produtivos para o crescimento da produtividade em Portugal, no período 2006-2015".
De acordo com o Banco de Portugal (BdP), "a evolução da produtividade neste período foi fortemente condicionada pelo contributo quer das empresas novas, que em cada ano entram em atividade, quer das empresas que cessam a sua atividade".
Ou seja, "as empresas novas surgem como mais produtivas do que as incumbentes no setor transacionável da economia (indústria e serviços transacionáveis), contribuindo positivamente para a produtividade neste setor, mas menos produtivas do que as empresas sobreviventes no setor não transacionável (serviços não transacionáveis)".
Já o contributo para a produtividade das empresas cessantes "é claramente menor no setor transacionável. A maior contribuição das entradas, bem como a menor contribuição das saídas no setor transacionável poderá estar associada ao maior grau de concorrência internacional a que este setor está sujeito, requerendo por isso, níveis de produtividade relativamente mais elevados para entrar e sobreviver no setor", refere o BdP no Boletim Económico.
"Globalmente, a reafetação total de recursos, que teve lugar não só entre as empresas sobreviventes, mas também através das entradas e saídas de empresas, teve um impacto claramente positivo para o crescimento da produtividade no setor transacionável (indústria e serviços transacionáveis), mas negativo nos serviços não transacionáveis", continua.
"A evolução negativa da reafetação total neste último setor explica, só por si, a evolução negativa da produtividade registada no próprio setor, bem como o contributo negativo da reafetação total de fatores registada para o total da economia", acrescenta.
"O contributo para a evolução da produtividade proveniente da reafetação de fatores aumentou durante os anos da crise da dívida soberana em Portugal (2011-2013), tendo desacelerado, ou mesmo diminuído, nos anos seguintes. O aumento do contributo da reafetação de fatores durante os anos da crise está em linha com a ideia de que as crises podem ter um efeito acelerador da produtividade, ao intensificarem o processo de reafetação que, nestes períodos de concorrência acrescida, leva as empresas mais produtivas a aumentarem o seu peso na economia em detrimento das empresas menos produtivas", refere.
"Os resultados obtidos neste tema em destaque, pelo contraste que evidenciam entre o setor transacionável e não transacionável da economia, sugerem que a implementação de políticas que aumentem a concorrência no setor dos serviços não transacionáveis poderá, a prazo, ter implicações importantes para o crescimento da produtividade neste setor, provenientes não só de uma maior e melhor reafetação de recursos entre as empresas incumbentes, mas também do processo de entrada e saída de empresas", conclui.
O estudo, refere o BdP, pretende ser uma primeira aproximação às grandes tendências da reafetação de fatores nos três grandes setores de atividade -- indústria, serviços transacionáveis e serviços não transacionáveis -- que diferem no grau de exposição à concorrência internacional.