Onze rapazes e uma rapariga, todos jovens, pobres e excluídos da sociedade, protagonizam a peça "Margem", que se estreia no sábado, no Centro Cultural de Belém (CCNB), em Lisboa..A partir do romance "Capitães da areia", escrito por Jorge Amado em 1937, o encenador e coreógrafo Victor Hugo Pontes e a diretora do Teatro do Vestido, Joana Craveiro, construíram uma peça sobre "os capitães da areia dos dias de hoje" - "uma peça sobre os "pobres" que, parafraseando os próprios intérpretes, "são como podres"..Uma palmeira e muitos colchões espalhados pelo chão compõem o cenário daquela família de jovens que dorme num 'trapiche' e que se vão protegendo uns aos outros da sociedade que os "centrifugou para as margens"..A peça, que vai estar em cena no Pequeno Auditório do CCB até 01 de fevereiro, e surgiu do convite da programadora da Fábrica das Artes, Madalena Wallenstein, feito a Victor Hugo Pontes, da companhia Nome Próprio, para fazer uma peça do romance de Jorge Amado, explicou o encenador à imprensa..Victor Hugo Pontes leu o romance e entendeu fazer dele "o ponto de partida" para o espetáculo, tendo convidado Joana Craveiro para "reescrever o texto"..O encenador e coreógrafo não queria fazer uma adaptação do livro para uma peça de teatro, como explicou hoje aos jornalistas no final do ensaio de imprensa de "Margem".."Queria refazer a peça, pegando nos temas, e queria-me questionar sobre quem seriam os 'capitães da areia' dos dias de hoje", acrescentou, sublinhando "ter percebido logo que eles estão institucionalizados e que, se não estivessem, estariam a viver na rua"..Exatamente "como estavam há 80 anos estes jovens e ainda estão, hoje em dia, muitos, no Brasil", disse..Então fizeram um trabalho junto do Centro de Educação e Desenvolvimento de Pina Manique -- Casa Pia de Lisboa, em Lisboa, e com o Instituto Profissional do Terço, no Porto..Victor Hugo Pontes e Joana Craveiro encontraram-se então com crianças e jovens dessas instituições, com quem fizeram uma espécie de 'workshop', tendo começado por lhes perguntar o porquê de estarem ali, sobre os seus sonhos, medos e outras questões que surgem na peça..Depois de confrontados com esta realidade, foram cruzando a ficção dos "Capitães da areia", com os relatos dos jovens institucionalizados e, depois, com os próprios intérpretes e a sua visão sobre estes temas, sublinhou.."O espetáculo foi assim construído nestes três níveis, nestas três camadas, tentando falar essencialmente dos temas que o livro levanta, apontando momentos a que se refere e ir criando um interesse junto do público para ler o livro", referiu Victor Hugo Pontes..Ao encenador não lhe interessava "fazer o livro", mas antes "criar curiosidade para perceber qual é o livro de que eles tanto falam e que conseguiram ler até ao final". Porque nenhum dos jovens dos dias de hoje leem livros até ao final..Estes jovens foram escolhidos em audição. Inicialmente eram para ser sete jovens e depois acabaram poro ser onze rapazes e uma única rapariga, à semelhança do romance original de Jorge Amado..As audições decorreram no Porto, tal como o processo de criação, uma vez que alguns são estudantes, com idades compreendidas entre os 14 anos (quatro, um dos quais a rapariga) e os 25 anos..Deste elenco de 12 pessoas, apenas dois são atores -- João Nunes Monteiro e André Cabral..A peça, com música de Marco Castro e Igor Domingues (Throes + The Shine), começa com uma forte componente musical, mas à medida que a ação se vai desenrolando, vai cedendo espaço à palavra, conferindo-lhe cada vez mais peso e importância..Com cenografia de F.Ribeiro, "Margem" é interpretada por Alexandre Tavares, André Cabral, David S. Costa, Hugo Fidalgo, João Nunes Monteiro, José Santos, Magnum Soares, Marco Olival, Marco Tavares, Nara Gonçalves, Rui Pedro Silva e Vicente Campos..A peça é representada no sábado, às 21:00, no domingo, às 16:00, e nos dias 30 e 31 de janeiro e 01 de fevereiro, às 11:00.."Margem" é uma coprodução Nome Próprio, CCB/Fábrica das Artes e Teatro Aveirense. Nome Próprio é uma estrutura residente no Teatro Campo Alegre, no Porto.