Livro de Hannah Arendt sobre Eichmann editado nos 57 anos da captura do criminoso nazi
A 11 de maio de 1960, uma equipa de agentes da Mossad capturou Adolf Eichmann, responsável pela deportação de milhões de judeus para os campos de extermínio, durante a II Guerra Mundial. A captura foi feita em Buenos Aires, Argentina, e tinha o intuito de levar Eichmann a tribunal, em Israel.
Nesse ano, Hannah Arendt, filósofa política alemã de origem judaica, já detentora da nacionalidade norte-americana, ofereceu os seus serviços ao redator-chefe da revista The New Yorker para cobrir o julgamento do oficial nazi. Da série de artigos escritos nessa altura, nasceu o livro "Eichmann em Jerusalém --- Uma reportagem sobre a banalidade do mal", cuja publicação em 1963 daria lugar a uma intensa polémica.
Em Portugal, o livro foi publicado pela primeira vez em 2003, pelas Edições Tenacitas, e chega agora novamente às livrarias, pela editora Ítcaca, numa reedição que conta com a mesma tradução, de Ana Corrêa da Silva, e a mesma introdução, de António Araújo e Miguel Nogueira de Brito.
O julgamento de Adolf Eichmann era esperado com a expectativa de ser o mais mediático, desde o julgamento de Nuremberga, mas de acordo com o que é descrito por Hannah Arendt, durante o processo percebeu que não estava perante o monstro que todos esperavam ver aparecer, mas sim perante um funcionário, um burocrata que fazia parte da máquina.
É precisamente aqui que Hannah Arendt descobre a banalidade do mal.
No conjunto de artigos, que misturam jornalismo político e reflexão filosófica, Hannah Arendt debruça-se sobre a capacidade de um Estado igualar o homicídio ao cumprimento de um dever burocrático.
Hannah Arendt verifica que Eichmann se comporta como um funcionário público, obediente, incapaz de refletir sobre os seus atos ou de fugir à burocracia, cumprindo metas e agindo de acordo com a lei vigente na Alemanha, o que demonstra até que ponto o regime nazi levou à banalidade do mal.
É a partir destas questões que Hannah Arendt explora as implicações do julgamento de Adolf Eichmann e se depara com a confluência entre a capacidade destrutiva e a burocratização da vida pública.
Hannah Arendt nasceu em Hannover, em 1906, estudou na universidade de Marburg, onde conheceu Martin Heidegger e, com a subida dos nazis ao poder, tornou-se ativista da causa judaica.
Após a invasão alemã de França, onde vivia com o marido, Heinrich Blücher, foi internada num campo de concentração no Sul do país, mas conseguiu fugir e, no caminho para o exílio nos EUA, permaneceu alguns meses em Lisboa, como refugiada.
Em Nova Iorque publicaria obras como "As origens do totalitarismo", "A condição humana", "Entre o passado e o futuro" e "Sobre a revolução".
O percurso de Hannah Arendt e a sua obra "Eichmann em Jerusalém", em particular, estão na base do documentário "Vida Activa: O Espírito de Hannah Arendt", de Ada Ushpize, e do filme da cineasta alemã Margarethe von Trotta, "Hannah Arendt", ambos já estreados em Portugal.